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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 3. Literaturas Clássicas
O LAGO XARAYES (PANTANAL): O PARAÍSO TERRESTRE NA VISÃO DE PESQUISADORES DO SÉCULO XVIII - UM ESTUDO INTERTEXTUAL COM A OBRA Naturalis Historia DO ESCRITOR ROMANO PLÍNIO, O VELHO
Ivone da Silva Rebello 1   (autor)   Profa. Dra. / ivone.rebello@bol.com.br
Eliana da Cunha Lopes 2   (autor)   Profa. Mestra / elianacunha@aol.com
1. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - PCRJ
2. Depto. de Filosofia e Letras, Faculdade Gama e Souza - FGS/RJ
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho consiste num estudo histórico-lingüístico-literário e comparativo de duas obras de diferentes épocas e autores e, ao mesmo tempo, escritas com finalidades distintas. São elas: Notícias do Lago Xerayes (manuscrito de 1786 - século XVIII) do demarcador e astrônomo Dr. Antônio Pires da Silva Pontes e Naturalis Historia (século I d.C.) do escritor romano Plínio, o Velho (23-79 d.C.). O primeiro texto consiste numa Memória, com formato de narrativa de viagem, tendo finalidades geo-políticas, ou seja, retificar/ratificar a demarcação dos limites das terras brasileiras (em especial, as mato-grossenses) pertencentes à Coroa Portuguesa, conforme o Tratado de Santo Ildefonso, de 1777. Já o segundo texto, o autor compôs uma vasta obra de caráter enciclopédico, com um inegável valor histórico para o estudo dos acontecimentos científicos na Antigüidade. Em seu Liber II, Plínio relata sobre a física do Universo e de seus elementos constituintes. Tais textos foram analisados dentro de uma visão histórico-lingüístico-literária e comparativa, com o objetivo de provar que a intertextualidade hetero-autoral irá consubstanciar a relação entre textos de diferentes épocas. O texto de 1786 estabelece um diálogo intertextual com o texto do século I d.C., buscando na linguagem estética as palavras e expressões que enriquecerão a visão referencial da informação em Notícias do Lago Xerayes, pois, ao "conhecer" o escritor romano, o astrônomo utilizou-se dos recursos lingüísticos oferecidos por Plínio, dando um maior significado às suas observações.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho, fizemos, inicialmente, uma revisão bibliográfica, a fim de adquirir subsídios teóricos para o suporte teórico em que se fundamentou a análise. Nossas reflexões foram orientadas por estudos que apontam para a Literatura Comparada, buscando-se um referencial teórico sobre a intertextualidade hetero-autoral nos críticos literários Julia Kristeva, Jenny Laurent, Lucien Dällenbach, Linda Hutcheon, Leyla Perrone-Moisés, Vitor Manuel de Aguiar e Silva. Para atingirmos o objetivo proposto, procedemos, portanto, a uma leitura histórico-lingüístico-literária e comparativa entre os textos escolhidos (Notícias do Lago Xerayes e Naturalis Historia- Liber II), a qual nos permitiu destacar muitos pontos em comum, considerando-se as referências contidas no manuscrito de 1786. Tais referências fazem alusão à obra de Plínio e nos dão evidências de que o Lago Xarayes ressurgia, na visão de pesquisadores do século XVIII, como o lugar paradisíaco para a existência humana, oferecido pela Mãe-Terra, conforme relata Plínio, em seu Liber II. Assim, "qualquer texto - segundo Julia Kristeva - se constrói como um mosaico de citações e é absorção e transformação dum outro texto". (LAURENT, 1979:13)
RESULTADOS:
Em nossa pesquisa, constatamos que o espaço e a época não constituem barreiras ao diálogo intertextual. O texto de Antônio Pires (século XVIII) e de Plínio (século I d.C.) apresentam-se muito atuais em suas observações sobre a natureza: o primeiro enfocando as belezas naturais do Pantanal (Lago Xarayes) e seu sistema ecológico (fauna, flora, hidrografia, clima, etnografia) e o segundo, numa visão geral, destacando também as belezas naturais da Mãe-Terra, habitat do homem. A partir de nossa análise intertextual, percebemos que o astrônomo Antônio Pires faz referências ao Liber II de Plínio, parafraseando o capítulo 63 ao final do seu texto, com o intuito de ressaltar que o homem sempre esteve em simbiose com a natureza, pois a sua existência depende deste contato harmonioso com o meio natural. Trata-se, portanto, de dois textos de diferente épocas, mas que se consubstanciam numa relação bastante representativa do universo intertextual.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que o problema da referencialidade, encontrada nos textos em estudo, serviu como índice reativador do processo metafórico das camadas mais profundas das relações intertextuais. À luz dos estudos críticos sobre intertextualidade, em Literatura Comparada, o texto do século XVIII recria uma visão paradisíaca da terra e de seus elementos, tal qual o texto do século I d.C. Assim, notamos que as relações textuais encerram toda a organização de um texto. Este, por sua vez, possui antecedente(s), ou seja, tem correlação com outro(s) texto(s). "As fronteiras de um livro - segundo Michel Faucault - nunca são bem definidas: por trás do título, das primeiras linhas e do último ponto final, por trás de sua configuração interna e de sua forma autônoma, ele fica preso num sistema de referências a outros livros, outros textos, outras frases: é um nó dentro de uma rede". (HUTCHEON, 1991:167)
Palavras-chave:  Literatura Latina; Literatura Comparada; Intertextualidade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004