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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 3. Psicolingüística
METÁFORAS CONCEITUAIS E CENAS PRIMÁRIAS
José Edelberto Costa Filho 1   (autor)   edelbertocosta@bol.com.br
Paula Lenz Costa Lima 2   (orientador)   plenz@uece.br
1. Graduando do Curso de Letras, Universidade Estadual do Ceará - UECE
2. Profa. Dra. do Curso de Letras, Universidade Estadual do Ceará - UECE
INTRODUÇÃO:
Nos últimos 25 anos, o conceito do que é metáfora vem sofrendo transformações que fizeram com que ela não fosse mais vista como um simples ornamento lingüístico, próprio das linguagens especiais. No final da década de 70, muitos estudiosos já questionavam essa visão da metáfora. Em 1980, Lakoff & Johnson lançam o livro “Metaphor We Live By”, em que defendem que a metáfora ocorre sistematicamente na língua e que a natureza e emergência desses usos tem base na experiência do homem com seu próprio corpo e com o mundo. Assim, a metáfora deixa de ser vista como uma figura de linguagem e passa a ser uma figura de pensamento, denominada nessa perspectiva Metáfora Conceitual. No entanto, a teoria apresentava alguns pontos controversos que têm sido aperfeiçoados com o passar dos anos. Em 1997, Grady, lança a hipótese de que as metáforas podem ser Primárias, aquelas que nascem de correlações de experiências corpóreas distintas, ou Compostas, aquelas que são formadas pela unificação de duas ou mais primárias. É baseada nesta proposta lançada por Grady (1997) que esta pesquisa foi desenvolvida. Nela averiguamos se as metáforas ANALISAR É CORTAR, ORGANIZACAO É ESTRUTURA FÍSICA, INTENSIDADE DE ATIVIDADE É CALOR e DIFICULDADES SÃO PESOS, estão coerentes com os critérios estabelecidos pelo autor para se identificar uma metáfora primária.
METODOLOGIA:
A primeira etapa foi fazer a escolha das metáforas, que deveriam contemplar os tipos de metáforas primárias sugeridas por Grady: aquelas com “relações atemporais”, “tempo, ação, estrutura de evento”, “afeto, avaliação e relações sociais”, “pensamento e consciência”, “quantidade e grau”. Apenas o último tipo não foi contemplado. Num segundo momento, as características dos domínios fonte e alvo de cada metáfora foram analisadas para verificar se elas de fato estavam dentro dos padrões estabelecidos por Grady para uma metáfora primária. Em seguida, buscou-se identificar as cenas primárias. Para isso, foram utilizadas as definições dos domínios fonte e alvo de cada metáfora retirados de dicionários monolíngües em português (Novo Dicionário Brasileiro de Melhoramentos e Novo Aurélio) e inglês (Longman Dictionary e Oxford Advanced Learner’s). As cenas primárias são responsáveis pelo mapeamento metafórico, i.e., o conjunto de correspondências conceituais entre o domínio fonte e alvo, a partir do qual é possível prever os termos lingüísticos licenciados pelas metáforas em questão. Finalmente, a partir dos termos licenciados, buscaram-se exemplos reais de uso de cada metáfora nas línguas inglesa e portuguesa, em bancos de dados tais como: www.sara.natcorpo.ox.ac.uk, www.eserver.org, www.villagevoice.com, www.linguateca.pt, www.capes.org.br, www.google.com.br.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos na pesquisa mostram que as 4 metáforas satisfizeram os critérios estabelecidos por Grady para uma metáfora primária, além disso, foram identificados para cada metáfora (1) as cenas primárias: ANALISAR É CORTAR: o tipo de corte é o tipo de análise; o tamanho do corte é a qualidade da análise; o instrumento do corte é o instrumento da análise. ORGANIZAÇÃO É ESTRUTURA FÍSICA: as partes físicas são elementos da organização; o propósito da estrutura física é o propósito da organização; as funções de cada parte física são as funções dos elementos na organização; a disposição das partes físicas é a relação lógica e causal entre os elementos da organização. DIFICULDADES SÃO PESOS: o aumento do peso é o aumento da dificuldade; a diminuição do peso é a diminuição da dificuldade; a estabilidade do peso é a estabilidade da dificuldade. INTENSIDADE DE ATIVIDADE É CALOR: o aumento do calor é o aumento da atividade, a diminuição do calor é a diminuição da atividade, a estabilidade do calor é a estabilidade da atividade. (2) os termos licenciados: corte/ cortar/ recortar/ dissecar/ separar/ tirar, parte/ pedaço/ elemento/ propósito/ objetivo/ meta/ função, peso/ pesar/ pressão/ carga/ sobrecarregar/ fadiga, calor/ acalorar/ aquecer/ esquentar/ inflamar/ inflamar/ quente, respectivamente, permitindo que fossem encontrados os exemplos reais nas línguas inglesa e portuguesa.
CONCLUSÕES:
Os resultados encontrados corroboram a hipótese da metáfora primária, no que concerne às características dos domínios fonte e alvo e a previsibilidade das expressões metafóricas presentes na língua. Vale ressaltar que estava de fora do âmbito dessa pesquisa avaliar até que ponto todos os termos licenciados se realizam na língua, uma vez que o processo de lexicalização pode não ter relação com a geração e licenciamento de expressões metafóricas propriamente ditas.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Metáfora Primária; Cenas Primária; Mapeamento Metafórico.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004