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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE O SUICÍDIO EM TOLEDO/PR (1954-2002).
keila Rodrigues de Souza 1   (autor)   keila.rs@bol.com.br
Yonissa Marmitt Wadi 2   (autor)   yonissa@unioeste.br
1. Graduanda, Curso de Ciências Sociais, Centro de Ciências Humanas e Sociais – UNIOESTE.
2. Profa. Dra. do Centro de Ciências Humanas e Sociais – UNIOESTE.
INTRODUÇÃO:
O suicídio é um fenômeno bastante antigo e revelador, porém pouco estudado, mas que ao ser analisado por uma vertente social, possibilita uma leitura de acontecimentos e situações referentes a vida em sociedade e comunidades específicas. Fatores que podem ser responsáveis por variações no número de mortes por suicídio. Neste sentido, busca-se neste trabalho conhecer o específico, analisando o fenômeno social do suicídio a partir da cidade de Toledo/PR desde a data da fundação da comarca de Toledo, 1954, até o ano de 2002. Cidade esta situada em uma região que num espaço de cinco décadas passou por um grande crescimento, tanto populacional quanto econômico, deslocando assim o eixo de relações e representações sociais preexistentes e imprimindo novas relações de forças regionais. Desta forma, à luz da análise de Émille Durkheim em “O Suicídio” uma obra capital, estudo precursor ainda hoje importante, pois fundamenta não apenas a discussão sociológica sobre o fenômeno do suicídio, mas também demostra a importância de trabalhos empíricos para uma melhor compreensão da realidade do fenômeno social, o presente trabalho traz o levantamento de todos os casos de suicídio registrados na cidade de Toledo, bem como uma leitura das informações mais expressivas verificadas no estudo.
METODOLOGIA:
Estudo que buscou contextualizar o tema do suicídio enquanto discussão acadêmica e apontar para as suas motivações sociais que levam um indivíduo a cometer tal ato, a pesquisa apresenta o suicídio enquanto fenômeno universal além de trazer uma revisão da literatura sobre o tema destacando as principais contribuições vindas de campos diferentes do conhecimento, com a psicologia ou a psiquiatria, dando principal destaque às contribuições sociológicas. Amparado por uma estatística simples construída a partir de dados referentes aos óbitos por suicídio na cidade de Toledo, a pesquisa foi realizada através de análise de Inquéritos Policiais que se encontram atualmente sob a guarda do Núcleo de Documentação e Informação e Pesquisa da UNIOESTE/ Campus de Toledo e também do Fórum da cidade referente aos anos de 1954 a 1993, bem como a verificação de laudos de 1994 a 2002 no Instituto Médico Legal de Toledo, que conta com informações de qualquer espécie somente após meados de 1993 devido um incêndio havido no local. Por meio deste rico material que abrange os anos de 1954 a 2002, construiu-se séries que possibilitaram levantar algumas discussões sobre possíveis fatores sociais que podem influenciar direta ou indiretamente no aumento de casos por este tipo de morte neste município, analisando principalmente através das postulações de Durkheim, os resultados encontrados. Foram analisadas variáreis como sexo, idade, profissão, estado civil e método.
RESULTADOS:
Na leitura dos resultados as variáveis que se mostraram mais significativas apontaram o perfil que caracteriza o suicida numa mesma cidade, mas em períodos distintos, três momentos: a cidade totalmente rural, a cidade em processo de urbanização e finalmente a cidade urbanizada. O estudo apresentou a trajetória do crescimento populacional, do ingresso de muitos pequenos proprietários rurais no meio urbano, ingressando em empresas, enfim a ressocialização da família rural no espaço urbano. Fatores que acredita-se terem contribuído para o aumento de suicídios em alguns momentos históricos. Em todos os anos do estudo houve predomínio de suicídios entre casados de ambos os sexos, bem como no método utilizado, o enforcamento. As taxas de auto-violência foram sempre superiores entre os homens, porém as idades variaram de acordo com a época. Em 1954-1979 as maiores taxas foram observadas nos adultos de 19 a 30 anos, em 1980-1993 foram os adultos de 46 a 60 anos que mais cometeram suicídio e em 1994-2002 foram os adultos de 31 a 45 anos. Quanto a profissão, no primeiro período o predomínio foi de agricultores, sendo que nos dois períodos seguintes as taxas entre agricultores e operários se mantiveram bastante semelhantes com um pequeno aumento de operários no terceiro momento. Outro dado interessante foi à constatação de maiores índices de suicídios nos meses de março e abril.
CONCLUSÕES:
Ao finalizar o trabalho, percebeu-se que apesar dos limites que o estudo desta temática apresenta, a dificuldade na obtenção dos dados sobre os sujeitos e a precariedade de informações contidas nos inquéritos policiais e nos laudos do IML e até alguns óbitos registrados como acidente, é possível fazer uma análise sondando fatores sociais que podem trazer indicativos importantes na compreensão deste fenômeno cada vez mais freqüente nos dias atuais. Constatou-se que mesmo havendo um grande aumento da população urbana na cidade de Toledo, sendo predominante desde a década de 80, as raízes com o campo ainda são bastante visíveis, fato que parece se comprovar ao analisar a movimentação econômica no campo nos meses de março e abril, meses em que ocorrem as colheitas da safra da soja. Embora tenha aumentado o número de casos de suicídio no meio urbano, ainda foi muito freqüente o número de mortes por suicídio no campo. As taxas nos últimos nove anos estudados (1994-2002) apontaram para 71 mortes por suicídio na cidade de Toledo, ou seja, 31,4% a mais de casos de suicídio do que os registrados de 1954 a 1993. Demonstrando a grande complexidade da vida moderna, das dificuldades que podem levar um indivíduo a cometer um crime contra a própria vida, numa região que a tecnologia e a modernização são cada vez maiores, principalmente na agroindústria que é o que melhor caracteriza a região Oeste do Paraná nos dias de hoje.
Palavras-chave:  SUICÍDIO; TOLEDO; TRANSFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÕMICAS.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004