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C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 3. Microbiologia
INTERFERÊNCIA DAS QUEIMADAS DE CANA SOBRE A MICROBIOTA FUNGICA ANEMÓFILA
Rubens Ferracini Junior 1   (autor)   frrcnjr@hotmail.com
Antônio Roberto Rodrigues Abatepaulo 1   (colaborador)   gerobita@hotmail.com
Fernando Eduardo Okamoto 1   (colaborador)   pajeokamoto@hotmail.com
Aristeu Gomes da Costa 1   (colaborador)   agcosta@hotmail.com
1. Depto. de Farmácia e Biomedicina - Centro Universitário Barão de Mauá - CBM
INTRODUÇÃO:
INTRODUÇÃO A agroindústria paulista, e em particular o setor do açúcar e do álcool, desempenham importante papel na economia regional e nacional, não apenas pelo valor intrínseco dos produtos gerados, mas também por fatores paralelos como geração de empregos indiretos em subsetores associados. Entretanto, algumas técnicas de manejo da cana-de-açúcar (matéria prima mais usada na produção de açúcar e álcool), embora reconhecidamente agressivas ao meio ambiente e à saúde humana e animal, continuam sendo praticadas. Este é o caso das queimadas de cana, prática polêmica, que durante os períodos de safra carrega o ar das cidades com fuligem e aumenta a concentração de compostos tóxicos de carbono no ar, colaborando para a intensificação de eventos biológicos como efeito estufa e chuva ácida, produzindo alterações microclimáticas, e elevando a incidência de doenças respiratórias nas populações locais. Neste contexto, o presente trabalho propôs-se comparar a composição e comportamento da microbiota fungica anemófila em zonas de cultivo e de não cultivo de cana-de-açúcar, e no primeiro caso avaliação em épocas de safra e não safra.
METODOLOGIA:
METODOLOGIA Num período de dois anos, amostras foram coletadas em cinco regiões do estado de São Paulo: Ribeirão Preto-Araraquara (R1), Ourinhos-Pirajú (R2), Registro-Peruíbe (R3), Amparo-Serra Negra (R4) e Araçatuba-Birigui (R5). As coletas foram realizadas à margem de vias públicas (rodovias e estradas vicinais), dentro das áreas pré determinadas, utilizando-se técnicas de sedimentação simples e de filtragem do ar (impactador de 2 estágios). Nas áreas onde o cultivo da cana é proeminente (R1 e R2), as coletas foram realizadas em períodos de safra (quando as queimadas são muito freqüentes) e de não safra. Para todas porém intervalos de 30 a 60 dias foram observados entre coletas. Em cada coleta, determinaram-se a temperatura e a umidade relativa. Para isolamento e contagem de fungos foram utilizados três meios: Sabouraud-Dextrose Agar (SDA), Agar Extrato de Malte (AEM) e Czapek Agar (CZA), com ou sem antibacterianos. A identificação de cada isolado foi realizada por técnicas convencionais, incluindo microcultivo e colônia-gigante em Batata-Dextrose Agar (micro e macromorfologia), auxanograma e zimograma para leveduras e confecção de laminário corado com Azul de Lactofenol Algodão e Gram. Todos os resultados foram tabulados e submetidos a testes estatísticos (t-student e qui- quadrado).
RESULTADOS:
RESULTADOS A primeira observação interessante diz respeito à diversidade dos isolados em cada região: verificou-se redução significativa (80% ou mais) no número de espécies isoladas nas áreas R1 e R2 quando comparadas com as demais. No particular, a área R1 foi a mais afetada nesse quesito, freqüentemente sendo recuperada apenas uma espécie, independentemente do meio ou condição de cultivo empregada, principalmente nos períodos de safra. A segunda observação interessante é relativa à contagem de unidades formadoras de colônias (UFC): embora a diversidade tenha se reduzido drasticamente, as contagens de UFCs em amostras oriundas de áreas de cultivo de cana-de-açúcar foram de 30 a 60% mais altas do que nas áreas de não cultivo. Além disso, as contagens de UFCs em amostras obtidas em períodos de safra foram em média 35% maiores do que em períodos de não safra. A terceira observação interessante, foi a redução drástica na recuperação de fungos da classe dos zigomicetos ou de esporuladores fortes como os gêneros Aspergillus, Penicillium, Fusarium, entre outros. Esses grupos fúngicos foram encontrados com freqüência muito maior nas áreas de menor degradação ambiental ou reduzida expressão da cultura canavieira (R3, R4). Nas áreas R1 e R2, isolados de Phoma, alguns demáceos e a maior parte dos não identificados predominaram (qualificados como Mycelia sterilia).
CONCLUSÕES:
CONCLUSÕES As áreas amostradas referem-se a regiões onde a agroindústria canavieira apresenta-se em diferentes estágios de desenvolvimento. Nas regiões onde a prática de queimadas, para facilitar o corte de cana, é praticada houve uma dramática redução na diversidade fúngica, com uma concentração dos isolados em poucas espécies. Esta redução indica alteração profunda no equilíbrio da microbiota local, e levando-se em conta as interações entre essa microbiota e o meio como um todo, pode-se imaginar que a deterioração ambiental em curso seja de gravidade maior do que noticiada. Alternativas às queimadas devem ser pensadas, propostas e implementadas, para que esta prática tão prejudicial possa ser banida. Como item adicional, a determinação da microbiota fungica pode ser utilizada como elemento indicador da qualidade do ar mesmo em ambientes abertos.
Instituição de fomento: Centro Universitário Barão de Mauá
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  microbiota; anemófila; indicador.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004