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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
LINGUAGEM DO POVO-DE-SANTO: PRESENÇA DE VOCÁBULOS DO TRONCO LINGÜÍSTICO EWE-FON / JEJE-MINA NAS PRÁTICAS RELIGIOSAS E SOCIAIS NA CASA DAS MINAS EM SÃO LUIS DO MARANHÃO
Renato Kerly Marques Silva 1   (autor)   renatokerly@yahoo.com.br
Priscila Batista de Oliveira 1   (autor)   
Coneição de Maria Corrêa Feitosa 1   (autor)   
Kaylla Ferreira Pinheiro 1   (autor)   
Janick de Lisieux Diniz Serejo 1   (autor)   
Lissandra Helena Reis Martins 1   (autor)   
1. Depto de Letras, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
Em função da necessidade do resgate da manutenção e divulgação das manifestações culturais e religiosas que ocorrem na cidade de São Luís do Maranhão, tem-se como objeto de interesse a presença de inúmeros vocábulos de origem jeje-mina encontrados nos cultos afro-brasileiros, realizados na Casa das Minas, observando a sua utilização quase restrita aos cultos religiosos realizados naquela comunidade.
Ressalta-se que, no Tambor de Mina a língua-de-santo é entendida mais como um veículo de expressão simbólica do que propriamente de competência lingüístico-comunicativa, uma vez que, sua realização restringi-se aos recintos sagrados onde ocorrem as cerimônias dos cultos. Fora desse contexto alguns vocábulos jeje-mina são incorporados ao léxico da língua portuguesa, enriquecendo-a. No culto em referência o uso dessa língua está ligado, diretamente, à manutenção do sincretismo religioso.
Considerando-se a importância e tradicionalidade desse acervo lexical, cuja memória vem correndo risco de fragmentar-se ou mesmo extinguir-se, por conta do circuito fechado em que se articula (haja vista a redução cada vez maior do número de iniciados freqüentes aos cultos, manifestadores do fenômeno em alusão) alerta-se para a necessidade de um estudo e pesquisa do fenômeno em referência, propondo-se, nesta oportunidade um estudo interdisciplinar das relações, tanto da penetração deste acervo lexical, como da sua manutenção no repertório lingüístico dos freqüentadores e moradores da Casa das Minas.
METODOLOGIA:
Além do suporte teórico fornecido pelos professores Sérgio F. Ferretti (1996) e Yeda Pessoa Castro (2001), e a análise comparativa dos vocabulários expostos pelos dois em suas obras, realizou-se esta pesquisa a partir da análise de entrevistas aplicadas alguns freqüentadores da Casa das Minas. Analisando-se a utilização dos termos descritos nos vocabulários já coletados. Buscando-se assim observar a freqüência com que estes termos, de origem africana, seriam citados.
A escolha dos entrevistados teve por base, a participação destes nos cultos e festas realizadas na casa. Sendo para tanto, necessária sua freqüência há mais de um ano na Casa das Minas, e também, no mínimo de cinqüenta por cento das reuniões realizadas nesse período. A pesquisa contemplou um total de vinte entrevistados (sendo dezesseis mulheres e quatro homens), não se levou em consideração a diferença de sexo nem a idade dos entrevistados, embora todos contassem com mais de quarenta anos.
O questionário aplicado tinha por base questões referentes às atividades que os entrevistados participavam e as relações deles com os participantes mais antigos e com os outros freqüentadores da Casa das Minas.
RESULTADOS:
A partir dos vinte questionários propostos aos freqüentadores da Casa das Minas, pôde-se observar, dentre outros fatores, que:
Dezoito dos entrevistados conheciam da língua jeje-mina denominações dos voduns (santos) que freqüentavam a casa, como: Eova, Tobossi, Vodunsi etc;
Dez dos entrevistados citaram termos referentes a cômodos da casa, como: cone, guma, gumé etc;
Oito dos entrevistados conheciam termos que dizem respeito a objetos e funções, como: atabaque, abatá, abatazeiro, gã, ganto etc;
Cinco dos entrevistados citaram termos relacionados à cozinha ritualística, como: cariru.
Embora o vocabulário de domínio das mães de santo englobe mais de 250 termos já catalogados, os freqüentadores da Casa das Minas que não tem participação direta nos cultos e festividades lá realizadas, tem um acervo lingüístico bastante reduzido em relação às mães de santos.
CONCLUSÕES:
A partir dos dados coletados pôde-se observar que a língua jeje-mina é utilizada pelos freqüentadores da Casa das Minas, basicamente, para denominar os voduns (santos que são incorporados normalmente durante os cultos da casa, assim como à objetos sagrados utilizados nos ritos e também relacionados aos cômodos da casa, outros vocábulos relacionados aos cânticos, às saudações e expressões referentes às crenças, costumes específicos, cerimônias e ritos litúrgicos, aparecem em uma quantidade muito pequenas. Embora já tenha sido catalogado um número de mais de duzentos e cinqüenta termos de procedência africana, a utilização destes encontra-se intimamente ligada aos freqüentadores mais antigos, principalmente, no repertório lingüístico das mães de santo, Em função da manutenção do sincretismo religioso presente em todas as atividades realizadas na casa.
Diante dessa realidade, percebeu-se a fragilidade em relação a manutenção e perpetuação dessas marcas lingüísticas, tão necessária para a continuidade dos cultos jeje-mina e até mesmo da Casa das Minas.
Palavras-chave:  Sociolingüística; Língua Mina-jeje; Casa das Minas.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004