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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
VIVENDO DO LIXO: OS CATADORES DE GOIÂNIA
Magda Beatriz de Almeida Matteucci 1   (autor)   mbeatriz@agro.ufg.br
Renato Pinto da Silva Júnior 1   (colaborador)   rpinto@agro.ufg.br
Fábio Luís Teles 2   (colaborador)   fabioteles_agro@hotmail.com
1. Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás
2. Terra Verde Agroambiental
INTRODUÇÃO:
Em um inventário do lixo de qualquer uma de nossas cidades é comum encontrar, em diferentes proporções, papelão, papel, trapos, plásticos mole e duro, metais, vidros, latas, pedras, material orgânico entre outros. Joga-se fora muito do que poderia ser reaproveitado ou o que modernamente é denominado reciclável. A reciclagem ou reaproveitamento de materiais é sob o aspecto ecológico enormemente vantajoso, pois reduz a poluição do solo, do ar, da água, além de contribuir para a formação de consciência ecológica na população. Sob o aspecto sanitário reduz a quantidade de lixo levada ao aterro, prolongando sua vida útil. Do ponto de vista econômico, diminui a exploração de recursos naturais , reduz o consumo de energia e gera emprego e renda pela comercialização dos recicláveis. Os denominados catadores de lixo contribuem para o meio ambiente ao retirarem das ruas o que se tornaria lixo, bem como minimizando e desacelerando a exploração de recursos naturais. Inconscientemente estes trabalhadores desqualificados prestam um relevante serviço a sociedade, desempenhando um significativo papel no equilíbrio ambiental.
A pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de se traçar o perfil sócio/econômico de pessoas envolvidas na atividade de coleta expontânea de lixo em Goiânia, denominados catadores de lixo.
METODOLOGIA:
Foram entrevistados 209 catadores de lixo de Goiânia-Go, através de questionários que possibilitaram obter informações como: dados pessoais (nome, idade e endereço dos catadores, número de filhos e nível de escolaridade), as maiores dificuldades no exercício da atividade, os produtos e volumes diários coletados, o número de horas/dias trabalhadas, a participação da atividade na renda familiar, o tempo de exercício desta "profissão", o motivo pelo qual optou por esta atividade, o número de compradores do produto coletado, o grau de satisfação com a atividade, a pretensão de continuar a exerce-la ou que seus filhos o faça e sobre a existência de uma associação ou sindicato de coletores.
Os questionários foram tabulados e analisados através de análise tabular simples e análise percentual simples.
RESULTADOS:
De acordo como os dados, o principal material coletado é o papel. Os catadores possuem mais de 35 anos, (47,8% dos entrevistados) e 64% declararam desenvolver a atividade a menos de cinco anos. Dos entrevistados 27,6 são analfabetos e 47,7% possuem o primeiro ano do primeiro grau, o que contabiliza um percentual de 75,3% dos catadores com nenhum ou pouco estudo formal. Dos entrevistados 71,6% trabalham mais de 8 horas diárias e consideram como dificuldades da atividade (um quesito que permitia mais que uma resposta) o desgaste físico (61,25%) e o trânsito (49,76%). A maioria não gosta do trabalho (52,4%), mas o faz como única opção (59,1%) ou para não ficar desempregado (48,33%), podendo assim garantir uma renda para sua família. Dos entrevistados 60,3% têm na atividade de coleta de lixo uma participação de 70 a 100% da renda familiar.
Tendo em vista a pouca escolaridade e instrução destes, o percentual de filhos não se configura como planejamento familiar, mas a maioria dos catadores possui entre 2 a 4 filhos (34,4%) e não deseja ao filho a mesma profissão (94,7%).
O rendimento médio é de 100-250kg de material coletado por dia, o que alcança a cifra média mensal de 2.000 a 5.000kg de lixo retirado por um catador em Goiânia. Um outro dado obtido remete a conclusão da existência de um poder de monopsônio, pois 83,7% dos entrevistados declaram haver apenas (1) um comprador para os seus produtos.
Não existe uma cooperativa ou sindicato de classe para esse tipo de atividade.
CONCLUSÕES:
A pesquisa ratifica o que a observação empírica evidencia: os catadores de lixo compõem a faixa dos excluídos. Todavia seu trabalho cotidiano e sem aparente valor social contribui para a manutenção da qualidade de vida no planeta, quando impede que considerável volume de recursos naturais se converta em lixo.
Palavras-chave:  Lixo; Catador de lixo; reciclagem.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004