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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
REVITALIZAÇÃO DA ÁREA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: UMA ANÁLISE CRÍTICA DA FORMAÇÃO DE UMA CIDADE MUNDIAL
Julio Cesar Ferreira Santos 1   (autor)   juliocesar.fs@ig.com.br
1. Departamento de Geografia, Instituto de Geociências - UERJ
INTRODUÇÃO:
Revitalizar as áreas portuárias e adjacentes de metrópoles tem se mostrado uma tendência por todo o mundo. A estratégia de recuperação e eliminação da obsolescência tem agora, como laboratório, a área do Porto do Rio de Janeiro. No entanto, constata-se que os investimentos imobiliários têm seu foco na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente na direção da Barra da Tijuca. Transformar a Zona Portuária em um pólo multifuncional (com ênfase na cultura, alta tecnologia e turismo) e integrá-lo à dinâmica do Centro do Rio é o grande desafio do poder público, principal agente que planejou este projeto de intervenção urbana, estabelecendo os paradigmas e os eixos de desenvolvimento local. A presente pesquisa tem como objetivo precípuo analisar o referido projeto sob a luz dos conceitos geográficos concernentes e de autores específicos, estudiosos da urbe, e, ainda, a revisão das funções urbanas e suas conseqüências naquele lugar. Além disso, estuda a tentativa de localizar, de fato, o Rio de Janeiro no rol das metrópoles mundiais (no que se refere à dimensão cultural), ao lado de São Paulo, Nova York, Londres, Paris, Tóquio. Neste contexto, busca compreender uma provável desterritorialização dos moradores locais, desconexos com os simbolismos do processo de mundialização, através da implantação de determinadas funções incompatíveis com um modo de vida depauperado, refletido nas formas espaciais degradadas da Zona Portuária.
METODOLOGIA:
A pesquisa tem sua metodologia pautada na leitura de literatura especializada relativa a temas da Geografia Urbana (através da utilização das categorias analíticas de Milton Santos e dos conceitos fundamentais da Escola de Chicago, revistos pela Geografia Crítica), do Planejamento Urbano (obras pertinentes à temática da revitalização de espaços urbanos e as conseqüências das intervenções urbanas, além do contexto político, histórico e ideológico em que se inserem) e da Geografia Política (discussão do fenômeno da mundialização política, econômica e cultural). Essa revisão bibliográfica contribui sobremaneira para a consolidação de um embasamento teórico da temática em tela. Em seguida, a partir dos subsídios concertados para as argumentações, é mister a realização de pesquisas empíricas relativas ao recorte espacial. Como instrumento eficaz para a compreensão deste espaço nas atividades empíricas, utiliza-se o relatório de uma pesquisa encomendada pela Prefeitura ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística buscando levantar dados concernentes ao perfil, às demandas e às expectativas dos moradores dos bairros do Santo Cristo, Gamboa e Saúde, correspondentes à Zona Portuária.
RESULTADOS:
Dentre os resultados obtidos, destacam-se: (1) a revitalização da área portuária proposta depende de uma atração privada que sirva como chamariz para a implementação na totalidade do projeto, como o Museu Guggenheim-Hermitage, ou outra obra de grande porte, como um business center; (2) para alcançar o dinamismo esperado, a região necessita ser integrada à Área Central do Rio por diversos eixos, retirando os bairros da Zona Portuária do isolamento; (3) é preciso atender as demandas da população local e oferecer serviços que proporcionem melhor qualidade de vida, atingindo, inclusive, as causas de diversos problemas sociais, como a violência; (4) a revitalização apresenta-se como uma tentativa de homogeneização cultural (diretriz do processo de mundialização) através da imposição de símbolos de uma cultura dita “mundial”, com o objetivo de revigorar e turistificar uma área que sofre processo de inércia; (5) os órgãos públicos envolvidos pretendem criar condições para a ocupação da classe média, novo consumidor de um espaço renovado, e a sucessão das camadas populares, cuja presença passa a ser inadequada, empurradas em direção à periferia e aos morros da cidade (gentrification).
CONCLUSÕES:
Estes resultados evidenciam a inter-relação da revitalização da área portuária com uma tendência mundial de se formarem cidades-espetáculo. Neste contexto, surgem em profusão equipamentos culturais organizados em espaços urbanos estetizados, iluminados. O sentido de cultura nesta cidade é esvaziado, pois a cultura implantada vem do exterior. As metrópoles se afirmam pela importância de seu complexo cultural, elemento de identidade coletiva forjada pela mundialização. Os resultados também reafirmam a vocação turística como uma das mais importantes funções do Rio de Janeiro e reforçam a necessidade de captação de recursos em moeda forte (essencial em uma cidade mundial) para fomentar a realização do projeto. Devido a isso, espera-se o incremento da participação estrangeira em outras áreas da cidade, assimilando espaços excluídos e excluindo ainda mais populações já alijadas de cidadania. Buscando integrar estes bairros à cidade, a Prefeitura enfatiza a fragmentação do espaço social urbano, subordinando a área portuária, um “enclave memorial”, à lógica do capitalismo contemporâneo, semelhante às ações de outras tantas intervenções drásticas sofridas pela cidade.
Palavras-chave:  Revitalização de áreas centrais; Porto do Rio de Janeiro; Mundialização homogeneizante.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004