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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
HISTÓRIAS DE VIDA DO PROFESSOR: A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO LEITOR/PRODUTOR
Fábio José dos Santos 1   (autor)   fabiosantos500@hotmail.com
Rita Mara Diniz Zozzoli 1   (orientador)   ritazoz@uol.com.br
1. Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, Universidade Federal de Alagoas-UFAL
INTRODUÇÃO:
Vasta é a bibliografia que atualmente, no âmbito das Ciências Sociais, tem se debruçado sobre o processo de construção das identidades sociais dos sujeitos (Benevides, 2002). Também a Lingüística Aplicada tem se interessado em compreender esse fenômeno (Moita Lopes, 2002; Benevides, 2002; Oliveira 2001; Coracini, 2000 etc.), tanto no que se refere ao ambiente de sala de aula, enfocando a construção das identidades dos que nesse meio se inserem (professor e alunos), quanto num contexto social mais amplo, envolvendo aí as diferentes práticas discursivas dos sujeitos para além do meio escolar. Tem-se buscado, no presente contexto, a um tempo de contradições e diferenças, perceber como tais identidades emergem nas múltiplas práticas discursivas em que os sujeitos se envolvem. Pretende-se aqui refletir sobre a constituição da identidade do professor leitor/produtor de textos a partir de suas histórias de vida. Na ciência de que esse profissional, no processo de (re)significar o outro que aparece na sua narrativa está (re)significando quem ele é, pois “o indivíduo torna-se consciente de si mesmo no processo de tornar-se consciente dos outros” (Markova 1990: 3, apud Moita Lopes 2002: 32), busca-se, mais especificamente, refletir sobre como o professor constrói sua identidade de sujeito leitor/produtor no processo de significar o outro na sua narrativa.
METODOLOGIA:
A coleta de material foi feita a partir de histórias de vida de professores, em que, através de entrevistas semi-estruturadas gravadas em áudio, esses profissionais rememoravam experiências que tiveram com os processos de ler e produzir textos durante sua vida, no meio escolar e mesmo durante sua formação profissional. No processo de narrar suas histórias e assim (re)significá-las, os sujeitos revivem momentos nos quais aparecem figuras (pai, professor, namorado, amigo) que, mesmo que não estejam na situação imediata da narrativa, atuam no processo de constituição identitária do professor leitor/produtor. Após a coleta, procedeu-se a transcrição do material, obedecendo às convenções de transcrição de Marcuschi (1986, apud Zozzoli, 1999: 12). O material coletado é constituído de 7 entrevistas que resultaram num total aproximado de três horas e oito minutos.
RESULTADOS:
No processo de constituir-se sujeito leitor/produtor de textos através de suas histórias de vida, os professores encontram na construção do outro um meio de (re)significar a si mesmo no discurso. Esse processo pode se dar a partir da rejeição do outro, ou mesmo na sua adesão. O que está em jogo nessa prática de narrar e (re)significar a si e ao outro são os processos identitários do professor, é o modo como ele se vê e, mais ainda, o modo como ele quer ser visto. Os professores empreendem na (re)construção das personagens de suas histórias a atividade de olhar para dentro de si e perceber-se quem são. Ao fazê-lo, alguns desses sujeitos saem em defesa de uma posição que os deixe num lugar confortável de bons leitores/produtores, sendo possível perceber movimentos de resistência às vozes que os definem como não-leitores; ou, em outras situações, há aqueles que se descobrem aquém do que se espera que seja um “sujeito bom leitor/produtor” e ficam apenas na constatação de que não lêem ou produzem como deveriam, chegando mesmo a atribuir a produção textual a sujeitos privilegiados – os escritores -, evidenciando a consideração que faz Zozzoli (2002: 19-20), valendo-se de reflexões feitas por Certeau (1990). Essa autora aponta para a distinção que se faz entre os “produtores autorizados”, responsáveis pela produção de um “discurso fonte”, e os “não autorizados”, a quem caberia consumir, enquanto “leitores e reprodutores”, esse discurso privilegiado.
CONCLUSÕES:
Trabalhos como este não servem apenas para evidenciar um fenômeno ou torná-lo público para que todos apreciem, mas só encontram seu sentido na (re)ação que provocam. Guedes-Pinto (2002), rememorando a trajetória da leitura da professora-alfabetizadora, conduz seu trabalho no sentido de legitimar as práticas de leitura dessa profissional, dando-lhe o lugar de sujeito leitor, passando por cima das forças opostas que insistem em afirmar o professor como não-leitor. O trabalho de perceber a identidade do professor leitor/produtor sendo construída na significação que ele faz do outro na sua narrativa, a partir de suas memórias, é também a possibilidade que têm esse sujeito de falar de sua história, de dizer quem ele é e permitir-lhe ainda emancipar-se e ter direito de voz, isto é, tornar-se autorizado a se ver como um sujeito leitor/produtor, pois “as pessoas (...) podem refletir posições de resistência ao poder, de emancipação (...) podem também se re-posicionar, transformando suas identidades, podendo assim, agir sobre a sua realidade social” (Benevides, 2002:14).
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Identidade; Professor; Sujeito leitor/produtor.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004