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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA SUSTENTABILIDADE: REFLEXÕES E EXPERIÊNCIAS QUE DEMONSTRAM PARCERIA ENTRE INSTITUIÇÕES DE ENSINO, EDUCADORES E EMPRESARIADO
Sonia Moraes 1   (autor)   nyx_caos@uol.com.br
Ioli Gewehr Wirth 2   (autor)   ioli_gewehr_wirth@hotmail.com
Paula Moraes Leão de Castro 3   (autor)   haveli@uol.com.br
1. Faculdade Comunitária de Campinas - Unidade III
2. Faculdade de Pedagogia - Universidade Estadual de Campinas - Unicamp
3. Depto de Engenharia - Pontifícia Universidade Católica de Campinas - Puc-Campinas
INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento cientifico e tecnológico, desde o XVIII, tem priorizado a produção de bens que visam o aumento do bem-estar e do consumo à sociedade. No Brasil também se vive esse processo, ainda que em ritmo distinto.
Qualquer que seja o contexto, os custos desse desenvolvimento acelerado ao meio-ambiente e à sociedade têm se evidenciado, revelando também contradições do capitalismo, já que esse desenvolvimento não garantiu acesso amplo ao consumo, ou solucionou problemas relativos à escassez de recursos naturais.
Na busca por soluções, surge na década de 1980, o conceito de desenvolvimento sustentável, que define um campo de pesquisa capaz de gerar desenvolvimento planejado, que leve em conta a gestão responsável dos recursos naturais e dos impactos sociais por ele gerados, tanto no presente, quanto no futuro.
Entre pesquisa e prática, prevalece o hiato entre desenvolvimento material e compromisso ético, campos aparentemente inconciliáveis, o que explica, em parte, os problemas da sociedade pós-industrial
Este trabalho apresenta experiências vividas no campo da educação informal, resultante de ações empresaria e de núcleo de estudo universitário, pensadas sob a ótica do desenvolvimento sustentável, inserindo-as na discussão teórica mais ampla sobre possíveis contribuições da universidade, instituições de ensino e educadores na tarefa de conciliar ética e desenvolvimento, no sentido de solucionar questões sociais e ambientais já instaladas.
METODOLOGIA:
O trabalho desenvolveu-se através de pesquisa bibliográfica e documental. Inicialmente, mapeou-se debate internacional em torno da construção do conceito de desenvolvimento sustentável, identificando-se o trabalho "Limites do Crescimento", de D.L. Meadows e equipe, apresentado na 1a Conferência sobre Meio Ambiente, em Estocolomo, aparece na origem. Com a contribuição de M. Strong, introduz-se o conceito de ecodesenvolvimento, mas é só no relatório de Brundtland, 1987, da ONU, que o conceito aparece oficialmente pela primeira vez. Naquele momento ainda se propunham soluções globais para questões sociais e ambientais.
A seqüência da pesquisa mostrou mudança nessa tendência e a inserção da noção de "sociedades sustentáveis", sinalizando mudança do foco do global para o local.
O estudo de atuação de grandes empresas (caso da Unilever) permitiu perceber a pertinência dessa abordagem para o problema da sustentabilidade e também e também para o papel da (re)educação informal no sucesso desses programas. Foram também realizadas breves entrevistas além de avaliação de relatórios.
Por último, a pesquisa contempla também a discussão sobre produção, uso e transmissão do conhecimento, focando, entre outros, o papel da universidade e de núcleos de pesquisa que a integram
RESULTADOS:
A análise de relatórios e documentos sobre a construção histórica do conceito de "desenvolvimento sustentável" permitiu identificar constituição de campo simbólico específico e bastante conflituoso, que tem como pano de fundo a questão ambiental e onde se digladiam sujeitos e interesses diversos, como empresariado, Estado, universidade e sociedade.
A discussão evidencia dificuldade em se estabelecer relação harmônica entre desenvolvimento, natureza e sociedade, em contexto que não comporta ilusão quanto à superação do modelo político-econômico vigente.
A pesquisa identifica também ações inovadoras tanto na relação empresas-sociedade, através da criação de cooperativas, projetos de apoio, como na universidade, que assume novas responsabilidades nesse cenário. Ressaltam-se publicações de trabalhos que já atuam como sinais de mudanças curriculares, respondendo à necessidade de estabelecimento de compromissos éticos no desenvolvimento da ciência. Outro aspecto, o da responsabilidade do educador na relação com o educando, visando conscientizá-lo da finitude dos recursos naturais, pode ser identificado. É o caso da "pedagogia da degenerescência", de Eigenheer (2003).
Ao final, identifica-se o aumento de iniciativas cooperativas e de parcerias empresariais com comunidades locais, em que a educação informal ganha destaque na construção de relações mais harmônicas e eficientes entre os diversos grupos sociais e o meio-ambiente, distribuindo responsabilidades e gerando autonomia.
CONCLUSÕES:
As discussões sobre construção do conceito de desenvolvimento sustentável sinalizam novo enfoque quanto aos problemas na relação sociedade - natureza, no contexto do sistema capitalista-neoliberal.
O enxugamento do Estado, a pressão de setores produtivos e a emergência de problemas ambientais e sociais têm provocado mudanças na correlação de forças e necessidade de revisão de parâmetros para tomada de decisões, o que atinge, entre outros, o campo da Educação. Discussões internas à universidade sinalizam possível revisão de grades curriculares e conteúdos nos diversos cursos e áreas do conhecimento. Nos níveis fundamental e médio, os PCN´s propõem a aproximação entre ensino e realidade. Mas faltam valores comuns que permitam conciliar interesses e solucionar problemas tão diversos.
A demanda por respostas tem levado empresas, pesquisadores e ONG´s a propor ações que promovam gradual revisão da cultura e da ação social. O papel da educação tende, assim, a exceder o horizonte de pesquisa e transmissão do conhecimento e contemplar também o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos e resgate de valores que sustentem esse trabalho. De um referencial global, em que o indivíduo se via isentado da responsabilidade social e passivo diante de políticas públicas, passa-se a outro, local e comunitário, em que cada um é chamado a assumir seu papel na proposta de saídas. Sem negar o caráter global da sociedade contemporânea, enxerga-se e atua-se a partir de uma ótica e prática locais.
Palavras-chave:  sustentabilidade; desenvolvimento sustentável; ética e desenvolvimento.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004