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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
AS VARIEDADES LINGÜÍSTICAS NOS LIVROS DIDÁTICOS
ANA CRISTINA BARBOSA DA SILVA 1   (autor)   kristtinna@bol.com.br
1. PREFEITURA DA CIDADE DO RECIFE
INTRODUÇÃO:
Muitas pesquisas vêm sendo feitas sobre os livros didáticos de português (LDP) com o intuito de verificar se tais materiais estão acompanhando os estudos científicos realizados pelos lingüistas. Porém, têm-se constatado que ainda está muito longe de acontecer uma renovação significativa, pois, os LDP apresentam teorias insuficientes de dar conta dos fenômenos da língua. Dessa maneira, analisamos se as variedades lingüísticas são tomadas como constituintes das duas modalidades da língua: fala e escrita ou se ambas aparecem numa visão dicotômica, onde uma é abordada como o lugar da diversidade lingüística e a outra, palco da homogeneidade, contribuindo, portanto, para a supremacia de uma modalidade sobre a outra. Tal verificação proporcionará aos professores da área um melhor conhecimento do assunto abordado e uma visão crítica sobre o material, a fim de levá-los a uma investigação mais profunda para subsidiá-los no trato sobre o fenômeno lingüístico mencionado.
METODOLOGIA:
Para a pesquisa, foram analisados os textos dos LDP, os enunciados das atividades e as orientações dadas aos professores, considerando, no entanto, as questões relacionadas à língua oral e à escrita no que se referem à linguagem formal e informal e/ou culta, popular e coloquial. Os LDP tomados para análise foram: FARACO & MOURA. Linguagem nova . Vol. 5, 6, 7, 8. São Paulo: Ática, 2001; SOARES, Magda. Português através de textos . Vol. 5, 6, 7, 8 São Paulo: Moderna, 1990. A escolha por estas coleções se deu, no que se refere à primeira coleção, por ser uma das coleções enviadas às escolas públicas estaduais para que os professores do ensino fundamental pudessem escolher a coleção que seria utilizada na instituição de ensino nos anos seguintes, ou seja, em 2002 e 2003. Outro critério considerado foi que tais materiais foram aprovados pelo MEC pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). A segunda coleção, citada acima, fez parte da pesquisa por ter sido também aprovada pelo PNLD 9899 e utilizada, em 2002, em algumas escolas privadas mesmo tendo sido recolhida das editoras e suspensa a sua comercialização.
RESULTADOS:
Verificamos, na pesquisa, que os LDP analisados tratam as variedades lingüísticas como inerente apenas à língua falada, não podendo ocorrer, portanto, na escrita, onde se manifesta a linguagem mais formal, o padrão estabelecido, o que proporciona uma visão monolítica e uniformizada da escrita. Quando aparece um texto que apresenta um desvio da norma estabelecida para essa modalidade da língua, tal ocorrência é vista como uma produção transcrita de um texto oral, podendo, portanto, haver certas construções lingüísticas. Cabe apenas à oralidade a linguagem menos formal e/ou informal. A oralidade é o palco da diversidade e da transgressão lingüísticas. Nesta perspectiva, cultiva-se uma visão de que a fala é variada, concreta, contextual e estruturalmente simples, enquanto que a escrita é vista como formal, complexa, abstrata e estruturalmente elaborada. Assim, podemos afirmar que há uma tendência em acreditar que a língua escrita apresenta características primordialmente formais e a língua falada traços informais, uma visão dicotômica da língua. Os materiais também apresentaram confusão conceitual e insuficiência explicativa no que seria linguagem coloquial, formal e informal, coloquial informal, culta e popular, termos que apareceram nas atividades proporcionadas.
CONCLUSÕES:
A partir das análises, verificamos que os LDP abordam fala e escrita numa visão dicotômica, pois é concebida à fala a informalidade e à escrita o caráter formal e homogêneo da língua, portanto, invariável, o lugar da utilização da norma padrão, exercendo, no entanto, um papel mais importante nas sociedades. À outra modalidade da língua é conferido o caráter heterogêneo, conseqüentemente, é a modalidade que se utiliza das variedades não-padrão, onde predominam as situações informais. Por isso, os textos escritos dos LDP que trazem marcas de informalidades, são vistos, imediatamente, como sendo um texto transcrito da oralidade, justificando, assim, a utilização de uma linguagem “tipicamente oral”. Nesta perspectiva, há uma supervalorização da escrita em detrimento da fala. Contudo, isso não se trata de critério intrínseco nem de parâmetros lingüísticos, mas de postura ideológica. Porém, esta visão pode ser modificada a partir do momento em que tais materiais didáticos abordarem a língua sob outra perspectiva, o que acarretará, conseqüentemente, uma nova visão de ensino de língua que passará a privilegiar o texto como unidade de estudo da língua. Como conseqüência também, a oralidade e a escrita passarão a ser vistas sob um outro prisma, não havendo, portanto, supremacia de uma sobre a outra.
Palavras-chave:  variedades lingüísticas; oralidade e escrita; livro didático.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004