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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
MULHERES POBRES E VIOLÊNCIA NO CONTEXTO DA ORDEM BURGUESA
Nêmora Matos Carvalho Procópio 1   (autor)   nemorajoplin@bol.com.br
Adriano Antunes Damasceno 1   (colaborador)   adriantunes@zipmail.com.br
1. Depto. de Filosofia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho, discute-se sobre as formas de manifestação da violência física nas relações de gênero, que atingiam as mulheres das camadas pobres da sociedade brasileira do final do século XIX até meados do século XX. Buscamos compreender como a consolidação da ordem social burguesa instalada nesta sociedade, pôde legitimar o uso da violência física dos homens sobre as mulheres no contexto das parcerias conjugais e concubinatos, principalmente nas camadas pobres.
METODOLOGIA:
(Na primeira etapa do trabalho, selecionamos bibliografia que aborda o assunto, realizamos análises de documentários, filmes e de textos debatidos em grupo de estudo de gênero. Após a sistematização desse material, dedicamos tempo à compreensão de trabalhos que já focalizam esse tema, como as obras "Condição feminina e formas de violência: mulheres pobres e ordem urbana 1890-1920" de Rachel Sohiet; "O amor romântico e a família burguesa", de Maria Ângela D'Incao; "A mulher na sociedade de classe: mito e realidade", de Jurandir Freire Costa e Heleieth Saffioti.
RESULTADOS:
A instituição dos padrões das relações de gênero da ordem burguesa, que se configurava em uma hierarquia, na qual os homens tinham papel social preponderante e eram designados para a atuação pública, enquanto às mulheres cabia um papel social limitado à esfera privada, tinha como conseqüência maior a asserção do homem enquanto chefe de família, autoridade pater , à qual todos os demais membros da família ou parceria de conjugalidade deveriam se submeter. A importância de padrões de comportamento, com relação às classes médias e altas, dizia respeito à manutenção da ordem burguesa, através da constituição da família nuclear, sendo o casamento um importante instrumento de pacto econômico e político, no qual se procurava manter a divisão sexual do trabalho. Pesava então sobre a mulher uma série de imposições sociais restritivas, o que justificava a dominação masculina. A agressão física às mulheres, em especial às mulheres pobres, se caracterizava por um "consenso social" que se escorava na legitimidade da ordem burguesa fundamentada num saber científico que naturalizava a desigualdade entre homens e mulheres. As mulheres pobres, em sua grande maioria, se constituíam como chefes de família, um fato que contribuía bastante para que incidisse sobre elas a violência de seus companheiros, os quais, sentindo-se inferiorizados por não ocuparem a função de provedor, como o padrão burguês determinava, canalizavam suas tensões através da violência física.
CONCLUSÕES:
Os estudos demonstram que, no século XIX, a consolidação de uma ordem social de modelo burguês na sociedade brasileira impôs novos padrões de comportamento para as relações de gênero, que se difundiram como modelos ideais para todas as classes sociais. Esses padrões configuravam-se essenciais para a reafirmação da ordem e do modelo de produção capitalista. Para isso, há a produção de todo um saber científico, instituído em aparelhos médico, jurídico, religioso, pedagógico, legitimadores de concepções naturalistas que justificavam as distinções construídas sobre os papéis dos homens e das mulheres, nas esferas pública e privada, via pela qual as desigualdades eram transformadas em injustiças das quais as mulheres pobres eram as maiores vítimas. Podemos concluir que a violência sobre as mulheres pobres tinha como uma de suas principais causas o fato de que o homem das classes populares nem sempre ocupava a posição de provedor de sua família, como prescrevia o padrão burguês das relações de gênero.
Instituição de fomento: UFMA
Palavras-chave:  Ordem Burguesa; Relações de Gênero; Violência.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004