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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
MEMÓRIAS DE INFÂNCIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX
Lilian Rose Margotto 1   (orientador)   lilianmargotto@terra.com.br
Vivian Gomes Vieira 1   (autor)   vigoviapsi@hotmail.com
Myrian Santiago da Silva 1   (autor)   
Doroteia Carlini Zorzal 1   (autor)   
André Ricardo Kuster Cid 1   (autor)   
Cristina Broseguini de Moraes 1   (autor)   
1. Depto de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo
INTRODUÇÃO:
O propósito desta pesquisa é analisar as vivências sobre infância e relações familiares de homens e mulheres que tinham até sete anos na década de 1950. Mais especificamente, trata-se de conhecer a noção de infância, a divisão de tarefas domésticas, o papel do pai, da mãe e a configuração do grupo familiar nesse período.
O período definido para essa pesquisa foi em função das alterações nos costumes ocorridas a partir da década de 1960. Pois, o interesse era conhecer justamente o modo como as famílias do meio rural e urbano (uma das categorias de análise) se organizavam e viviam o seu cotidiano antes dessas alterações ocasionadas pelo advento da pílula contraceptiva, da entrada das mulheres no mercado de trabalho como uma forma de satisfação pessoal e igualdade entre os sexos e outras transformações que são apropriações e desdobramentos do movimento hippie. O interesse aqui é buscar informações que escapam do registro escrito e dos estudos demográficos que apresentam dados quantitativos abundantes mas que pouco mostram do que permanece desse cotidiano para as pessoas.
METODOLOGIA:
Com o intuito de dar voz a essas experiências, utilizou-se o relato oral de dez homens e dez mulheres com idade acima de sessenta anos. Os relatos foram coletados a partir de entrevistas semi-estruturadas orientadas por um roteiro de questões acerca do cotidiano infantil, também foi feita uma Ficha do Informante na qual constam os seguintes dados: Nome, data de nascimento, local de nascimento e onde morou durante o período contemplado pela pesquisa, profissão dos pais e do entrevistado. O relato oral é uma técnica útil para registrar o que ainda não está conservado em documentação escrita, possibilita o acesso às memórias dos sujeitos, que desapareceriam se não fossem anotadas. A lembrança é fruto de um processo coletivo e está sempre inserida em um contexto social preciso, onde há um intenso trabalho de reconhecimento e reconstrução que atualiza os quadros sociais, ou seja, não se trata de uma busca da verdade, mas de afetos e experimentações captados em cada fala, da forma como cada um viveu sua infância. Entretanto, apesar de coletarmos relatos pessoais, estes não são individualizados visto que as lembranças dos indivíduos são sempre construídas a partir de sua relação de pertença a um grupo, a memória individual então, pode ser entendida como uma articulação de diferentes vozes coletivas posta em cena pelo narrador.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos levaram à seleção de algumas categorias de análise relacionadas a: aspectos da organização familiar presentes no meio urbano e no meio rural, formas de controle sobre o comportamento infantil, figuras de autoridade, concepções e divisão de tarefas em relação ao trabalho infantil, noção de infância- o que caracteriza a entrada no mundo adulto, atividades remuneradas para a manutenção do lar, atividades lúdicas, relação criança/criança e criança/adulto.
CONCLUSÕES:
Foram observados os seguintes aspectos: comparativamente, as famílias do meio urbano possuíam uma rede de contatos familiares cotidianos menos extensa que aquelas do meio rural, que se traduzia em uma gama de aspectos diferenciados em relação ao cuidado com as crianças e na interação entre estas e os adultos próximos que atuavam como figuras de autoridade. Ou seja, a organização familiar urbana estava mais próxima do modelo de família nuclear composta apenas por pais e filhos. Em relação a divisão de tarefas domésticas, observou-se que os afazeres do lar ficavam sob exclusiva responsabilidade das mulheres, independente da idade. Pois, tanto as meninas quanto suas mães, dividiam os encargos. Em suma, os resultados obtidos apontam para a existência de um conjunto de relações familiares plurais que ainda escapam às tentativas de nomear, resumir e classificar inevitavelmente empreendidas pelos pesquisadores.
Palavras-chave:  Infância; Memória; Relações familiares..

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004