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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
CAMPO E CIDADE: UM ESTUDO ETNOGRÁFICO SOBRE O CAMPUS COMO UM ESPAÇO AMBIVALENTE NA VISÃO DOS ALUNOS DA UFRRJ.
Maria Luiza Süssekind Veríssimo 1, 2   (autor)   mlsussekind@fgv.br
Silvana Gonçalves de Paula 3   (autor)   
Carmen Lucia Guimarães de Mattos 4   (autor)   
Thais Ribeiro Lopes 5   (autor)   
1. FGV - DIREITO RIO - Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro
2. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
3. Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
4. Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
5. Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
INTRODUÇÃO:
Este é o resultado de um estudo de campo e de entrevistas de abordagem etnográfica que contribuem para o entendimento sobre a construção das imagens de rural e de urbano na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro a partir da observação, descrição, identificação, comparação e análise dos comportamentos dos alunos de Licenciatura em Ciências Agrícolas em suas interações face a face na vida cotidiana. A partir das evidências empíricas de que a auto-imagem profissional se constrói entre os alunos, no contato cotidiano no campus, o texto recorta as visões de rural e urbano como sendo uma construção sócio-histórica geradora de perspectivas profissionais e de um modo de vida. Um importante desdobramento da auto-imagem dos estudantes, aqui debatido, refere-se à visão que eles constroem de rural e urbano em relação à fixação das fronteiras entre estes dois espaços socialmente construídos. Em decorrência, torna-se também uma questão a maneira como se posicionam numa carreira que se funda numa postura de transformação da sociedade e desenvolvimento do mundo rural.
METODOLOGIA:
A pesquisa que deu origem a este trabalho esteve alicerçado em abordagens teórico-metodológicas das relações interpessoais que vêem toda a ação social como negociação, ou interação, e o indivíduo como detentor de identidades múltiplas. Este indivíduo aciona uma ou outras identidades em determinada relação e situação social. A pesquisa partiu dos depoimentos dos estudantes em busca do entendimento sobre as formas de ver o mundo e as regras particulares ao grupo sendo de natureza etnográfica e tendo como marco analítico o interacionismo simbólico. Logo, os indivíduos possuem e desenvolvem mecanismos de identificação com uma ocupação em processos de socialização profissional. Explica-se,
assim, o processo de comprometimento ou adesão a um grupo. Só é possível detectar e buscar o sentido destes processos quando o observador está atento não só ao que ouve em entrevistas, mas também quando está atento às interações não-verbalizadas, atitudes ou padrões de ação.A utilização das estratégias metacognitivas por parte dos alunos, nas situações que serão tratadas ao longo do texto, constitui o foco para o estudo etnográfico com o objetivo de valorizar enfaticamente os métodos qualitativos de pesquisa. Assim, a abordagem etnográfica se desenvolve em um trabalho de campo com a característica de um estudo multi-situado e polifônico.
RESULTADOS:
Entre os estudantes observamos a existência de diferentes visões do rural e do urbano como modo de vida geradoras de perspectivas profissionais e balisadoras da construção da auto-imagem profissional. Os alunos se dividem entre os que têm origem rural e urbana, praticam a separação entre residentes e não residentes, e, também, sustentam uma hierarquia que valoriza a antigüidade do pertencimento e divide a Universidade entre novatos e veteranos. O reconhecimento da existência destes processos marca esta pesquisa reforçando o valor que se atribui às estratégias metacognitivas, principalmente a afetividade e o auto-monitoramento, e seu papel no cotidiano social e acadêmico. As perspectivas profissionais manifestas pelos entrevistados da Universidade Rural tocam os processos de construção de uma auto-imagem profissional, informada pela relação entre indivíduos, a fluidez do mundo contemporâneo e o papel de cientista agrícola-educador. Assim também, as descrições das situações de sala de aula reforçam os dilemas em relação ao papel do professor e do aluno, à construção do tempo, e, à divisão dos espaços do campus. Dos assuntos e estratégias didáticas escolhidas pelos alunos, e observados durante a interação, emergem as visões de conhecimento e ciência implícitas aos conceitos e conteúdos. Do mesmo modo, está presente uma visão de ser humano e do papel do conhecimento.
CONCLUSÕES:
Justificamos a importância deste trabalho pelo fato de significar um movimento no sentido de discutir um tema de interesse atual que é a perspectiva profissional do jovem universitário. Registramos a importância de costurar a idéia da metacognição aos conceitos de sociologia através da noção de socialização secundária numa abordagem interacionista dos fatos sociais. Finalmente, objetivamos dar relevo aos conteúdos informais que se tornam presentes na construção das perspectivas profissionais e que se constroem na interação face a face entre os alunos durante a vida acadêmica. Consideramos que as imagens de rural e de urbano construídas pelos estudantes são relacionais, situacionais e ambivalentes influindo em suas auto-imagens profissionais, em suas perspectivas de carreira, e nas visões de ciência, de ser humano e de desenvolvimento que balisarão suas práticas como cientistas.
Instituição de fomento: CAPES/ UFRRJ/ FGV - DIREITO RIO
Palavras-chave:  etnografia; espaço; rural e urbano.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004