IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
REPRESENTAÇÃO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO EM USUÁRIOS DE SERVIÇO DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO
Luziane Zacché Avellar 1, 3   (autor)   z.avellar@bol.com.br
Alexandra Iglesias 2, 3   (colaborador)   aleiglesias@terra.com.br
Camila Carlos Maia 2, 3   (colaborador)   milamaia.vix@terra.com.br
Cynthia Perovano Camargo 2, 3   (colaborador)   cynthia-psi@yahoo.com
Lorena Queiroz Merizio 2, 3   (colaborador)   lorenamerizio@terra.com.br
Luciana Pena Vila Lima 2, 3   (colaborador)   lupv@bol.com.br
Luciene Farias Lima 2, 3   (colaborador)   lufalima@hotmail.com
Mariana Bonomo 2, 3   (colaborador)   maribonomo@ig.com.br
Priscila Valverde Fernandes 2, 3   (colaborador)   privalverde@bol.com.br
Thaís Caus Wanderley 2, 3   (colaborador)   thaiscw@escelsanet.com.br
1. Profa. Dra. do Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento - UFES
2. Graduando da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
3. Pesquisadora do Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento - UFES
INTRODUÇÃO:
O tema que constitui o objeto da pesquisa é a Representação do Sofrimento Psíquico. A questão de como o sujeito interpreta e representa o seu sofrimento psíquico, está relacionada com a forma que o grupo o qual ele pertence reconhece tal representação como sofrimento. Entendemos que as condições de vida mais imediatas, e toda a rede social mais complexa, interferem na forma de se estruturar tal representação.
Os efeitos da globalização geram novas situações e temas que necessitam debate: desemprego, miséria, a modificação na estrutura familiar; o que produz novas formas de se representar o sofrimento psíquico.
Com esta pesquisa, procuramos descrever como o usuário de um serviço de atendimento psicológico significa o seu sofrimento psíquico, considerando as mudanças impostas nas relações sociais nos tempos modernos. Tivemos como objetivo principal descrever como os usuários que buscam espontaneamente atendimento psicológico sentem, nomeiam e representam tal sofrimento. A valorização da fala do paciente é fundamental para o trabalho, na medida que não partimos de nenhuma classificação definida a priori.
Justificaram a realização da pesquisa: a necessidade de rever sempre o tema da saúde mental, considerando que as configurações patológicas e as terapias evoluem segundo cada época, gerando novas formas de sofrimento psíquico e de expectativas de enfrentamento; e a necessidade de se produzir trabalhos que possam auxiliar na formação de profissionais na área de saúde.
METODOLOGIA:
Procedimentos: entrevistas semi-estruturadas com roteiro pré-estabelecido. Foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os participantes. As entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas para o procedimento de análise qualitativa dos dados.
Participantes: 10 pessoas, acima de 20 anos, que buscaram espontaneamente atendimento psicológico no Núcleo de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo. A escolha dos sujeitos foi aleatória, não tendo sido levado em consideração o sexo do participante.
Instrumentos: gravador, fitas cassete e computador para a transcrição das entrevistas.
RESULTADOS:
A análise das entrevistas permitiu captar as associações feitas pelos sujeitos sobre como sentem, nomeiam e representam o seu sofrimento. Tais pessoas foram agrupadas em duas categorias: os que descrevem tal sofrimento como passível de localização corporal e os que o localizam interna e subjetivamente.
O sujeito que chega a um serviço de atendimento psicológico, traz consigo histórias pessoais, narrando de modo peculiar o seu sofrimento. A origem deste é múltipla, remete a muitas experiências e se insere em diferentes categorias que podem ser notadas no cotidiano das pessoas: “é coisa ruim que sinto aqui dentro, é um aperto aqui dentro”, “me dá um nó na garganta, sensação de que vou desmaiar”. Tais pessoas localizam o sofrimento no corpo, buscando uma certa concretude do sofrimento, a possibilidade de localizar em seu próprio corpo algo que sente, que incomoda, mas que é subjetivo. Ele localiza, domina e se apropria do seu sofrimento.
A outra categoria que encontramos foi a das pessoas que descrevem o seu sofrimento como algo que se passa com ele interna e subjetivamente, se diferencia do físico, do corporal, e geralmente está associado a emoções: “sinto angústia, mágoa, tristeza”; “no meu subconsciente ainda tem esse peso em excesso”.
As formas de se representar tal sofrimento podem ser vistas em nosso cotidiano, as pessoas “captam” estas palavras e ao experienciar o sofrimento recriam o termo, agora dentro de uma lógica pessoal, inscrita em sua história de vida.
CONCLUSÕES:
Nossa pesquisa teve como objetivo descrever como os usuários que buscam espontaneamente atendimento psicológico sentem, nomeiam e representam o seu sofrimento psíquico. Após a análise das entrevistas, definimos duas categorias em que se dividiram os discursos dos sujeitos pesquisados: aqueles que localizam o sofrimento psíquico no âmbito corporal, representando o seu sofrimento como algo palpável e, uma segunda categoria de sujeitos que representa o seu sofrimento de maneira subjetiva, trazendo associações fortemente marcadas por emoções.
As categorias por nós construídas serviram para identificar algumas diferenças nos discursos dos sujeitos entrevistados, uma vez que o traço mais marcante de todas as entrevistas foi o caráter eclético, polimorfo e multifacetado de nomear e representar o sofrimento psíquico. Entendemos que é dessa forma que o psicólogo deve compreender a queixa trazida pelos pacientes, para que possa construir intervenções que acolham esse caráter multifacetado do sofrimento psíquico.
Palavras-chave:  Saúde Mental; Sofrimento Psíquico; Atendimento Psicológico.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004