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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
MOVIMENTO PRÓ-PARQUE LAGOA DE ITAPERAOBA: ANALISANDO AS ARTICULAÇÕES SOBRE A LUTA POR JUSTIÇA AMBIENTAL
ANA MARIA FERREIRA CARDOSO 1   (autor)   chananaflor@hotmail.com
KELMA SOCORRO LOPES DE MATOS 2   (orientador)   kelmatos@uol.com.br
1. COORDENAÇÃO DE SERVIÇO SOCIAL, UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE
2. FACULDADE DE EDUCAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
INTRODUÇÃO:
Os movimentos de bairros evidenciaram-se no cenário das lutas sociais nacionais nas décadas de 60 e 70 e objetivavam a garantia de infra-estrutura básica nas cidades. O bairro constituiu-se num espaço de resistência e fortalecimento das reivindicações populares urbanas em articulação com outros movimentos sociais. Neste cenário de emergência de novos sujeitos, os movimentos ecológicos ganharam força, alguns numa perspectiva de modernização conservadora, outros assumindo uma postura crítica. Posteriormente, uma discussão que atrela degradação ambiental a processos de injustiça social ganhou maior destaque, impulsionada pelo movimento por justiça ambiental, que busca o tratamento justo das questões ambientais, a partir da percepção de que, historicamente, foram os trabalhadores que suportaram uma carga maior das conseqüências negativas do desenvolvimento na modernidade. O conceito de justiça ambiental engloba a compreensão de que a degradação ambiental é um dos produtos intrínsecos ao modo de produção capitalista que tem a expansão do capital por fim último, numa lógica eminentemente destrutiva. Em decorrência da percepção desta inter-relação entre dimensões ambientais e sócio-econômicas e da crescente interação entre lutas diversas, analisamos neste trabalho a articulação realizada pelos sujeitos que participam ativamente do Movimento Pró-parque Lagoa de Itaperaoba, bairro Serrinha, entre as questões imediatas de sua luta e um movimento mais amplo por justiça ambiental.
METODOLOGIA:
Inicialmente, realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre movimentos sociais e, documental sobre o bairro da Serrinha e o Movimento Pró-parque Lagoa de Itaperaoba. Foi após a realização de uma investigação exploratória que se despertou para um enfoque sobre a questão ambiental, quando buscamos fundamentação teórica sobre esta temática. Optamos pela pesquisa participante, através das reuniões do Movimento e em eventos culturais do bairro, realizando-se uma observação sistemática. Considerando-se o universo de nove associações comunitárias e alguns movimentos culturais do bairro que participam do movimento, foram realizadas entrevistas semidirigidas com representantes de cinco destas entidades, tendo por critério de seleção a atuação mais efetiva destas entidades. Para melhor compreensão da dinâmica deste movimento fizemos um resgate de sua história a partir dos dados coletados em documentos e em relatos das lideranças.
RESULTADOS:
Percebemos que a luta pela urbanização da referida lagoa está estruturada em torno de três linhas centrais, que são estruturação física de seu entorno, criação de estratégias de geração de renda e preservação ambiental. Na compreensão das lideranças, um projeto que contemple estes aspectos possibilitará a ocorrência de um desenvolvimento sustentável, diferente de outras obras de urbanização realizadas em Fortaleza. Pode-se dizer que ocorre um processo de conexão entre a realidade objetiva das questões sociais e econômicas que envolvem a luta em torno da Lagoa e uma perspectiva mais ampla de justiça ambiental, embora ainda incipiente. No discurso das lideranças há uma percepção da continuidade de um processo de desenvolvimento urbano excludente, que emperra o desenvolvimento local. Em suas falas, nota-se a percepção de que a comunidade, por não se situar na zona nobre da cidade, recebe uma carga maior das conseqüências da degradação.Observou-se que há uma representação simbólica da Lagoa na memória coletiva dos moradores, possuindo aquela significados subjetivos e objetivos, sendo-lhe relacionado o processo de ocupação do bairro. Uma dificuldade ao fortalecimento do movimento numa perspectiva de preservação ambiental é que este não tem atingido a massa dos moradores, gerando um enfraquecimento da luta pela urbanização da Lagoa, já que, conforme dados de pesquisa realizada pelo BNDES/PNUD, um grande percentual acredita que o mais conveniente seria o aterramento total da Lagoa.
CONCLUSÕES:
Entendemos que se tem caminhado rumo à construção de uma articulação entre as questões objetivas e específicas do Movimento Pró-parque Lagoa de Itaperaoba e a questão mais geral da injustiça ambiental, por meio da percepção das lideranças de que a problemática que envolve a referida lagoa mantém mediações diretas com o desordenado desenvolvimento urbano, com a omissão do poder público que favoreceu a apropriação indevida do terreno para fins de especulação imobiliária, como também a ocupação por famílias desprovidas de moradia digna. A dificuldade enfrentada por este movimento em envolver os demais moradores na luta pela urbanização da lagoa e na atividade de preservação ambiental, que deve fazer parte do cotidiano de cada sujeito, reflete a desmobilização política que parece afetar a quase totalidade da sociedade nesses tempos de crises e individualização excessiva decorrente da necessidade imediata de se buscar a sobrevivência. Consideramos que o movimento tem seu início ligado a um fato imediato, objetivo e emergencial e ao longo do caminho vai percebendo as articulações existentes com outros aspectos da realidade social, ampliando seu saber e construindo novas estratégias de ação, a partir de seu amadurecimento e da incorporação de novos elementos.
Instituição de fomento: SESU / PROGRAMA ESPECIAL DE TREINAMENTO - PET
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Movimento de bairros; Ambiente; Política.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004