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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
UM MUNDO ÀS AVESSAS: UM ESTUDO DA LINGUAGEM DO RITUAL DA RODA DE CAPOEIRA
Lucimar Medeiros de Faria 1   (autor)   lucimarmf@superig.com.br
1. Depto. de Letras e Lingüística do Campus de Guajará-Mirim, Fundaçao Universidade de Rondônia- UNIR
INTRODUÇÃO:
Nascido na situação-limite de dominação, O jogo de capoeira pode ser visto como um ritual de libertação psicológica do negro escravo e que constitui, ainda hoje, numa realidade paralela vivida pelo dominado ou despossuído em geral. As cantigas, ritos, nomes de golpes e outros aspectos do jogo da capoeira, podem ser vistos como uma construção de um mundo esquizofrênico, no sentido de negação da equizofrenia da Sociedade escravista. Sob uma perspectiva semântico-pragmática, procurei analisar a linguagem contida em alguns aspectos deste jogo, que o eleva à categoria de ritual. Entre eles, a formaçao da roda.
METODOLOGIA:
Nesta pesquisa, fiz um estudo semântico-pragmático de alguns ritos, cantigas, movimentos, nomes de golpes e toques de berimbau, que integram o jogo da capoeira, e que procuram valorizar o sagrado do mundo cristão, ao mesmo tempo em que negam a moral cristã, através da inversão de valores dentro da roda. Com base na concepção bakhtiniana de linguagem, na lógica de Frege e nos estudos de Epstein e Ferrarezi, procurei mostrar que o jogo de capoeira é um vasto campo para investigações lingüísticas.
RESULTADOS:
Os textos das músicas, bem como os demais elementos analisados nesta pesquisa, evidenciam a criação de um mundo onde as ambigüidades fundamentam a re-energização do oprimido para o enfrentar do mundo real. Ou seja: ao criar um mundo onde se entra de costas e cabeça para baixo, onde se contrapõe o sagrado - legitimador da escravidão - à negação da moral cristã, onde o subjugado tem sua chance de participar de um jogo menos desigual e resgatar sua dignidade perdida no processo de dominação, onde movimentos nomes, e ações em geral têm um sentido específico, em um contexto específico que se especializa num cenário específico, o capoeira vive um momento de esquizofrenia, no sentido de construção de uma realidade paralela que amenize o processo de enfrentamento da realidade mantendo sua sanidade psicológica.
CONCLUSÕES:
Enquanto resposta equivoca - própria dos códigos fracos (Epstein 1993) ao poder unívoco do dominador, a dualidade do ritual da capoeira, ao mesmo tempo revela e constrói um mundo paralelo, esquizofrênico. A perda da cultura que gerou o ritual do jogo, através do avanço mercantil da capoeira e da adesão de praticantes de outras culturas, reduz o ritual ao nível de jogo, porém, o jogo recupera suas características rituais através das letras das músicas, que funcionam como um espaço de reconstrução de sentidos, na tentativa de explicitar a cultura, antes implícita no ritual, que desempenhou um papel de grande importância no processo de conquista da liberdade do escravizado brasileiro, - principalmente a liberdade psicológica, muito anterior á liberdade física.
Instituição de fomento: CAPS
Palavras-chave:  linguagem; Roda de capoeira; Ritual.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004