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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
AVALIAÇÃO FORMATIVA E CONSELHO DE CLASSE: IDENTIDADES CONSTITUÍDAS PELA ASSIMETRIA DE PODER
Liliiane Jaqueline Guimarães Ribeiro 1   (autor)   li.lia@pop.com.br
1. Depto. de Lingüística, línguas clássicas e vernácula, Universidade de Brasília-UnB
INTRODUÇÃO:
Habermas afirma que o mundo da vida está sendo colonizado por sistemas que o controlam. A escola, como instituição bastante estruturada, é um dos sistemas que mais contribui para esta colonização. Este fenômeno ocorre pelos níveis de expectativa que os indivíduos possuem a respeito da escola. Ela é vista como forma de ascensão social e cultural para a maioria da população, “a única oportunidade de se tornar alguém na vida”, o que naturaliza e legitima a assimetria de poder entre professor(a) e aluno(a). É através do ato avaliativo que esse poder institucionalizado se revela mais claramente. Ele seria, em última instância, o culminar de um processo em que o(a) aluno(a) está constantemente submetido(a) ao olhar inquiridor dos(as) professores(as) que registram suas notas para determinar quem está ou não apto a prosseguir. A partir da década de sessenta, uma “nova visão” em relação à avaliação vem sendo difundida e adotada pelos sistemas educacionais de vários países, como Reino Unido, E.U.A., Austrália, Nova Zelândia e Brasil: a avaliação formativa, cujo objetivo é opor-se à avaliação somativa praticada há décadas. Verificar o papel da avaliação formativa empregada coletivamente pelo conselho de classe de uma escola de ensino médio de Taguatinga, cidade satélite do D.F., na formação da identidade dos(as) alunos(as) é o principal objetivo deste trabalho.
METODOLOGIA:
Para compreender as práticas sociais contemporâneas é necessária a pesquisa social de aspectos sistemáticos da dimensão discursiva. É neste aspecto que a análise do discurso crítica (ADC) tem uma contribuição fundamental, pois ela pode nos permitir estarmos clara e firmemente orientados(as) em direção ao campo da pesquisa social na modernidade tardia. Esta pesquisa tem como base teórica e metodológica o eixo norteador de pesquisa para a ADC-identidade e diferença-proposto por Norman Fairclough e Lilie Chouliaraki. Seis alunas de 3º ano do ensino médio de uma escola pública de Brasília participaram da pesquisa a qual se realizou no próprio colégio. Foram feitas duas perguntas cujas respostas foram gravadas e transcritas posteriormente para análise. As perguntas foram: 1-Como as regras do conceito formativo foram passadas a vocês? 2-Por que as notas do conceito formativo foram tão baixas? A entrevista aconteceu após um conselho de classe formativo no qual os(as) professores(as) classificavam os(as) alunos(as) com os símbolos A, B, ou C conforme tenham se desempenhado bem, regular ou ruim ao longo do bimestre no que tange a cumprimento de tarefas, comportamento, participação...
RESULTADOS:
Segundo a escola francesa de análise de discurso, os sujeitos são constituídos pela prática social, são interpelados. A posição é estabelecida para o sujeito socialmente mediada pela linguagem. O sujeito não escolhe seu lugar, ele é posicionado. Por meio das respostas das seis alunas aos dois questionamentos, verificou-se que apesar das posições oferecidas, nem todas as aceitam, provando a teoria da escola britânica que apesar de admitir certos posicionamentos fixos afirma que em determinados momentos podemos fazer escolhas. Expressões como: “o aluno tem direito a se defender”, “nós somos julgados na verdade”, “meus colegas foram julgados injustamente”, “nós somos rotulados”, “você tem que saber o porquê”, “ninguém sabe que o aluno trabalha, pensa que aluno vive só pra escola” retiradas das falas das alunas (dentre outras bastante significativas) revelaram a necessidade de negociar as identidades impostas pelos(as) professores(as) por meio do conceito formativo.
As respostas das alunas na entrevista revelaram claramente a tensão causada ao se definir as identidades dos(as) alunos(as)
CONCLUSÕES:
O primeiro ponto a destacar é que hoje o(a) aluno(a) não aceita passivamente a nota recebida (meus colegas foram julgados injustamente), porém a autoridade do(a) professor(a) não é questionada (você tem que saber o porquê), cabe a ele(ela) avaliar, classificar, rotular. O que se reivindicou todo o tempo é que isso fosse feito de forma transparente, levando em conta as outras identidades que eles(elas) possuem (na família, no trabalho...). O segundo ponto levantado é que esse conceito, embora conseguido por voto da maioria, não provoca discussão entre os(as) professores(as) sobre a condição de cada aluno(a). Apesar do nome, conceito formativo, verifica-se que as velhas formas de avaliar, segundo Foucault usar o poder disciplinar, continuam, não houve mudança no autoritarismo praticado nas escolas.
Palavras-chave:  poder; identidade; avaliação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004