IMPRIMIR VOLTAR G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA E A ELEIÇÃO DE DIRETORES: O QUE PENSAM OS PROFESSORES. Artemis Augusta Mota Torres 1   (orientador)   atorres@cpd.ufmt.br Cleusa Bernadete Larranhagas Mamedes 1, 2   (autor)   cleusabernadete@zipmail.com.br 1. Instituto de Educação,Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT 2. Departamento de Letras, Faculdade Católica Rainha da Paz-FCARP INTRODUÇÃO: O nosso horizonte para o conceito de gestão democrática é o de construção da cidadania que inclui autonomia, participação, construção coletiva e pensamento crítico em oposição à idéia de subalternidade, mas que envolve também, responsabilidade, prestação de contas e espaço público. Em Mato Grosso, a implantação da gestão democrática nas escolas foi incorporada em dois períodos: em 1987, por meio da criação de conselhos deliberativos, eleição para a escolha dos dirigentes das escolas, perdurando até o início de 1991, e retomados em 1995. A eleição de diretores adquiriu lugar de destaque no processo de democratização da escola e dos sistemas de ensino, chegando erroneamente, segundo Erasto Mendonça, a ser considerada sinônimo de gestão democrática, é uma das maneiras, sem ser a única, de materializar esse princípio constitucional no ensino público. A sua realização cria vínculos entre a comunidade, alunos, trabalhadores em educação e direção eleita em torno de um projeto de trabalho coletivo. Neste estudo, destacamos a abordagem "eleição de diretores" como uma das instâncias de participação da comunidade escolar no processo de democratização da escola. O foco é a participação do segmento professor, para além do que é definido oficialmente pela legislação em vista de suas interpretações que, no seu dia-a-dia, lhe dão vida concreta. O objetivo foi o de investigar as interpretações dos professores sobre a eleição de diretores enquanto espaço de democracia e cidadania. METODOLOGIA: Pesquisa de abordagem qualitativa. A pergunta norteadora foi: "A eleição de diretores pode ser considerada um espaço de democracia e cidadania?" O estudo foi realizado em duas escolas públicas da rede estadual da cidade de Araputanga-MT, num período de 5 meses. A exploração inicial, previu contatos com as duas escolas, seus diretores e professores, observações do ambiente escolar e leitura do documento denominado "Quadro Demonstrativo da Escola" ano 2003, para viabilizar uma visão geral das escolas. Utilizamos as técnicas de: entrevistas semi-estruturadas com 23 professores (efetivos e interinos), sendo que 5 deles eram candidatos à diretores e 2 ocupavam o cargo de diretor; questionário aplicado para caracterizar o grupo de professores; observação por um período de três meses (novembro/2003 a janeiro/2004), das atividades das escolas com objetivo de acompanhar como os professores se manifestam nesse processo de democratização da escola, seja na condição de candidato, de docente ou no cargo de diretor; observamos em seis reuniões realizadas nas escolas, onde os professores candidatos apresentaram suas propostas de trabalho ao grupo de professores; e também reuniões após a eleição para verificar como o professor eleito diretor se manifesta na prática em relação ao seu discurso de campanha. RESULTADOS: 56% dos professores entrevistados reconhecem na eleição de diretores um espaço democrático e de exercício da cidadania. Justificam de maneira superficial, sem muita criticidade, apontando o ato de votar como sinônimo de democracia. Entretanto, os 44% dos professores expressam um sentimento contraditório em relação ao que representou o período eleitoral nas escolas; pois tanto nas entrevistas como nas observações realizadas, os professores não participaram da construção de uma proposta coletiva para a escola; os professores interinos são os que menos participam. Conchavos, ofensas pessoais, politicagem representada pelos interesses políticos de pessoas ligadas à política partidária local, bem como a composição de grupos isolados ligados ao professor candidato; chocam-se com os princípios da gestão democrática. Depois de eleitos, os professores /diretores, apresentam uma certa dificuldade na condução de um trabalho coletivo, que envolva efetivamente a participação dos professores. Não percebemos preocupação dos professores e nem dos candidatos em realizar uma reflexão/ação sobre as propostas de trabalho e seu desenvolvimento. CONCLUSÕES: Com esse estudo, observamos algumas especificidades e limites vinculados à questão da eleição de diretores, enquanto uma das instâncias de envolvimento da comunidade escolar, instituída pela gestão democrática, tendo como objetivo conhecer a interpretação dos professores sobre esse importante momento da escola pública de Mato Grosso. Encontramos opiniões que circulam em torno da certeza de que este é o caminho para a construção de uma vida democrática nas escolas e exercício de cidadania para todos aqueles que a compõem. Apesar da eleição ser reconhecida como forma de fortalecimento da democracia e oportunidade de participação de diferentes segmentos que representam a comunidade escolar, existe uma grande dificuldade dos professores no que se refere a se sentirem sujeitos/atores desse processo. Percebemos a ausência de uma cultura da participação social, o que tem favorecido a omissão dos professores em relação ao coletivo. Transferem suas obrigações para aquele que elegem, no caso o diretor, não contribuindo para a escolha de uma liderança que coordene trabalhos coletivos na escola. O que parece claro com relação eleição/democracia/exercício da cidadania é que o voto não assegura a vivência de trabalho coletivo, A eleição de diretores não pode ser indicador de que a gestão da escola é democrática. É complexa a constituição de sujeitos democráticos num contexto de práticas eleitoreiras e em contextos organizacionais ainda centralizadores e burocratizados. Instituição de fomento: Faculdade Católica Rainha da Paz-FCARP / Secretaria Est.de Educação de Mato Grosso-SEDUC Palavras-chave:  Gestão Democrática; Eleição de Diretores; Participação dos Professores. Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004