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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 8. Organizações e Alternativas Organizacionais
AUTOGESTÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA PROPOSTA DE INCLUSÃO SOCIAL EM CURITIBA
Alexandre Reis Rosa 1   (autor)   adm.alexandrereis@bol.com.br
Mirian Palmeira 1, 2   (orientador)   mirianpalmeira@ufpr.br
1. Depto. de Administração Geral e Aplicada, Universidade Federal do Paraná - UFPR
2. Centro de Pesquisa e Pós Graduação em Administração - CEPPAD/UFPR
INTRODUÇÃO:
As últimas décadas do século XX foram marcadas por mudanças significativas no contexto sócio-ambiental. Particularmente no Brasil, estas mudanças se fazem presentes no início dos anos 1990 com a chamada abertura econômica que teve como principal conseqüência a reestruturação produtiva dos diversos setores industriais brasileiros. Paralelo a isso, temos o crescimento das preocupações com o meio ambiente representados pela Agenda 21, documento elaborado no encontro da Rio-92, que levantou uma série de questões, entre elas o desenvolvimento sustentável e suas implicações para o crescimento econômico dos países. Recentemente, pudemos observar os efeitos destas mudanças pelos indicadores econômicos e ambientais, que resultam num aumento do desemprego e nas respostas ambientais que, particularmente no espaço urbano, advém da problemática do lixo. Neste sentido, o presente trabalho procurou explorar a autogestão por catadores de materiais recicláveis na forma de cooperativa, como alternativa organizacional para atenuar as conseqüências descritas anteriormente e ao mesmo tempo promover ações que contemplem os requisitos para a obtenção do desenvolvimento sustentável e, por meio de políticas públicas municipais, a inclusão social nos grandes centros urbanos.
METODOLOGIA:
Os aspectos metodológicos da pesquisa foram desenvolvidos em três etapas: inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico para construção de um referencial teórico. Por meio da análise de livros, trabalhos acadêmicos e artigos, foram selecionadas publicações sobre a autogestão e suas representações organizacionais; sobre o desenvolvimento sustentável e suas dimensões analíticas e; por último, sobre o conceito de exclusão social, entendido aqui como motivador do movimento inverso: a inclusão social. Após estabelecidos os parâmetros teóricos, a segunda etapa caracterizou-se pela coleta de dados empíricos por meio de entrevistas e documentos relativos a atividade de reciclagem e à rotina dos catadores vinculados ou não a cooperativas. Esta etapa buscou compreender o funcionamento dessas atividades analisando-as sob o ponto de vista social, político, econômico e ambiental, mapeando suas principais demandas para, na última etapa, explorar suas possibilidades. Com isso, realizou-se um estudo comparativo envolvendo três capitais brasileiras: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba. Escolhidas, em virtude das experiências na implementação de políticas públicas para inclusão social através de cooperativas de catadores de recicláveis que, por sua vez, apresentam-se como uma forma de organização autogestionária que combina o social na dimensão associativa, o econômico na dimensão empresarial e, tratando-se da atividade de reciclagem, o ecológico na dimensão sustentável.
RESULTADOS:
Constatou-se três tipos de apoio institucional originados nas cidades analisadas: em Belo Horizonte, a prefeitura firmou acordo com uma entidade já existente, denominada Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis (ASMARE), no sentido de inseri-la como agente prioritária no sistema de coleta seletiva, reconhecendo os catadores como categoria profissional junto a problemática ambiental causada pelo lixo urbano. Seguindo esta linha, o Rio de Janeiro, por intermédio da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) e diversas ONGs, apoiaram a criação de cooperativas com o objetivo não só de legitimar o trabalho dos catadores, mas principalmente otimizar o sistema de coleta seletiva da cidade. Ambas as cidades, mesmo apresentando baixos índices de reciclagem perante a média nacional (1%), obtiveram sucesso nestes programas não só do ponto de vista ambiental, mas sobretudo social, proporcionando uma alternativa economicamente viável para o desemprego. Já em Curitiba, pioneira na coleta seletiva e possuidora do melhor índice de reciclagem brasileiro (13%), as políticas públicas voltadas aos catadores tiveram efeitos paliativos, conforme o programa Carrienheiro Cidadão executado em 1994 pela Fundação de Ação Social (FAS) que limitou-se a distribuir uniformes e carrinhos, mas não desenvolveu uma organização que, a exemplo dos municípios citados, legitimasse os catadores como agentes prioritários no sistema de coleta seletiva.
CONCLUSÕES:
Com base nas experiências bem sucedidas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, concluímos que a implantação de cooperativas de recicláveis tem se mostrado uma alternativa organizacional viável, tanto do ponto de vista ambiental, como econômico. Contudo, a realidade social de Curitiba não contempla tais efeitos, conforme constatado na pesquisa. Neste sentido, a proposta deste trabalho foi motivar os dirigentes municipais a desenvolverem, por meio da Secretaria Municipal de Limpeza Pública, uma parceria com a ONG paulistana de consultoria a órgãos governamentais na área de reciclagem denominada Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE) para, nos moldes da experiência carioca, desenvolver junto à comunidade Vila das Torres (comunidade carente situada na região central com maior contigente de catadores informais) um projeto piloto de implementação de uma cooperativa desta natureza. As justificativas da escolha desta comunidade residem em três questões: i) a consciência ecológica do cidadão de Curitiba; ii) o potencial de mercado para produtos recicláveis e; iii) a posição geográfica da comunidade próxima aos grandes produtores de lixo urbano. Ressalta-se ainda que, o sucesso da iniciativa está diretamente ligado ao monitoramento da prefeitura, objetivando consolidar o empreendimento reconhecendo-o como parceiro legítimo do sistema de coleta seletiva na capital paranaense.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Autogestão; Desenvolvimento Sustentável; Inclusão Social.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004