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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
O UNIVERSO DA FICÇÃO ACREANA
Olinda Batista Assmar 1   (autor)   assmaro@ufac.br
1. Depto. de Letras, Universidade Federal do Acre - UFAC
INTRODUÇÃO:
Vários estudos têm sido realizados sobre a ficção brasileira em todas as vertentes temáticas, mas as manifestações artísitcas do Acre pouco foram os trabalhos, até hoje, que se dedicaram ao assunto, principalmente no tocante à ficção. Para suprir essa lacuna, o projeto de pesquisa Amazônia: os vários olhares propôs-se a estudar a produção textual escrita e oral do Acre, no séc. XX, especialmente a literária, tarefa que vem realizando há oito anos com apoio do CNPq e UFAC, através do programa de Iniciação Científica e dos cursos de Especialização em Literatura Comparada. Este estudo teve como objetivo analisar as publicações de livros considerados romances quanto ao estilo literário, tipo, construção, temática, fabulação e discurso, de modo que possam integrar as grandes obras da história literária brasileira, bem como mostrar em que bases se assenta seu processo criativo e suas constantes preocupações e quais as suas preferências lingüísticas e de conteúdo.
METODOLOGIA:
O estudo iniciou com a localização e evantamento, nas bibliotecas e acervos públicos e particulares, de todas as obras de ficção amazônica existentes. Levantados esses dados, as obras foram distribuídas entre os alunos do curso de Especialização para leitura, análise e busca de dados biográficos sobre seus autores. Investigados esses nomes, foram selecionados todos os escritores que nasceram ou que viveram no Acre, residentes ou não no Estado. Após, foram lidos e analisados os romances quanto ao seu estilo literário, tipo, aos seus elementos constitutivos e estrutura, suas temáticas e discurso. O resultado dessa etapa foi apresentado em forma monográfica e debatido em sala de aula com os presentes.
RESULTADOS:
Constatou-se a existência de trinta (30) autores amazônicos, vinte (20) considerados romancistas e dez (10) contistas, um número bem aquém do esperado para uma produção de um século. Dos vinte (20) romancistas, treze (13) são do Acre, os demais são amazonenses e paraenses. A produção desses treze acreanos somam trinta e duas (32) obras entre romances e livros de conto, enquanto os dezoito amazônidas escreveram trinta e dois (32) romances. Observou-se na construção das narrativas acreanas, de modo geral, um processo narrativo frouxo, sem as artimanhas dos grandes contadores de história como Jorge Amado e dos perspicazes analistas do comportamento humano como Machado de Assis. As narrativas são construídas, algumas linearmente, arrastadas, sem as nuanças de uma narrativa bem concebida. Outras, um pouco mais complexas, utilizam recursos da ficção moderna e se estruturam de modo peculiar, mostrando mais engenho na sua fabulação. Algumas narrativas foram denominadas romances-crônicas tão próximas estão das cenas que as compõem. Outras, romances históricos tais são seu empenho na representação dos dramas do homem seringueiro, na sua luta pela sobrevivência diante do homem e da natureza; outros, finalmente, são pura descrição do inferno verde de Alberto Rangel, mas com a ótica dos que não têm a natureza apenas como inferno, mas como paraíso diabólico. Predomina a temática do ciclo-da-borracha, seguida da viagem e do inferno/paraíso em relação à selva.
CONCLUSÕES:
A literatura com função social tem povoado o universo ficcional da literatura brasileira que vem retratando a realidade do país de forma não idealizada, desde a segunda metade do séc. XIX. O homem, a fauna e a flora ou o homem, o meio e ambiente, na designação de Euclides da Cunha, têm sido os motivos centrais da narrativa realista, que predomina até hoje com nova feição. Tanto é que basta verificar os dados da pesquisa para constatar a presença do naturalismo e do realismo na maioria das obras de ficção. O Naturalismo predomina nas primeiras obras publicadas, depois são introduzidos o neonaturalismo e neo-realismo já modificados e com uma nova visão da realidade. Agora são os dramas sociais rurais ou urbanos os principais conflitos narrados. Essa escolha mostra a grande consciência dos autores e seu engajamento social como intelectuais que são responsáveis, também, pelas mudanças sociais, culturais e políticas da nação. A ficção, como outros meios de manifestação artística, têm tido, na história da humanidade, papel decisivo nas grandes mudanças e transformações do homem, já que aguçam sua imaginação, possibilitando-lhe sonhar, ser feliz e integrar-se ao mundo presente. A ficção acreana revela as raízes da formação da sociedade acreana, seus valores éticos, morais e cultuais, como os acreanos se vêem e como são vistos por outrem, principalmente pelo estrangeiro.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  Amazônia/Acreana; Romance/Construção; Universo Ficcional/Criação.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004