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O USO DE RECURSOS DA VEGETAÇÃO NATIVA EM UMA UNIDADE PRODUTIVA: ESTUDO DE CASO, MORRARIA, CÁCERES - MT.
Renato Ribeiro Mendes 1   (autor)   rmendes@cpd.ufmt.br
Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo 1   (orientador)   rabaz@terra.com.br
Débora Cristina Castellani 2   (co-orientador)   deboracastellani@terra.com.br
1. Faculdade de Agronomia e Med. Veterinária, Univ. Fed. Mato Grosso-UFMT
2. Depto. Agronomia (Cáceres), Univ do Estado de Mato Grosso - UNEMAT
INTRODUÇÃO:
A retirada da vegetação nativa para a exploração agrícola é uma prática comum entre os agricultores, pois existe incompatibilidade entre a agricultura e a vegetação nativa quando se trata de uma mesma escala espaço-temporal. Contraditoriamente, os recursos da vegetação nativa também são importantes para a reprodução das Unidades Produtivas (UP) de agricultores tradicionais. Esses recursos são usados como fonte de energia, na forma de lenha, e infra-estrutura de maneira geral como construção de casas, currais, chiqueiros, estaca para cerca, móveis, utensílios, etc. O papel estratégico dos recursos florestais de uma Unidade Produtiva é resultado do somatório da necessidade de preservá-lo, devido sua importância na UP, com a necessidade de eliminá-lo, para que seja possível a implantação de roças e pastagens. Partindo dessa hipótese o presente trabalho teve como objetivo, identificar, quantificar e valorar os recursos florestais nativos de uso direto na Unidade Produtiva. O valor monetário obtido permite estimar a quantia que o agricultor teria que dispor se não tivesse acesso aos recursos da vegetação nativa para seu uso na Unidade Produtiva.
METODOLOGIA:
O trabalho foi realizado na comunidade Santana, localizada na região da Morraria, cerca de 44 km do município de Cáceres, sudoeste do estado de Mato Grosso. Essa comunidade tem como característica a configuração de um campesinato tradicional onde a lógica central é mais a produção para auto consumo do que de mercado. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e abertas, medições e observações diretas e observações participativas, tendo como base métodos de investigação etnocientífica. Os recursos de uso direto da vegetação nativa foram identificados e posteriormente quantificados por meio de contagem do número de peças de madeira utilizadas e medições do comprimento, diâmetro, largura e espessura. Para medir o consumo diário de lenha de uma casa com quatro pessoas foram tomados dados de diâmetro e comprimento das peças, para estimar o volume consumido. A valoração desses recursos seguiu o princípio da atribuição de um valor monetário aos mesmos, a idéia básica é saber quanto custaria a aquisição no mercado desses bens ou similares, ou de tecnologias alternativas que possam substituir determinado bem. Todas as coberturas utilizadas na UP com folhas de Indaiá (palmeira típica da região) foram valoradas de acordo com a tecnologia alternativa de substituição (telhas de amianto). A tomada de preço foi feita no município de Cáceres em estabelecimentos comercias consumidores de lenha, em serrarias e depósitos de madeira.
RESULTADOS:
Foram identificados 08 formas de uso direto dos recursos da vegetação nativa na Unidade Produtiva (lenha, construção, armazenamento, estaca para cerca, móveis, utensílios, alimentação e medicinal). As peças de madeira utilizadas na UP variam em suas dimensões de acordo com a utilização. Os resultados apresentados neste trabalho já levam em consideração tais variações. Na construção da moradia houve a demanda de 831 peças de madeira e 60m2 de cobertura, totalizando em R$ 4.534,42. Para construção da cozinha utilizou-se 297 peças de madeira e 48m2 de cobertura, no valor de R$ 1697,86. No chiqueiro, curral, galinheiro e espaldeiras foram utilizadas 469 peças de madeira e 22,28m2 de cobertura total, alcançando o valor de R$ 1399,15. Os móveis e utensílios, como cabo de ferramenta, que foram feitos com madeira proveniente da própria UP totalizaram em R$ 410,79. O cercamento da UP utilizou 170 estacas de madeira de cerne e 367 estacas de madeira branca totalizando em R$ 1584,00. O abrigo e a madeira utilizada para armazenar e bater arroz demandou 109 peças e 13,20m 2 de cobertura atingindo o valor de R$ 1202,70. O consumo mensal de lenha ficou em torno de 5,8 estereo no valor de R$ 63,80. Somando todos os valores dos recursos da vegetação nativa utilizado na forma de uso direto na UP, chegamos a quantia total de R$ 10892,72.
CONCLUSÕES:
O resultado obtido nesse estudo mostra a importância e o papel estratégico que áreas com vegetação nativa arbórea tem para o agricultor tradicional. Essa classe de agricultor, com baixo poder de compra, necessita de áreas que possam fornecer esses recursos para serem utilizados na Unidade Produtiva. A casa e a cozinha atingiram 57,21% do valor total, seguido das lascas para cerca com 14,54%. A infra-estrutura relacionada com a criação de animais (curral, chiqueiro, galinheiro e espaldeiras) alcançou 12,84%. A madeira utilizada para fazer as pilhas (armazenamento) e bater o arroz, mais a construção do abrigo no meio da roça demandaram 11,04%. Os móveis e utensílios, que foram feito na própria UP atingiram o valor de 3,77% do total e o 0,6% restante ficou para lenha. Os valores encontrados levaram em consideração o uso do recurso uma única vez, desconsiderando o consumo e o período de vida útil das estruturas. As estacas de madeira branca usadas para cerca são substituídas de dois em dois anos e a madeira utilizada para lenha é consumida ao longo de todo o ano. Situações como essas, acrescido de outras, como o uso indireto da vegetação nativa, na conservação do solo, da água e da biodiversidade, não valoradas neste trabalho, confirmam ainda mais a importância das áreas disponíveis com vegetação nativa arbórea na Unidade Produtiva.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Recursos florestais nativos; Agricultura tradicional; Valoração.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004