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C. Ciências Biológicas - 1. Biofísica - 2. Biofísica de Processos e Sistemas
ASPÉCTOS DO USO DA DESCARGA DO ÓRGÃO ELÉTRICO DO Apteronotus albifrons (LINNAEUS, 1766) COMO BIOMONITORADOR
Erik Solimeno 1   (autor)   esolimeno@yahoo.com.br
André Luís Lapolli 1, 2   (orientador)   alapolli@net.ipen.br
1. Depto. de Ciências Biológicas, Universidade Cidade de São Paulo - UNICID.
2. Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN.
INTRODUÇÃO:
A importância da preservação da qualidade da água doce, comum a todos componentes primordiais do meio físico natural, reside no fato de ser suporte ao habitat humano, e de todos os seres vivos. Entretanto o problema está se aguçando a cada dia, uma vez que a falta e mau uso crescente desse recurso causará futuramente uma crise no abastecimento promovendo assim uma competição entre todos os usuários, e devido a esse problema considera-se a necessidade de se criar instrumentos para avaliar a evolução da qualidade das águas, de forma a facilitar a fixação e controle de metas visando atingir objetivos permanentes. E entre alguns dos possíveis instrumentos está a utilização de biomonitoradores como peixes dotados de órgãos elétricos neurogênicos. Neste trabalho foram utilizados peixes do gênero Apteronotus, mais especificamente o Apteronotus albifrons conhecido comumente como ituí-cavalo, que são caracterizados pela produção de descargas elétricas de baixa tensão, e as mudanças na freqüência das descargas estão associadas mais estritamente com comunicação social e alterações no ambiente por esse motivo este teve como objetivo medir essa descarga e avaliar as freqüências de onda emitidas pelo animal quando submetido a substâncias poluentes, sejam estas derivados de petróleo ou não.
METODOLOGIA:
Utilizou-se aquários de 2 l onde os animais foram colocados individualmente para constatação da freqüência dos pulsos elétricos emitidos. Com base nos relatos de comportamento, desenvolveu-se um sistema onde as descargas liberadas pelos peixes eram captadas por três eletrodos de aço inox (um aterrado ao sistema) envolvidos em tubos de PVC, perfurados de tal forma que não permitisse o contato direto dos peixes, mas mantendo-os embebidos na água (evitando distorção do sinal elétrico, mas mantendo o contato elétrico dos mesmos com a água). Os eletrodos foram dispostos de tal maneira que o terra ficasse entre os outros dois permitindo a detecção dos sinais sempre que o peixe se encontrasse entre um deles e o terra. O sinal detectado foi amplificado mil vezes para reduzir a incidência de ruído. Os pulsos foram monitorados durante todos os testes por um osciloscópio que forneceu os dados necessários para a conclusão e comparação dos resultados. Com o sistema já montado os animais eram colocados nos aquários onde se fez medições para constatação da freqüência de oscilação dos pulsos elétricos de cada um dos peixes, e com as freqüências de cada um estipuladas e registradas, iniciaram os testes introduzindo os poluentes na água, que se apresentava com pH6, em doses de 0,5 ml com intervalo de cinco minutos entre cada dose. Os poluentes estão relacionados a produtos despejados nas águas, foram: ácido acético 1N, ácido clorídrico 10%, hidróxido de amônio 25%, gasolina e óleo sintético.
RESULTADOS:
Todos os peixes estudados apresentam uma baixa freqüência de emissão dos pulsos, 1 KHz. Com a introdução de ácido acético na água observou-se que somente a partir de 3,5ml constataram-se alterações nos animais, porém essas foram somente comportamentais, já que a freqüência de descarga elétrica se manteve estável até a ultima adição da substância que foi de 6,0 ml para evitar a morte do animal. Os testes com ácido clorídrico se mostraram os mais peculiares, pois no momento em que 0,5 ml da substância se diluía na água a freqüência dos peixes se tornava imperceptíveis aos aparelhos, assim como qualquer freqüência de outra origem, causando apenas uma leve alteração comportamental. Com relação a alterações de freqüência os resultados obtidos na utilização de hidróxido de amônio se mostraram semelhantes aos do ácido acético 1 N já que a mesma não se alterou com a introdução da substância no ambiente onde o animal se encontrava, causando apenas mudanças comportamentais e com 3,0 ml de substância na água ocorreu a morte do animal. Foi constatada, em presença de gasolina, alteração na freqüência emitida pelos peixes com 13 ml de substância na água, diminuindo sua freqüência de 1 KHz para 0,8 KHz, provavelmente devido às substâncias contidas na gasolina que afetam a seu sistema nervoso. A introdução de óleo sintético no ambiente em que o peixe se encontrava não provocou alteração, a não ser uma leve variação comportamental.
CONCLUSÕES:
Apesar de sua comprovada estabilidade de descarga e a comprovação da alteração de sua freqüência de onda em casos especiais, o uso do Apteronotus albifrons como biomonitorador não pode ser considerado em todos os casos, mesmo em derivados de petróleo, sendo necessários estudos mais aprofundados para se ter uma resposta de quais substâncias provocam alterações significativas em seus pulsos elétricos, portanto o seu uso na biomonitoração acaba se tornando não muito viável até que se tenha um domínio de seu comportamento para fins de utilização em maior escala, e que estudos mais complexos e detalhados sejam feitos e reunidos para uma padronização dos métodos e situações em que esses animais possam ser empregados.
Instituição de fomento: Universidade Cidade de São Paulo
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Órgão elétrico; Apteronotus albifrons; Ituí-cavalo.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004