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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
A QUESTÃO DA JUVENTUDE NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Luiza Mitiko Yshiguro Camacho 1   (autor)   luizacamacho@yahoo.com.br
Caroline Falco Reis Fernandes 2   (autor)   cacaufalco@yahoo.com.br
Pollyana dos Santos 3   (autor)   p2rs@hotmail.com
1. Profa. Dra. do Prog. Pós-Grad. Educação e Depto. Did. e Prática Ensino – UFES
2. Graduanda de Pedagogia, Centro de Educação – UFES
3. Graduanda de Pedagogia, Centro de Educação – UFES
INTRODUÇÃO:
Este trabalho articula juventude com Educação de Jovens e Adultos (EJA). Propõe-se a examinar, na realidade e na prática, se a EJA dispensa tratamento condizente com as características de seus agentes destinatários: os jovens e os adultos. Os sujeitos principais deste estudo são alunos da faixa etária denominada juventude (14 a 24 anos). Atualmente há debates e imprecisões permeando a definição de juventude. Tem sido recorrente o reconhecimento da importância de se tomar a idéia de juventude em seu plural – juventudes – em virtude da diversidade de situações existenciais que afetam os sujeitos. Parte desta imprecisão decorre da superposição indevida entre fase de vida e sujeitos concretos. É preciso compreender que a categoria sociológica – juventude – encerra uma tensão que não se resolve: ela é ao mesmo tempo um momento do ciclo de vida e diferentes modos de inserção na estrutura social, considerando-se a classe, o gênero e a etnia. Os objetivos deste trabalho são, primeiro analisar a situação da EJA junto ao poder público municipal de Vitória/ES e, depois, examinar a vida escolar dos jovens alunos da EJA no seu cotidiano. Considerando-se que se confirmou a hipótese de que o quadro real aponta para o não respeito aos anseios do segmento juvenil, este estudo pode estar contribuindo no sentido de subsidiar revisões, reconsiderações e reajustes na modalidade de ensino EJA, além de possibilitar a indicação de rumos para as políticas públicas de juventude.
METODOLOGIA:
A pesquisa contou com a participação de duas bolsistas Iniciação Científica. Estudos teóricos a respeito de metodologia de pesquisa, de juventude, de escola enquanto espaço social e cultural, de educação de jovens e adultos, de currículos prescrito e real e de legislação a respeito de EJA foram realizados pelas duas e discutidos com a orientadora. Uma das bolsistas, objetivando dar ao estudo uma visão geral dos jovens na modalidade da EJA, coletou os dados junto à Secretaria Municipal de Educação e ao Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEJA), vinculado à UFES, por meio de consulta a documentos, acompanhamento de reuniões e de entrevistas individuais, devidamente gravadas e transcritas. A outra bolsista, buscando examinar a vida dos jovens alunos das séries finais (5a a 8a séries) do ensino fundamental, realizou um estudo de caso em uma escola da rede municipal de Vitória/ES. Os procedimentos metodológicos por ela adotados foram: observação participante da vida cotidiana escolar (currículo real), consulta a documentos, exame do currículo prescrito entrevistas individuais com técnicos e professores, e grupos focais com alunos. Todas as entrevistas e grupos focais foram gravados e transcritos.
RESULTADOS:
A Secretaria Municipal de Educação de Vitória denomina de Ensino Noturno (EN) a modalidade que outras redes nomeiam de EJA. Formalmente há diferenças entre EN e EJA, já que o 1º é um segmento do Ensino Fundamental, entretanto, na prática, tanto profissionais como alunos não fazem essa distinção no seu dia a dia. Todos se referem ao curso como EJA. Esta mudança de nome se constitui numa estratégia para garantir a verba do FUNDEF que contempla o ensino fundamental e exclui EJA. De acordo com o Censo Escolar de 2003, a SEME-Vitória possui 4990 alunos matriculados no EN. Deste total, 47% são adultos (25 anos ou mais) e 53% são jovens (de 14 a 24 anos). Verifica-se, pois, uma tendência à juvenilização nesta modalidade de ensino que um dia já foi restrita à educação de adultos. Esta tendência se confirma na escola pesquisada. 67% de seus alunos de EN são jovens. Em relação à questão da juventude na escola pesquisada, verificou-se que: a) da perspectiva dos professores, eles consideram suas aulas neutras, ou seja, ignoram se seus alunos são adultos, jovens ou crianças, interessa-lhes apenas que são alunos; b) da perspectiva dos alunos, jovens ou adultos, eles se declaram desrespeitados porque percebem-se tratados como crianças, mas cobrados como adultos; c) as relações entre os alunos jovens e adultos apresentam pontos de tensão porque os últimos se sentem incomodados com a “algazarra” dos primeiros, ao mesmo tempo que estes se sentem “atrapalhados” ou reprimidos pelos mais velhos.
CONCLUSÕES:
O fenômeno da juvenilização verificado pode ser explicado pela adoção do encaminhamento dos alunos do ensino fundamental regular diurno com mau desempenho, tanto em termos do aproveitamento como das condutas, para a EJA, como uma estratégia para se “livrar do problema”. Assim, parte significativa dos jovens alunos, apresentam comportamento não aceito pelos adultos (alunos e profissionais). Surgem, a partir desse quadro, tensões que podem ser traduzidas em conflitos de gerações. Outro ponto de tensão que surge se deve ao fato da maioria dos profissionais, com exceção de alguns professores, adotar ações, às vezes, contraditórias: trata todos os alunos como crianças mas cobra deles atitudes próprias dos adultos. Na prática, não há o reconhecimento e nem a aceitação do jovem aluno como um jovem sob a alegação de que são todos irresponsáveis. Entretanto, no discurso todos são unânimes em enaltecer a juventude como a fase dourada da vida. Para finalizar, é possível entender a EJA como uma tentativa de institucionalização, pelo menos no âmbito escolar, daqueles desinstitucionalizados do setor do trabalho (tanto os adultos como os jovens) e do mundo escolar (os jovens).
Instituição de fomento: CNPq e UFES
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Juventude; Educação de Jovens e Adultos; Jovens.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004