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C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
FLUTAMIDA NO PERÍODO PERINATAL: EFEITOS TARDIOS NA REPRODUÇÃO DE RATOS MACHOS.
Rafael Candido de Oliveira 1   (autor)   rafael_oliveirabr@yahoo.com.br
Oduvaldo Câmara M. Pereira 2   (orientador)   pereira@ibb.unesp.br
1. Departamento de Farmacologia, Instituto de Biociências de Botucatu - UNESP
2. Departamento de Farmacologia, Instituto de Biociências de Botucatu - UNESP
INTRODUÇÃO:
A exposição perinatal a químicos ambientais e/ou drogas que podem funcionar como desreguladores endócrinos estão associados ao aumento da incidência de desordens reprodutivas masculinas, podendo comprometer o processo de diferenciação sexual hipotalâmica. A flutamida, um poderoso e específico antiandrogênico não esteróide que age através da competição pelos receptores de andrógeno, largamente usado no combate ao câncer de próstata e tratamento da acne, provavelmente possa interferir na diferenciação sexual. Objetivou-se avaliar possíveis alterações tardias em ratos machos expostos à flutamida no período perinatal, através da análise de parâmetros reprodutivos.
METODOLOGIA:
Foram utilizados cerca de 50 ratos albinos Wistar, de ambos os sexos, provenientes do Biotério Central da UNESP e mantidos sob condições controladas de temperatura, luz e alimento. Foram divididos em dois grupos. Controle: receberam apenas o veiculo oleoso, sc. Tratado: 15 mg/kg/dia de flutamida em veículo oleoso, sc., administrado às fêmeas no 19 dia de gestação, no dia do nascimento e nos cinco primeiros dias após o nascimento dos filhotes, sempre no mesmo horário. Dos filhotes nascidos mantiveram-se ao cuidado materno sempre oito, até o desmame. Parâmetros analisados: peso corpóreo e distância anogenital ao nascer e aos 22 dias de vida; instalação da puberdade (idade do descolamento do prepúcio); teste de fertilidade; comportamento sexual e peso corporal e úmido dos órgãos da reprodução em ratos adultos.
RESULTADOS:
Não houve diferença significativa para os parâmetros peso corpóreo (em gramas) e distância anogenital (em mm) ao nascimento e aos 22 dias de vida assim como para a idade (em dias) para o completo descolamento prepucial, indicativo da instalação da puberdade. Houve uma redução no número de fêmeas controles (controle: 8/8 ; flutamida: 5/7*) que levaram a prenhez a termo, quando acasaladas com machos tratados com flutamida, devido a uma maior porcentagem de perda pré-implantação. A viabilidade fetal foi também reduzida em 30% em relação ao controle. A observação do comportamento sexual dos ratos machos demonstrou um comprometimento em todos os quesitos que envolvem tempo de latência (em seg.), nos machos tratados com flutamida (para primeira monta - controle: 63,17 + 22,57; flutamida: 143,50 + 27,30*; para primeira intromissão - controle: 122,17 + 49,18; flutamida: 372,33 + 173,04*; para primeira ejaculação - controle: 283,00 + 12,31; flutamida: 654,83 + 99,55*; para primeira monta pós-ejaculação - controle: 435,60 + 45,18; flutamida: 910,33 + 99,25*; para primeira intromissão pós-ejaculação - controle: 458,50 + 51,65; flutamida: 990,17 + 100,08*). Observou-se que o tratamento não alterou significativamente o peso corporal dos machos adultos. Dentre os órgãos da reprodução estudados, apenas a próstata dos animais tratados com flutamida apresentou seu peso úmido (em grama) reduzido (0,435 + 0,02 n=6 versus 0,321 + 0,03* n=9).
CONCLUSÕES:
O tratamento com flutamida durante a fase perinatal, não interferiu no organogênese dos filhotes. Não interferiu também no peso corporal dos animais adultos, bem como no peso úmido dos órgãos da reprodução, exceto para a próstata, órgão primeiramente mais sensível a alteração hormonal. Na idade adulta, fêmeas controle que foram acasaladas com machos tratados com flutamida demonstraram redução na taxa de implantação, como conseqüência de um aumento na taxa de perda pré-implantação. O comportamento sexual dos animais tratados com flutamida se mostrou comprometido, bem como reduziu o número total de ejaculações. A flutamida, na dose e período utilizados, apesar de reduzir o número de fêmeas que levaram a prenhez a termo e a viabilidade fetal, não inviabilizou a gestação e o desenvolvimento dos filhotes, do nascimento até a puberdade. Nos descendentes viáveis, observou-se um comprometimento maior na idade adulta, mostrando o efeito tardio de tal exposição. Essas alterações tardias se devem provavelmente a um comprometimento no processo de diferenciação sexual hipotalâmica.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Antiandrogênico; Diferenciação sexual hipotalâmica; Flutamida.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004