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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental
Construindo a sustentabilidade: A educação ambiental nos assentamentos de Reforma Agrária
Lucas Ramalho Maciel 1   (autor)   lucasramalho@hotmail.com
Diogo Gomes de Araújo 1   (autor)   diogoagro@pop.com.br
Fernanda Litvin Villas Bôas 2   (autor)   genivb@hotmail.com
Camila Dutervil 3   (autor)   c.dutervil@zipmail.com.br
Leila Chalub Martins 4   (orientador)   chalub@unb.br
1. Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília - UnB
2. Instituto de Geografia, Universidade de Brasília - UnB
3. Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília - UnB
4. Faculdade de Educação, Universidade de Brasília - UnB
INTRODUÇÃO:
As comunidades rurais dos assentamentos de Reforma Agrária, de maneira geral, enfrentam a dificuldade de organização para o trabalho coletivo; oferta reduzida de assistência técnica; dificuldades em escoar a produção, bem como a escassez de atividades geradoras de emprego e renda. Constata-se também o fato de as propriedades rurais desapropriadas para este fim encontrarem-se em condições desfavoráveis, constituindo-se basicamente de pastagens, extensas áreas de monoculturas abandonadas e de vegetação nativa degradadas. Esta realidade não é diferente para os assentamentos Colônia I e Cunha, localizados no entorno do Distrito Federal, alvos da presente pesquisa. Diante deste contexto, foi elaborado o projeto "Construindo a Sustentabilidade: a Educação Ambiental nos Assentamentos de Reforma Agrária". Este estudo centra-se na concepção de que o desenvolvimento sustentável somente pode ser alcançado se estiver voltado de forma equilibrada para três dimensões fundamentais: econômica, ambiental e sócio-cultural. Os assentamentos escolhidos como estudo de caso apresentam características comuns, como por exemplo, a proximidade com centros urbanos, a presença constante de agentes externos e diferentes projetos em curso. Os objetivos da pesquisa foram: analisar e contribuir com as iniciativas e peculiaridades existentes em cada assentamento, permitindo aos trabalhadores rurais incorporarem os princípios da sustentabilidade na sua relação com o ambiente e a produção.
METODOLOGIA:
A metodologia adotada pela presente pesquisa baseou-se em uma vertente crítica e libertadora, inspirada em Paulo Freire, uma vez que as comunidades assumiriam papéis de sujeito ao longo do processo, integradas na construção coletiva de conhecimentos que, de fato, relevassem as peculiaridades do contexto ambiental e sócio-cultural no qual estão inseridas. A metodologia também estruturou-se a partir dos princípios da pesquisa-ação, centrados na perspectiva de transformação da realidade, resultante do processo simultâneo de construção de conhecimentos e materialização das ações. Desta forma, procurou-se interagir o exercício constante da ação e reflexão durante a realização do projeto, resgatando a idéia da "espiral" proposta por Barbier. A multidisciplinaridade do grupo de estudantes universitários envolvidos, dialogando com o saber popular, permitiu a compreensão da complexidade do cotidiano dessas comunidades. O registro da trajetória de vida das famílias, a partir de entrevistas gravadas ou filmadas, foi utilizado como recurso que permitiu reconstruir o histórico de ambos assentamentos. Os passos metodológicos foram: identificação dos atores sociais envolvidos; capacitação em educação ambiental; definição dos objetivos pretendidos; planejamento para implementação das ações; acompanhamento e posterior avaliação.
RESULTADOS:
A materialização das ações nos assentamentos, como a implantação do viveiro florestal e da horta orgânica no assentamento Colônia I, assumiu desde o início o caráter participativo junto aos membros da comunidade e resultou no incremento da renda familiar, enriquecimento alimentar, atividades de capacitação, aumento da auto-estima, maior participação de jovens e mulheres, fortalecimento da associação e constituição de grupos coletivos. Tais resultados influenciaram na intenção das famílias envolvidas de permanecerem no assentamento e o estabelecimento de uma nova identidade territorial motivou a comunidade para a execução de ações de recuperação e conservação do Cerrado, como a produção e plantio de mudas nativas em áreas degradadas e a adequação do estatuto da associação para a participação do assentamento na gestão da APA do Descoberto. No caso do assentamento Cunha, a inserção do grupo de pesquisa foi posterior a materialização das ações. O estudo registrou a trajetória das famílias que trabalham no grupo Coletivo Carajás e identificou os sujeitos envolvidos. Foram também pesquisados os processos educativos em curso, bem como a causa de evasão dos mesmos. As entrevistas gravadas com os membros da comunidade, com o propósito de registrar e também avaliar o impacto do projeto, nos permite afirmar que as comunidades sentem-se autoras das transformações desencadeadas no seu cotidiano, enquanto legítimas interessadas no processo.
CONCLUSÕES:
Os resultados apresentados tendem a comprovar a hipótese de que a comunidade, ao adquirir condições dignas de permanência no local, determinando maior identidade territorial, assimila naturalmente o uso de práticas sustentáveis no seu cotidiano. Conclui-se também que a facilidade de escoar a produção, aliada com a capacidade organizativa e o diálogo constante com agentes externos são fatores decisivos no avanço em direção à sustentabilidade. Compreende-se que outras variáveis externas também contribuíram, incluindo o próprio amadurecimento comunitário ao longo do tempo. Vale ressaltar que esta pesquisa é vista apenas como uma ação potencializadora diante da complexidade que o desafio da sustentabilidade representa. Esta experiência nos mostra que a Universidade tem muito a contribuir e a cooperar com os movimentos sociais, ao assumir a postura de diálogo entre o conhecimento científico e o saber popular. A presente pesquisa ainda nos permitiu compreender a educação como um instrumento preponderante na busca da sustentabilidade e como um elemento fundamental no processo de formação de sujeitos que possam atuar no meio ambiente dentro do princípio da responsabilidade pela própria existência e que possam buscar alternativas eficazes e locais para a solução dos problemas. Portanto, as ações de educação ambiental devem ser, impreterivelmente, discutidas à luz do contexto sócio-econômico de determinada comunidade.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação Ambiental; Sustentabilidade; Reforma Agrária.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004