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F. Ciências Sociais Aplicadas - 9. Comunicação - 4. Jornalismo e Editoração
CORREIO BRAZILIENSE: DOCUMENTAÇÃO DE UMA CRISE
Ana Clara Torres Ribeiro 1, 2   (orientador)   ana_ribeiro@uol.com.br
Annie Karen Fares das Chagas 3, 4   (autor)   anniechagas@yahoo.com.br
1. Profa. Dra. do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) - UFRJ
2. Coordenadora do Laboratório da Conjuntura Social: Tecnologia e Território (LASTRO)/IPPUR - UFRJ
3. Graduanda em Jornalismo na Escola de Comunicação - UFRJ
4. Bolsista de Iniciação Científica do LASTRO/IPPUR - UFRJ
INTRODUÇÃO:
O trabalho consiste na análise de ocorrência excepcional registrada no Correio Braziliense em 2002: o amplo uso das páginas do próprio jornal com relatos da sua crise interna. Sob a forma de notas e editoriais, o Correio publicizou episódios que, em geral, não viram notícia. Este fato contraria o lugar-comum de que a imprensa denuncia a todos, menos a si mesma. É, aliás, esta característica que permitiria dizer que a mídia constitui uma forma específica de poder. Diante da excepcionalidade que constitui o seu objeto, o trabalho visa, então, apreender a crise institucional do Correio para além dos limites que cercam a sua notificação pelo próprio jornal, procurando desvendar a concreta natureza desta crise e as causas de sua transformação em produto do veículo observado. A relevância dessa questão remete ao debate sobre a democratização da comunicação. Espera-se contribuir para a reflexão desta questão, com inspiração nas palavras de George Santayna, “Os povos que esquecem a sua história estão condenados a repetí-la”. Nesta direção, acrescenta-se que, na velocidade que caracteriza a difusão diária da informação, a notícia de ontem já é história.
METODOLOGIA:
Através de elementos da análise de discurso, a pesquisa apoia-se, fundamentalmente, em editoriais publicados, em 2002, pelo Correio Braziliense. Além deste recurso de método, emprega-se o exame detalhado de cada exemplar do citado jornal, o que inclui o estudo dos seguintes segmentos: manchetes, notícias, cartas dos leitores, artigos, colunas e inserções publicitárias. Com especial atenção, observa-se a progressão temática dos editoriais, com destaque para as retrancas da primeira página. Paralelamente, utiliza-se textos afins, na maioria de jornalistas de Brasília, divulgados no sítio do Observatório da Imprensa. Ademais, constituem recursos deste trabalho, as informações empíricas e orientações analíticas das seguintes obras: A arte de fazer um jornal diário, de Ricardo Noblat; História da imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré; O jornal: da forma ao sentido, organizado por Sérgio Dayrell Porto; O que é jornalismo, de Clóvis Rossi; O papel do jornal, de Alberto Dines; Reinventando a Cultura, de Muniz Sodré.
RESULTADOS:
A análise dos editoriais do Correio Braziliense revela o conflito vivido no âmago da diretoria da empresa. Embora com presidente e vice-presidente próprios, o jornal pertence ao Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados. Este Condomínio administra o patrimônio deixado por Assis Chateaubriand, em regime de usufruto vitalício, para funcionários de suas empresas. Os condôminos divergiram da linha editorial do jornal, que se tornara mais independente após a reforma Projeto Correio, iniciada em 1996. O estopim do desentendimento entre os responsáveis pelo jornal e membros do Condomínio foi a publicação de denúncias envolvendo políticos locais, dentre eles, o atual governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. A divisão do grupo acionário tornou-se nítida em 2002, na diferença de posições entre o então presidente do Correio, Paulo Cabral, e seu vice, Ari Cunha. Num desfecho inesperado deste conflito, Cabral anunciou sua saída da empresa em nota de capa. O jornal também sofreu censura autorizada pela Justiça. Em seguida, o Correio recebeu correspondência recorde de leitores que defendiam a preservação da sua linha editorial. Estas manifestações, porém, não impediram a implantação de outra linha, defendida no editorial “Isenção e sensatez”, de 5 de novembro de 2002. Os principais movimentos da crise do Correio Braziliense são registrados e analisados através de: quadros-sínteses, gráficos, súmulas de discursos, imagens, reprodução sintética de orientações analíticas.
CONCLUSÕES:
Os membros do Condomínio Acionário das Emissoras e Diários Associados discordaram da linha editorial do Correio Braziliense e, sobretudo, das referências críticas ao jogo político local. Em síntese, pode-se distinguir dois grupos em conflito, que, ao recorrerem a diferentes interpretações das funções sociais da imprensa, disputam sentidos da noção de credibilidade: para um deles, a credibilidade significa transparência e, para outro, a credibilidade traduz-se em neutralidade. Cabe acrescentar, na análise da crise, os impactos da eleição de 2002 no Distrito Federal. Certamente, a divulgação de escândalos pelo maior jornal da capital interferiu na decisão de muitos eleitores. No mais, um jornal depende de seus anunciantes e está sujeito à interferência dos governantes. É necessário ressaltar, ainda, que o descaso pela reação dos leitores demonstra que o jornal escolhe a parcela da população que deve atender. Além disso, o jornal orienta-se por princípios empresariais e acordos políticos que, por vezes, o distanciam dos propalados ideais de serviço público. Acredita-se que esta grande tendência precise ser cuidadosamente contextualizada, pois, deste esforço, depende a ação daqueles que reivindicam a democratização das comunicações no país.
Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Correio Braziliense; crise de 2002; registro e análise.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004