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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A EXPERIMENTAÇÃO NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DAS CIÊNCIAS NATURAIS: REALIDADE OU MITO?
Maria de Lourdes Pereira 1   (autor)   lourdinhapf@yahoo.com.br
1. Departamento de Metodologia da Educação, Centro de educação, Universidade Federal da Paraíba - UFPB
INTRODUÇÃO:
Os avanços da sociedade atual na área científico-tecnológica exigem efetivas inovações no sistema educativo. Talvez, por isto, ao longo das últimas décadas, numerosos pesquisadores educacionais, a exemplo de Verona López e Martinez Moreno (1991 a 1995); Gómez Palácios et al (1980-19991); Gadotti (1995); Freire (1988); Prieto e Watson Roderick (1994); Marín Ibáñez (1995); Aikenhead (1995); Pereira (1999-2003), dentre tantos outros, analisam o processo de ensino aprendizagem tal como está ocorrendo nas programações de aula. Ora propondo o rompimento da posição tradicional de ensino, ora construindo teorias centradas no paradigma aluno-sujeito; ora propondo novos métodos e técnicas pedagógicas centradas na construção do saber.
Criticam-se dois paradigmas o ensino por transmissão de conhecimentos elaborados e o ensino por descobrimento indutivo e autônomo. Frente a essa realidade os referidos autores propõem o ensino por investigação, que supõe inovações tanto conceituais quanto metodológicas centradas na reflexibilidade, ludicidade, criatividade e criticidade. Neste sentido, o Novo Manual para o Ensino de Ciências Naturais proposto pela UNESCO (1989), recomenda que situações prático-experimentais constituam o eixo principal das atividades em sala de aula.
Diante do exposto, estabeleceu-se como objetivo do estudo analisar as diretrizes procedimentais quanto à dinâmica de aula, na tentativa de minimizar a clássica dicotomia teoria–prática no âmbito das Ciências Naturais.
METODOLOGIA:
Optou-se pelo estudo etnográfico, por ser um tipo de investigação que permite registrar valiosos dados no âmbito da aprendizagem formal e informal. Segundo Bouché, (1998) os temas da etnografia escolar são amplos e variados. Assim, os etnógrafos educativos se ocupam em estudar a educação quanto aos aspectos críticos dos currículos, quanto a existência de conflitos fora e dentro da aula, ou situações de fracasso, ou êxito escolar, bem como qualquer outro tema de comunicação entre educadores e educandos.
Nesse parâmetro estudou-se, no decorrer do ano letivo 2003, uma amostra composta por dois coletivos, de vinte Escolas de ensino fundamental da grande João Pessoa Paraíba. O primeiro formado por trinta professores e o segundo constituído por trezentos alunos. Ambos selecionados através de sorteio eqüiprobabilístico simples sem reposição (Fisher & Yates, 1971).
Como instrumento de coleta de dados utilizaram-se as entrevistas estruturadas, gravando-se em fita cassete as respostas de cada sujeito, para posterior análise de conteúdo, cujos dados estatísticos foram agrupados na forma de Tabelas e Gráficos. Desta forma, organizou-se o estudo comparativo sobre opiniões docente-discentes a respeito das práticas ou modelos pedagógicos vivenciados em aulas de Ciências Naturais. Para comparar os resultados da análise de conteúdo aplicou-se o Teste de Wilcoxon Matched-Pairs. Estudou-se, por ordem de valor absoluto, convergências e divergências sobre os pensares de cada sujeito.
RESULTADOS:
Em várias escolas municipais o ensino da disciplina Ciências Naturais estava centrado na clássica dicotomia teoria x prática. Ou seja, 55,8 % do coletivo discente afirmaram que as aulas eram expositivas e nunca realizavam experimentos. Situação similar ocorreu para 60,8% das aulas ministradas em escolas estadual e militar. O índice é reduzido para 51,8% nas escolas particulares, porém 18,5% dos estudos prático experimental era realizado como atividades extraclasse.
Constatou-se que alguns professores reconheciam que o ensino por investigação facilitava a reconstrução dos conhecimentos científicos ao fomentar o desenvolvimento das habilidades mentais ou capacidades crítico-reflexivo-criativas no âmbito da sala de aula. No entanto, por exigências administrativas no sentido de cumprir o estudo dos conteúdos programáticos pré-estabelecidos, bem como a escassez de laboratórios e instrumentais necessários ao processo de iniciação científica em aula, dificultavam a vivência de atividades prático-experimentais. Esses resultados foram condizentes às concepções epistemológicas de Aikenhead, (1995:468) quando afirmava:
O ensino de Ciências não prepara os estudantes para as mudanças sociais, nem para ser futuros cidadãos, posto que não promove a valorização crítica e a tomada de decisões, particularmente nas interações Ciência/ Tecnologia /Sociedade.
CONCLUSÕES:
Conforme declarações dos coletivos docentes e discentes, objeto deste estudo, o processo de iniciação científica no ensino fundamental ainda está limitado à realização de alguns experimentos: ora como atividades extraclasse, ora por demonstração prática do professor, ora por trabalhos de pesquisa. Por outro lado, dentre os quatro tipos de escolas investigadas as particulares apresentaram maior índice de atividades prático-experimentais, porém realizadas, apenas, pelos docentes ou como atividades consideradas extraclasse (relatório oral ou experimentos demonstrados, em classe, por estudo dirigido).
Estes resultados confirmam algumas das concepções de Marín Ibáñez (1988: 13) quando afirma:
O ensino de Ciências tem sido um ponto deficitário no processo de iniciação científica em aula. É também uma das disciplinas típicas de fracasso escolar. Parece que a investigação está reservada somente para especialistas e é o campo aonde a seqüencialidade rigorosa e a dependência de uma ciência já elaborada, dá pretextos para uma didática menos personificada e criativa.
Portanto, o corpo de conhecimentos referente ao ensino de Ciências Naturais de que dispomos neste momento, oferece modelos e teorias sobre o que existe um apreciável consenso na comunidade internacional. Estes modelos são tidos em conta nos desenhos curriculares de vários países. A consideração dos mesmos demanda inovações na prática diária em aula de Ciências, em detrimento de alguns enfoques chamados tradicionais.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Educação; Ensino de Ciências; Ensino Fundamental.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004