IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 4. Antropologia Rural
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, HABITUS E EXPERIÊNCIAS DO "MUNDO DE VIDA" DAS POPULAÇÕES CAMPONESA E RIBEIRINHA.
Sueli Pereira Castro 1, 3   (autor)   Profa. Dra. / cacspc@terra.com.br
Itamara dos Anjos Oliveira 2, 3   (autor)   ita_neru@cpd.ufmt.br
Ana Carolina da Silva Borges 2, 3   (autor)   ana_neru@cpd.ufmt.br
Gilian Evaristo França Silva 2, 3   (autor)   gilian_neru@cpd.ufmt.br
1. Depto de Sociologia e Ciência Política , Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
2. Depto de História, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
3. NÚcleo de Estudos Rurais e Urbanos/ICHS, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa é integrada ao Programa PELD - "Pantanal Norte: estudos integrados dos processos ecológicos e sociais com vistas à conservação", dentro da temática Dinâmica Sócio-Ambiental. Para construir propostas efetivas de uso e conservação da biodiversidade , uma das metas do Projeto Pantanal Norte, impõe-se a necessidade do conhecimento deste ambiente, não como naturalmente dado, mas um ambiente culturalmente significativo e socialmente utilizado. Partindo do pressuposto de que as populações tradicionais que fizeram e fazem uso da diversidade biológica do sistema e os processos de interação com o meio produzem e preservam suas condições de existência e reprodução social, que interferem diretamente no grau de conservação atual, esta pesquisa se propõe a estudar os processos e representações sociais que orientam e definem as formas de uso e a conservação da diversidade biológica, em diferentes temporalidades, daquelas populações - ribeirinha e camponesa - que habitam o entorno da área da RPPN-SESC Pantanal (Pantanal Norte Mato-grossense), nos municípios de Barão de Melgaço e Poconé, buscando: - identificar nas práticas culturais dos camponeses e ribeirinhos, as permanências e mudanças processadas ao longo de suas existências; - analisar as representações e as práticas do pantaneiro e sua relação com o meio ambiente; - compreender o papel e o significado das manifestações artístico culturais, nas diferentes formas de organização popular.
METODOLOGIA:
Como metodologia propõe-se a realização de uma pesquisa preocupada com uma descrição mais atenta da realidade local, que permita uma interpretação "densa" (Geertz, 1978) das representações do mundo natural, do espaço público e do comunitário, e do saber tradicional simbólico que perpassam as formas de organização social, tanto dos ribeirinhos como dos camponeses. O trabalho, portanto, é de natureza etnográfica uma vez que somente ele possibilita a apreensão das categorias sociais das quais se valem os grupos sociais, seus códigos de valores, que definem a identidade da população pesquisada. A convivência com a população constitui-se o eixo central que permite a pesquisa dentro do referencial teórico-metodológico proposto. Como técnicas de pesquisa, para o trabalho de campo, são utilizadas: diário de campo, gravações de depoimentos orais de histórias de vida, questionário sócio-econômico, iconografia, mapas cognitivos. Para desenvolvimento do trabalho seis viagens para trabalho de campo foram realizadas, entre agosto de 2002 a março de 2004. No primeiro momento foram realizadas pesquisas de caráter exploratório nas localidades de Porto Biguazal, Porto da Manga, Porto Limoeiro, distrito de Joselândia, (que compreende as localidades de São Pedro, Pimenteira e Retiro São Bento), no município de Barão de Melgaço, sendo este o escolhido para o desenvolvimento de um trabalho etnográfico denso, cujos resultados são aqui apresentados.
RESULTADOS:
A pesquisa desenvolvida, uma primeira etapa, aponta para alguns dos elementos constitutivos da forma de organização social e das representações sociais presentes nestes povoados pesquisados, da região pantaneira.
1. a identificação e mapeamento de populações do entorno da RPPN-SESC Pantanal que tem sua produção e reprodução de sua organização social marcada por uma economia de aprovisionamento;
2. caracterizar um modo de vida em que o usufruto dos recursos natural é pautado pelo respeito às normas da coletividade, imersos em uma tradição que se opõe ao individualismo, e que veio regendo todo o processo de vida destas populações até período recente;
3. a delimitação das territorialidades locais, estas definidas pelo conjunto das relações de parentesco;
4. identificar um conhecimento local muito apurado, ao mesmo tempo funcional e mítico, do movimento da natureza e das plantas e animais, da terra e do rio, onde as polaridades seca e cheia são entremeadas por duas estações de transição - a vazante que leva à seca e a enchente que leva à cheia;
5. registrar as manifestações culturais como o siriri e o cururu, são consideradas como momentos de diversão e continuação da tradição dos que habitam na localidade. Esta manifestações vêm mantendo a integridade a riqueza destes folguedos populares, merecendo das instituições ligadas à cultura, uma atenção muito especial e necessária para continuar resistindo a atuação da industria cultural.
CONCLUSÕES:
A população moradora deste espaço, pode-se dizer sertanejo, caracteriza-se por desenvolver atividades econômicas que fornece à família seu costumeiro estoque de bens, sem um caráter para produção intensiva par ao mercado, e é impossível separar a prática econômica da familiar e os usos dos recursos naturais estão relacionados a uma territorialidade, esta definida pelos laços de parentesco.
O muxirum (mutirão), constitui-se uma categoria central no universo das práticas e das representações sociais dos grupos sociais, estabelecendo os laços de reciprocidade presentes neste universo, definidores de identidades/pertencimentos.
Mas uma das marcas mais expressivas na cultura local é a religiosidade. Esta religiosidade se manifesta de várias maneiras tanto cotidianamente, e os altares caseiros são testemunhas, como nos festejos em homenagem aos santos familiares e comunitários. Estes festejos apontam para um forte predomínio de uma religião popular, pois representam o coroamento da comunicação direta entre os santos e a comunidade. Adquirem um sentido sempre jubiloso, pelo agradecimento ao doador, da existência, e pelo sentido de celebração da vida, pessoal e coletiva. Expressa um anseio mais profundo: um projeto utópico não sistematizado: união do povo.
Esses bens culturais de natureza imaterial sobrevivem graças à força e a resistência desta população local que luta para preservar a sua identidade cultural, por meio da prática de costumes e cultos de suas crenças e valores.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Populações Tradicionais; Representações Sociais; Pantanal Mato-grossense.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004