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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
A FIGURA DO MUNDO EM JOAQUIM DE FIORE (S. XII)
Cláudio Reichert do Nacismento 1   (autor)   claudio.querencia@mail.ufsm.br
Noeli Dutra Rossatto 2   (orientador)   rossatto@fatec.ufsm.br
1. Graduando do curso de Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2. Prof° Dr° do Depto e Mestrado em Filosofia da UFSM
INTRODUÇÃO:
A filosofia de Joaquim de Fiore (séc. XII) está intimamente ligada à mística monástica do período medieval. Aqui analisaremos uma das figuras-de-síntese utilizadas por esse abade calabrês em que aparece o tradicional arquétipo dos quatro animais: o Touro, o Leão, a Águia e o Homem. Na tentativa de clarificar o sentido da escritura, Fiore remonta à antiga doutrina dos quatro sentidos. Os quatro sentidos da escritura medieval estão vinculados a duas variantes básicas da interpretação: a literal ou histórica e a espiritual. A variante espiritual está subdividida em três: moral, alegórica e a anagógica. Num de seus textos, esses quatro animais também estão associados a quatro ordens de homens que atuam na história: a ordem dos apóstolos, caracterizada pelo Leão; a ordem dos mártires, pelo Touro; a do Homem representando a ordem dos doutores; e a Águia a dos contemplativos. Os quatro animais estão associados aos quatro elementos formadores do Mundo: Terra, Água, Fogo e Ar. Por isso, tal figura representa tanto o Mundo (ou História) quanto à própria interpretação do mesmo.
METODOLOGIA:
Análise semiótica de uma figura medieval com base em textos clássicos da época e apoiada em comentários atuais. A partir desse arquétipo joaquimita tenta-se estabelecer o vínculo hermenêutico com as Escrituras Sagradas, mais precisamente com livro de Apocalipse de João. Esse vínculo é mostrado através da verificação de um paralelo entre o Antigo e o Novo Testamento, em que as passagens bíblicas são vistas como repetidas em ambos os testamentos, e existe uma equivalência ou concórdia entre duas significações, as quais encontram uma única explicação espiritual. O princípio de inteligência espiritual é o seguinte: dois significantes mostram um único significado. No entanto, assim infere-se um terceiro significado, referente ao terceiro estado do mundo, o qual se estabelece na relação com os outros dois significantes e que está por ser revelado na Era do Espírito.
RESULTADOS:
Após a leitura de textos de Joaquim de Fiore e dos intérpretes contemporâneos chega-se a unidade do sentido da figura, bem como do texto, ao se estabelecer uma correspondência entre os elementos textuais, antes chamados de concórdia, e obter como resultado o seguinte: o Antigo e o Novo Testamento têm um único sentido espiritual. Ao contrário da exegese patrística, em que o Novo Testamento se sobrepõe ao Antigo, agora tem-se um caminho que leva para a ascensão e a mais viva contemplação do Espírito em um terceiro estágio da hermenêutica e, conseqüentemente, da história.
CONCLUSÕES:
Os animais da figura de Joaquim de Fiore não estão isolados. Eles estão dispostos em um caminho ascendente que vai do elemento mais baixo (Terra) ao mais alto (Ar) passando pelos intermediários (Água e Fogo). Isso demarca a via em que a alma ascende espiritualmente na medida em que incorpora e, depois, se libera dos elementos do Mundo. Por isso, a figura encontra similares na tradição medieval, antiga e moderna. Também pode-se dizer que a hermenêutica e semiótica contemporâneas buscam não mais o conteúdo da interpretação, mas sim entender seus elementos formais, isto é, como esta procede estrategicamente na interpretação de textos.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Arquétipo; Hermenêutica Medieval; Estratégia de Interpretação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004