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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
O COMPORTAMENTO DO JORNAL FOLHA DE LONDRINA EM MATÉRIAS ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO
Daniel Gonçalves dos Santos Costa 1   (autor)   danielcostatg@pop.com.br
Thaís Pedroso Cardoso 1   (autor)   olhonofuturo@uel.br
Mário Benedito Sales 1   (orientador)   olhonofuturo@uel.br
Vera Lúcia Suguihiro 1   (orientador)   olhonofuturo@uel.br
1. Depto. de Comunicação, Universidade Estadual de Londrina - UEL
INTRODUÇÃO:
A violência é um fenômeno que está crescendo na cidade de Londrina - Paraná. Dados comprovam que, no último ano, o número de mortes violentas ocorridas na cidade aumentou 19,25% em relação a 2002 e 64% em relação a 2001. O envolvimento de crianças e adolescentes com crimes também está aumentando, embora os órgãos oficiais responsáveis não tenham dados precisos. O reflexo disto é a constante presença do assunto na mídia, que muitas vezes distorce a realidade, apresentando um panorama muito mais grave da violência cometida por crianças e adolescentes. Para verificar o comportamento de um veículo de comunicação neste tipo de matéria, os alunos de jornalismo do site Olho no Futuro, parte integrante de um projeto desenvolvido pelos departamentos de Serviço Social, Psicologia Social, Direito e Comunicação (área de jornalismo), da Universidade Estadual de Londrina, que realiza um trabalho de combate à violência contra a criança e ao adolescente, analisou, durante os meses de agosto a outubro de 2003, as matérias publicadas no site do jornal Folha de Londrina. O critério para a escolha deste veículo foi o fato de ser o jornal de maior circulação em Londrina, além da possibilidade de acessar o conteúdo quase integral de sua versão impressa pela Internet.
METODOLOGIA:
Para analisar o comportamento da Folha de Londrina, a pesquisa foi dividida em três partes. Primeiramente, foi realizada uma pesquisa quantitativa para determinar o número de matérias que envolvia crianças e adolescentes em situação de violência, publicadas no período estabelecido. Em seguida, foi realizada uma análise da estrutura, incluindo a determinação das vozes de personagens e se eram colocadas em discurso direto ou indireto. Esta metodologia foi escolhida porque, segundo Diana Luz Pessoa de Barros, o uso do discurso direto confere maior veracidade à fala. Ainda foi analisado, como terceira parte, o posicionamento destas matérias nas páginas da versão impressa do periódico, de acordo com as zonas de visualização da página impressa (primária, secundária, morta, centro ótico e centro geométrico), conforme orientação citada na obra de Edmund C. Arnold.
RESULTADOS:
Foram encontradas 58 matérias sobre crianças e adolescentes envolvidos em situação de violência, publicadas entre agosto e outubro de 2003. Mais da metade (55%) localizava-se em páginas ímpares, consideradas de maior destaque no processo de diagramação do jornal. Deste total 16 estavam posicionadas no lado direito, partes da página que atrai primeiro a atenção do leitor. Mesmo as matérias localizadas nas páginas pares ocupavam áreas de maior destaque (lado esquerdo). 24 matérias tratavam apenas de crianças e adolescentes que eram infratores, em 22, apareciam como vítimas de violência, 9 apresentavam os infratores e as vítimas na mesma matéria e em 3 matérias eram apresentados como vítimas. Nestes casos o jornal ressaltava que já tinham passagens pela polícia. Das 58 matérias, apenas 8 eram destaques da página (topo). Destas, 6 apresentavam o adolescente como vítima, mas 4 forneciam uma visão negativa, destacando sua má conduta na sociedade. A voz da polícia está presente em 50 matérias, o que indica uma preferência do jornalista por essa fonte. Esta voz abre 16 matérias, sendo 10 delas sobre adolescentes infratores. Já a voz do próprio infrator aparece apenas em 6 casos; 4 são discursos indiretos.
CONCLUSÕES:
Analisando estes dados, chegou-se a conclusão de que a Folha de Londrina dá prioridade à publicação de fatos em que crianças ou adolescentes são apontados como infratores, além de ressaltar, em 20% dos casos, tiveram passagens anteriores nos Centros de Atendimento (CIAAD) mesmo quando estão em situação de vítimas. Desta forma, o jornal cria uma visão equivocada da violência cometida por crianças e adolescentes, dando a conotação de que o número destes crimes ultrapassa o número de crimes cometidos por adultos. Segundo Julita Lemgruber, ex-diretora do Sistema Penitenciário e ouvidora de Polícia no estado do Rio de Janeiro, em artigo publicado no jornal O Globo, março de 2002, os adolescentes são responsáveis por apenas 10% dos crimes cometidos no país. De cada 100.000 adolescentes, apenas 2,7 são infratores, enquanto de cada 100.000 adultos, 87 cometeram algum tipo de crime. Em muitos casos, esta imprecisão acontece pela falta de preparo do jornalista para abordar este assunto. O pouco tempo para o fechamento do jornal e as reduzidas discussões sobre o assunto geram matérias superficiais que não refletem a realidade.
Instituição de fomento: PIBIC/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  criança e adolescente; violência; mídia.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004