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A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
APLICAÇÃO DE GEOPROCESSAMENTO PARA A AVALIAÇÃO DO HABITAT DE Anopheles darlingi NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA USINA HIDRELÉTRICA DE MANSO, MT
Peter Zeilhofer 1   (autor)   pitalike@terra.com.br
Olga Patrícia Kummer 4   (autor)   olga.kummer@bol.com.br
Ana Lucia Maria Ribeiro 3   (autor)   -
Emerson Soares dos Santos 4   (autor)   emessoares@bol.com.br
Rosina D'Junco Miyazaki 2   (autor)   -
1. Prof. Dr. do Depto. de Geografia da UFMT – Cuiabá
2. Profa. Dra. do Depto. de Biologia da UFMT - Cuiabá
3. Pesquisadora Mestra da FUNASA - MT
4. Discente do Curso de Geografia da UFMT - Cuiabá
INTRODUÇÃO:
A malária é causada pelo Plasmodium malariae, Plasmodium vivax e Plasmodium falciparum e é transmitida, no Brasil Central , sobretudo, pelo vetor Anopheles darlingi. Em 2001, mais de 99% de todos os casos no Brasil foram observados na região da Amazônia Legal, que inclui o estado de Mato Grosso (WHO, 2004). Com o enchimento do reservatório da usina hidrelétrica de Manso, situada aproximadamente a 100 quilômetros ao norte da cidade de Cuiabá, MT, com uma extensão de cerca de 427 km2, foi criado um ambiente novo e extenso de água limpa e parada, o habitat preferencial do Anopheles darlingi (Consolim et al., 1991). Neste contexto, o presente estudo objetiva a caracterização dos habitats deste vetor na área de influencia do reservatório a partir de técnicas de sensoriamento remoto e análises espaciais e estatísticas. Estudos da relação entre a distribuição espacial do vetor e fatores climáticos e geo-ambientais visaram a elaboração de mapas detalhados do risco da ocorrência do vetor, disponibilizando desta forma uma base de dados georreferenciada para um sistema de alerta em casos do surgimento da doença.
METODOLOGIA:
Durante os anos 2000 e 2001 foram realizadas 111 coletas do vetor Anopheles darlingi, em um total de 21 pontos amostrais nos arredores do reservatório, em quatro horários, durante e após o pôr-do-sol. Todas as séries de dados entomológicos, incluindo coordenadas geográficas dos locais e situações climato-ambientais (temperatura, umidade relativa, fase lunar, velocidade do vento) foram organizadas em um banco de dados MS-Access/VB, que incluiu ferramentas para cálculo do índice de picadas por homens/hora (IPHH), diferenciado por espécies.
O processamento de uma imagem digital do Landsat ETM do dia 02/07/2000 (WRS 226/70) e análises espaciais foram realizadas com os softwares Spring (INPE) e ArcView (ESRI).
Foram elaborados três planos de informação (PIs). Uso e ocupação do solo, a partir de classificação supervisionada da imagem ETM; caracterização morfométrica da margem da lagoa, obtida a partir de um filtro de passo-baixo aplicado no resultado de simulações que utilizaram um modelo numérico de terreno; e da distância dos pontos de coleta da lagoa, conseguidos com os níveis do reservatório Os PIs foram georreferenciados de acordo com um cadastro digital da escala 1:25.000 (FURNAS) e associados aos pontos de coleta a partir de sobreposição espacial. Todas as variáveis explanatórias foram relacionadas com o IPHH geral dos quatro horários, utilizando um valor de “cut-off” (Gebre-Michael et al. 2004) de 1, gerando variável dependente utilizada nos modelos de regressão logística.
RESULTADOS:
Conforme resultado da classificação de uso e ocupação de solo, dos 21 pontos de coleta, 10 estão em áreas de campo, plantação ou solo aberto, 09 em áreas de Cerrado e 02 em floresta ou mata ciliar. Das 111 coletas, 56 foram realizadas a uma distância de até 200 metros da lagoa na respectiva data de amostragem, 13 entre 200 e 500 metros, 31 de 500 até 1000 metros, e 11 que se encontram a mais de 1000 metros de distancia da lagoa.
A classificação morfométrica se baseou na análise da razão entre o número de pixels (resolução espacial de 30m) de terra e água, calculada para uma janela móvel de 7X7 e determinada para cada pixel que foi anteriormente classificado como margem. Em seguida, foi associada aos pontos de coleta, a razão da margem mais próxima. Uma razão menor de que 0.4 (situação de “baía”) foi associada a 31 coletas, valores entre 0.4 e 0.6 (margem linear) a 74 coletas e valores maiores do que 0.6 (situação de península) a 06 coletas.
Para a regressão logística, os tipos de uso do solo foram ordenados em três classes, obtendo valor 3 as florestas, valor 2 os cerrados e valor 1 plantações, pastos e solo aberto. A distância dos pontos durante as respectivas coletas foi logaritmada. Foram obtidos modelos simples significativos (p<0.05) para as relações classe de uso – IPHH e distância da lagoa - IPHH, assim como para um modelo múltiplo das variáveis explanatórias “distancia da lagoa”, “razão entre número de pixels de terra e água” e “classes de ocupação”.
CONCLUSÕES:
As técnicas de Sensoriamento Remoto e análise espacial aplicadas, se mostraram apropriadas para uma parametrização dos habitats de Anopheles darlingi , principal vetor de malária na área de influencia do reservatório da usina hidrelétrica de Manso. Foram obtidas regressões logísticas significativas para dois modelos simples e o modelo múltiplo das três variáveis espaciais avaliadas (distância da lagoa, classes de uso e ocupação, característica morfométrica das margens). As regiões próximas da lagoa, em situações de enseada e cobertas por florestas podem ser consideradas portanto os habitats mais propícios para o vetor estudado. Áreas abertas e expostas à ação do vento e das ondas apresentam baixo risco da ocorrência do vetor. Fatores climatológicos, entretanto, não mostraram relações significativas com os IPHHs. Estes resultados realçam a importância da avaliação da distribuição espacial de fatores geo-ambientais para a estimativa da ocorrência de Anopheles darlingi, permitindo desta forma a produção de mapas de risco e a compreensão da dinâmica de surgimento, crescimento e proliferação deste vetor.
Instituição de fomento: FURNAS
Palavras-chave:  Geoprocessamento; Usina Hidrelétrica; Anopheles Darlingi.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004