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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
FLORESTAS RIPÁRIAS SOB INFLUÊNCIA DA APM-MANSO: ANÁLISE DA VEGETAÇÃO DE SUB-BOSQUE EM RELAÇÃO AO GRADIENTE DE INUNDAÇÃO LATERAL
Cândida Pereira da Costa 1   (autor)   candida.p@bol.com.br
Cátia Nunes da Cunha 2   (orientador)   
1. Pós-Graduanda em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, IB/UFMT
2. Profa. Dra. do Depto Botânica e Ecologia, IB/UFMT
INTRODUÇÃO:
As florestas relacionadas com cursos fluviais no Brasil são denominadas de várias maneiras, de acordo com as condições ambientais em que ocorrem. A delimitação conceitual das formações vegetais que acompanham os cursos d’água foi claramente discutida por Catharino (1989) e Rodrigues (2001), sendo que ambos propõem diferentes termos para a vegetação que se localizam margeando os rios. No entanto, para este estudo será adotada a definição de Catharino, que sugere o uso do termo vegetação ripária para as florestas que se localizam margeando os rios.
As florestas ripárias destacam-se como importantes refúgios para a fauna terrestre e aquática, como corredores de fluxo gênico vegetal e animal e como meios essenciais para a proteção do solo e dos recursos hídricos (Barella et al. 2001, Lima 1989, Felfili et al.2000, Barbosa, 1993).
No entanto, são poucos trabalhos realizados nas florestas ripárias do Mato Grosso onde se incluem apenas os de Oliveira-Filho (1986), Guarim Neto et al. (1996); Nunes da Cunha & Junk (2001).
Entretanto, desde 1999 a Hidroelétrica de Furnas iniciou sua operação e tem regularizado o nível da água dos principais formadores do Pantanal. Como conseqüência, áreas deixaram de ser inundadas e outras permanecerão inundadas.
Como a vegetação riparia depende do pulso de inundação, tanto de sua amplitude espacial quanto temporal, este estudo pretende definir os tipos de comunidades associados ao pulso de inundação para fins de monitoramento e conservação do manancial.
METODOLOGIA:
Baseado em viagens de reconhecimento selecionou-se 4 localidades nas margens dos rios: Roncador, Nova Brasilândia; Manso, Chapada dos Guimarães; Cuiabazinho, Nobres; Cuiabá, Rosário Oeste. Estas áreas estão inseridas na Bacia do rio Cuiabá, Mato Grosso. Para cada localidade demarcou-se 4 transectos, de 50m ao longo do qual estabeleceu-se 10 parcelas de 5x20m. Amostraram-se todos os indivíduos com até 4m de altura, segundo Rizzini o sub-bosque compreende plantas com até 20 amostras por estande. Todas as amostras foram preparadas conforme rotina para obtenção da terra fina e seca ao ar, e destas realizou-se a análise granulométrica e de matéria orgânica, onde se procedeu segundo Allem, 1989.
Para análise da vegetação confeccionaram-se 2 tipos de matrizes, sendo uma para elaboração dos cálculos dos parâmetros fitossociológicos e outra para o ordenamento.
Quanto a analise da diversidade, adotou-se a distinção feita por Whittaker (1972, 1973) em diversidade alfa e beta. Para a diversidade alfa utilizaram-se os índices de Shannon & Weaner e Simpson, o cálculo destes índices seguiu o programa MVSP. Quanto à diversidade Beta, foi analisada como uma medida de mudanças ambientais ao longo do gradiente, expressa pelo Coeficiente de Comunidade como descrita por Sorensen (1948).
Para classificação ( TWINSPAN) e ordenação (PCA e CCA) utilizou-se o Programa PC-Ord.
RESULTADOS:
Nas 4 áreas, foram amostrados 1023 indivíduos, distribuídos em 42 famílias, com 131 espécies e treze espécimes não identificados. A famílias com maior número de espécies foram: Leguminosae, com 19 espécies e Myrtaceae, com 8 espécies.
Os valores do Índice de Diversidade de Shannon-Wiener foram: H’5,25, Roncador; H’4,69, Manso; H’4,76 Cuiabazinho; H’ 3,61 Cuiabá.
O TWINSPAN dividiu as espécies e as parcelas de Roncador em dois grupos: A que corresponde às espécies e parcelas vinculadas ao ambiente seco ou cerrado, e o B correspondem às espécies e parcelas das florestas ripárias.
Os dendogramas gerados pelo TWINSPAN, para as áreas de Manso, Cuiabazinho e Cuiabá também dividiram as espécies e as parcelas em dois grupos, onde A corresponde às espécies e parcelas vinculadas às florestas semidecíduas, e o B corresponde às espécies e parcelas vinculadas às florestas ripárias.
A Ordenação feita pela CCA para os dados combinados de solo, topografia e vegetação confirmaram a atuação das variáveis ambientais na distribuição das espécies. Em Roncador, as espécies foram mais abundantes nas parcelas com topografias mais elevadas e solos arenosos;
Em Manso as espécies foram mais abundantes em parcelas com predominância de solos com maiores proporções de argila e silte.
Em Cuiabazinho as espécies foram mais abundantes em parcelas com solos arenosos distantes das margens do rio. Em Cuiabá, a variável que influenciou fortemente a distribuição das espécies foi à topografia.
CONCLUSÕES:
Os diques marginais do rio Roncador diferem muito topograficamente e floristicamente dos diques de Manso, Cuiabazinho e Cuiabá. Este fato explica-se por este rio está inserido em área de planalto (Planalto da Casca) com vegetação do tipo cerrado, enquanto os outros rios estão inseridos em uma área de depressão (Depressão Cuiabana).
A análise direta do gradiente evidenciou padrões estruturais diferentes entre as áreas e os seus respectivos estandes. Verificou-se para o rio Roncador, assim como para Manso e Cuiabazinho, valores elevados para caules, e estes valores devem-se ao fato de ocorrer indivíduos com 2 ou mais caules. A formação de vários caules pode ser considerada uma adaptação às condições ambientais como ao stress de inundação ou adaptação ao fogo.
O gradiente hidrotopográfico, identificado nos quatro sítios foi claramente correspondido pela distribuição das espécies arbustivas. Apesar das variações granulométricas e na matéria orgânica dos solos, é bem possível que seja o regime de água o principal fator ambiental associado à distribuição das espécies arbustivas.
Finalmente, esta pesquisa dá subsídios para renovação das políticas ambientais, pois a linha máxima de inundação pode auxiliar como instrumento na regulamentação do zoneamento dos sistemas ripários, visando tanto à manutenção destas comunidades, quanto à minimização futura das perdas materiais e humanas em face das grandes cheias em áreas de maior risco de inundação.
Instituição de fomento: CNPq/CT-Hidro Projeto Ecologia do Pantanal-Programa SHIFT
Palavras-chave:  vegetação ripária; Bacia do rio Cuiabá; pulso de inundação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004