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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO NOTURNO
Daiane Campos Silva 1   (autor)   gesgobilda@bol.com.br
Celia Souza Homem 1   (autor)   cadubarbosa@aol.com
Maria das Graças Martins Silva 1   (orientador)   ailec20@aol.com
1. Instituto de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso
INTRODUÇÃO:
A educação no Brasil, historicamente, não foi priorizada pelos governantes. Talvez isto explique porque o país enfrenta o problema do analfabetismo em alto índice. Ainda assim, houve progresso nas últimas décadas, como o que se refere à institucionalização da LDB (1996), que atribui ao Estado o dever de garantir o ensino fundamental obrigatório e gratuito (inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria), oferta de ensino noturno regular e atendimento ao educando no ensino fundamental através de programas suplementares (artigo 208). Em relação aos avanços previstos em lei, há de se observar e analisar a efetiva realização das metas previstas. Neste trabalho, abordamos especificamente o caso da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que acreditamos, deveria ser alvo de maior atenção por envolver pessoas que não concluíram seus estudos em tempo e idade desejados. Pesquisas realizadas e a literatura apontam que grande parte das escolas que oferecem a EJA enfrenta o problema da evasão escolar. Desta forma, julgamos relevante investigar as causas da evasão na EJA, de forma que os resultados da pesquisa possam fornecer subsídios para um trabalho mais eficaz, tanto por parte das escolas quanto das políticas públicas. Resolver ou minimizar a evasão escolar na EJA implica no resgate da cidadania de pessoas que tiveram por alguma razão o processo de formação escolar interrompido.
METODOLOGIA:
Utilizamos pesquisa qualitativa para investigar as causas da evasão do ensino noturno de uma escola de porte médio, que contém dez salas de aula, sendo que, destas, oito estão ociosas por falta de alunos. A pesquisa partiu inicialmente da observação de documentos, na busca de informações sobre a identificação do número, nome e endereços de alunos evadidos, do primeiro semestre de 2003 do ensino noturno, com suplência para 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries de uma escola da periferia de Cuiabá, que faz parte da rede pública municipal de ensino. Esses alunos formam um grupo de dezesseis ao todo. Destes, foram encontrados em seus respectivos endereços treze alunos (81,25% dos evadidos), que foram visitados em domicílio e entrevistados por meio de questões previamente estruturadas, registradas em gravador. As respostas apresentadas, posteriormente, foram classificadas em categorias, tendo como critérios a sua maior incidência.
RESULTADOS:
Este foi um dos momentos emocionantes da pesquisa, marcados por respostas surpreendentes, sinceras, que revelavam desencanto e o vazio de quem nem sempre pode cultivar esperança em seu olhar para o futuro. Os motivos que permeiam o fenômeno da evasão escolar no ensino noturno são diversos, dificultando uma classificação em categorias excludentes. Entretanto, foi possível sintetizá-los no seguinte quadro: dos treze entrevistados, cinco responderam que o trabalho e a dificuldade em conciliar horário com o estudo foi o fator preponderante na decisão de abandono da escola, três alegaram desinteresse próprio para a desistência, um respondeu que foi porque se casou, outro por dificuldades de aprendizagem. Tivemos uma resposta um tanto surpreendente. Um de nossos entrevistados respondeu que abandonou os estudos devido a um homicídio que o mesmo cometeu. E por fim dois de nossos entrevistados, responderam que foi a metodologia utilizada pelo professor. Pode-se considerar que, de alguma forma, este motivo está implícito em quase todas as outras respostas. A escola não tem conseguido romper as barreiras existentes e trabalhar no seu interior à “carga” do real vivido que o aluno traz. O professor, por sua vez, desconhece ou não considera a realidade do aluno e o nivela como se a comunidade escolar fosse homogênea. Com isso, acabam contribuindo para a perpetuação da marginalização da educação de jovens e adultos.
CONCLUSÕES:
Neste trabalho, procuramos encontrar respostas para as principais causas da evasão escolar na educação de jovens e adultos, a partir da versão do evadido. Nesta versão, ficaram evidenciados motivos relacionados a desinteresse, dificuldade de aprendizagem, metodologia utilizada pelo professor, trabalho, casamento e até homicídio. Percebemos pelos depoimentos que, na maioria das vezes, há relação dos motivos apresentados para a evasão com a condição de miséria dos alunos (desemprego, subemprego, moradias precárias). Chama a atenção que para justificar a evasão foi dada maior ênfase para questões como o trabalho e a metodologia empregada pelo professor. Neste sentido, a crítica dos alunos evadidos remete, em parte, à realidade dos cursos de formação para professores, que são direcionados para o aluno que freqüenta a escola na “idade certa”, dando pouca ou nenhuma ênfase à educação de adultos. Assim, os conteúdos e metodologias utilizados no ensino noturno, na maioria das vezes, são “infantilizados”, o que contribui para o desprazer em aula e conseqüente difícil permanência do jovem ou adulto na escola. Cabe-nos refletir sobre a evasão escolar no ensino noturno como um fenômeno inserido numa complexidade ampla, que envolve, sobretudo, fatores sócio-econômicos e culturais, mas também perpassa a responsabilidade da escola, que revela despreparo para cumprir esta tarefa e acaba sendo um fator a mais para a expulsão do jovem e do adulto do processo de cidadania.
Palavras-chave:  Ensino noturno; Evasão escolar; Educação de jovens e adultos.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004