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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 2. Lingüística Histórica
TOPÔNIMOS NA MEMÓRIA DO Pe. JOSÉ MANOEL DE SIQUEIRA - 1874
Miquéas Nunes dos Santos 1   (autor)   miqueassantos@yahoo.com.br
Manoel Mourivaldo Santiago Almeida 2   (orientador)   horas@terra.com.br
1. Pós-Graduando do Departamento de Letras, Instituto de Linguagens - UFMT
2. Prof. Dr. do Departamento de Filologia, Faculdade de Filosofia e Letras - USP
INTRODUÇÃO:
Neste trabalho filológico de edição de texto manuscrito do século XIX, procurei observar os Topônimos usados pelo autor. Os Topônimos constituem fonte inesgotável do passado da terra, das suas gentes, das suas atividades, da sua história, ou das simples peripécias que ali ocorreram. Ligam-se muitas vezes com os povos que ali habitaram, com os acontecimentos que ali se deram, com as personagens que de algum modo se ligaram àquele local ou terra. Foi na tentativa de resgatar um pouco dessas motivações, que iniciamos este trabalho, procurando mostrar um pouco da história da nossa região com base nos topônimos em um documento histórico. A edição de textos antigos justifica-se pela importância histórica que muitos têm, pelo seu valor literário e também porque estes documentos normalmente estão confinados em arquivos, sendo difícil o acesso a tais documentos, e às vezes por está longe do pesquisador. Estou certo de que este trabalho poderá contribuir com subsídios para a lingüística histórica, mesmo porque ele descreve uma fase da nossa língua em um período ainda pouco estudado, podendo ser utilizado para um estudo diacrônico do português brasileiro, e poderá ainda ser de interesse para o estudo da história e geografia da região.
METODOLOGIA:
O manuscrito eleito para a pesquisa é: Martírios: elementos para huma pequena memória a este respeito, escrito em 1874, pelo padre José Manoel de Siqueira, natural de Cuiabá, professor de filosofia e naturalista, tendo morado em Cuiabá e também em Goiás. É patrono da cadeira numero 11 da Academia Mato-grossense de Letras. A pesar do título ser memória, na verdade o documento em epígrafe é um roteiro para as famosas minas dos Martyrios. Aquelas que muitos bandeirantes, governantes, e alguns naturalistas tentaram alcançar em várias oportunidades. A característica do trabalho determina em parte a metodologia adotada, sendo este um trabalho de edição de texto antigo, utilizei procedimentos da Edótica; ciência que utiliza o método crítico para apuração do texto, em busca da sua genuinidade com objetivo de publicação (SPINA, 1977). Assim sendo, as pesquisas foram feitas principalmente no Museu Paulista da USP, na Biblioteca Nacional, no Arquivo Público do Estado de Mato Grosso-APMT, no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso - IHGMT, entre outros. Num primeiro momento, fiz a operação chamada na Edótica de Recensio, que é o levantamento do maior numero possível de cópias ou testemunhos. Em seguida fiz a edição semidiplomatica do texto, para então proceder ao levantamento dos Topônimos utilizados pelo autor.
RESULTADOS:
Os topônimos encontrados no documento são de dois tipos:
a) Localidade:
Urucumacuam, Mato Grosso, Jaime, Martyrios, Cuiabá/ Cuiajaava, São Paulo, Guiazes/Guayases, São Gonçalo, Serra e Penedo de São Jerônimo, Minas Gerais, Lagoa do Pires, Ouro Preto, Vila Rica, Mariana, Lisboa, e Pará.
b) Rios:
Rio grande, Araguaia, Paranatinga (rio branco), Porrudos, Pararioné, Cabaçal, Aravirá, Ribeirão do Carmo, Arinos, São João e Tapajós.
CONCLUSÕES:
Através do estudo pude comprovar a verdade dita na introdução acerca dos topônimos. São muitas as informações contidas no relato do padre José Manoel de Siqueira, quero destacar a motivação para os topônimos Cuiabá e Morro de São Jerônimo. Sobre o primeiro, em nota de pé de pagina o autor esclarece Eram três alojamentos cuiajaava, que segnefica gente cahida e os dous Coxiponezes merim e guassú, id est pequeno e grande... (1r: 59). Quanto ao segundo, a narrativa é mais interessante: O velho bandeirante Antonio Pires de Campos, que morou em Chapada dos Guimarães/MT, contava aos seus vizinhos que os bandeirantes quando estavam em suas andanças pelo sertão, chegaram à Serra da Canastra, provavelmente por eles batizada com tal nome, e acamparam junto ao Penedo da Canastra. Naquela noite caiu violenta tempestade, com raios fortíssimos, fazendo com que os bandeirantes rezassem a São Jerônimo, padroeiro e santo protetor dos raios e dos trovões. Amanhecido o dia e amainada a tempestade, seguiram viajem a procura de índios para o apresamento, e nessa manhã, denominaram o morro, ao pé do qual haviam acampado, de Penedo de São Jerônimo, entendendo que o santo padroeiro os atendera em suas preces, nas horas angustiantes da tempestade ameaçadora.
Palavras-chave:  TOPÔNIMOS; 1874; Pe. JOSÉ MANOEL DE SIQUEIRA.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004