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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
O IMAGINÁRIO COMO FORMADOR DO REAL/RACIONAL: O USO DA FICÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS
Marcilene Cristina Gomes Maluf 1   (autor)   gomes_maluf@hotmail.com
Aguinaldo Robinson de Souza 2   (orientador)   arobinso@fc.unesp.br
1. Escola Agrotécnica Federal de Cáceres - EAFC/MT
2. Departamento de Química, Faculdade de Ciências do Campus de Bauru - UNESP
INTRODUÇÃO:
Este artigo é uma reflexão sobre a inserção da ficção científica no Ensino de Ciências. Assim, buscamos identificar se a ficção incorpora novos elementos na estrutura conceitual dos educandos, para tanto, partimos do pressuposto que a ficção tem o papel de desencadeadora e/ou organizadora da aprendizagem. Os nossos questionamentos estão relacionados com a identificação do papel da ficção científica na composição dos conceitos da Biologia Molecular. Pode dois grupos, apesar de terem trabalhado os mesmos conceitos da Biologia Molecular, terem apreendido-os diferentemente, pelo fato de terem vivenciado os atos ficcionais presentes no filme Jurassic Park.No corpo deste trabalho, ofereceremos algumas respostas às nossas indagações e esperamos destacar a importância da ficção científica para o ensino de ciências. Para viajarmos por este imaginário, via ficção científica, e chegarmos a uma releitura do real/racional, percorreremos um trajeto que passa pela discussão das diferentes interfaces entre o imaginário e o real, inserindo o filme Jurassic Park como elemento que compõe o real imaginado, quer com os elementos oferecidos pela ciência, quer pela ficção científica. Desta maneira, o filme se transforma em parada obrigatória de nossa viagem de interpretação do imaginário, criado pelo homem para mediatizar suas relações com o mundo real.
METODOLOGIA:
Para detectar se a ficção científica, representada pelo filme Jurassic Park, pode ser organizadora e/ou desencadeadora da aprendizagem e se incorpora novos elementos na estrutura conceitual do educando, optamos por efetuar um estudo de caso, com um grupo de 48 licenciandos em Ciências Biológicas, do Campus Universitário do Médio Araguaia da Universidade do Estado de Mato Grosso. Todo o trabalho de coleta de dados foi realizado durante as aulas da disciplina de Genética Molecular, e o primeiro passo foi mapear, através de Formulário Diagnóstico e Mapas Conceituais, os conhecimentos que os licenciandos possuiam sobre Biologia Molecular, envolvendo seu Dogma Central e a Tecnologia do DNA. Depois, dividimos os alunos em dois Grupos A e B, cujo critério foi ter ou não assistido ao filme. O grupo A composto por alunos que haviam assistido ao filme antes de cursar a disciplina e o Grupo B por alunos que não haviam assistido ao filme antes da disciplina. A partir desta divisão, o filme foi projetado antes do início das atividades da disciplina, para os alunos do Grupo A; e, ao final das atividades, para os alunos do Grupo B. Ao término do trabalho, os alunos construíram um Mapa Conceitual Final e responderam a um novo Formulário Diagnóstico. A possibilidade de nossos questionamentos serem detectados estão diretamente relacionado à identificação do papel do filme na composição dos conceitos de Biologia Molecular.
RESULTADOS:
No cômputo geral os conceitos relacionados à Biologia Molecular, mapeados no formulário diagnóstico e nos mapas conceituais, apresentam-se determinados pelos meios de comunicação, classificados como pseudo-saber ou saber científico. Este conhecimento prévio aproxima-se da ficção e das informações veiculadas pela mídia, ou seja, o imaginário sobrepondo o real, imagem e real se confundem na representação do que venha a ser científico. Ao término do trabalho o Grupo A reafirma nos instrumentos relações que ultrapassam a barreira dos conceitos explorados pela disciplina, estabelecendo que o conhecimento é racional/ficcional, usam dos conceitos para explicar o que ocorre no filme, e para o Grupo B o filme interfere nas possibilidades de suas análises, funciona com um inibidor do conhecimento, reafirmam, nos instrumentos os paradoxos estabelecidos a partir do filme. Assim, o filme é um instrumento metodológico constitutivo do conhecimento, possibilitando a organização hierárquica e integrativa de seu saber, acrescentando novos elementos em sua estrutura conceitual. O Grupo A vive a autorização de Barbier, não podemos reconstruir dinossauros, mas não fechamos a possibilidade do vir a ser ciência, mesma afirmação efetuada pelo Grupo B, mas o fazem de um lugar acrítico, como se o conhecimento apreendido servisse apenas para dar respostas às coisas da ciência, parece viver uma fase de negação, como se o homem diurno jamais pudesse encontrar o homem noturno.
CONCLUSÕES:
Ao término da pesquisa, o uso da ficção científica demonstrou-se constitutiva do conhecimento, possibilitando organização hierárquica e integrativa dos conceitos, acrescentando novos elementos em sua estrutura conceitual dos educandos, atuou como mediatizadora do conhecimento, ora organizando, ora desencadeando. Nosso trabalho oferece algumas respostas às nossas indagações e destaca a importância da ficção científica do filme Jurassic Park para o ensino de ciências. Assim, acreditamos que a construção do real/racional é efetuada a partir de nosso imaginário e se alguém afirmar que irá reconstruir a vida, não é somente uma afirmação da ficção científica, mas é também da ciência, pois em algum momento da história ela procurou essa possibilidade, criando um imaginário coletivo. Ao tomar ficção científica como mais esclarecedora que a ciência, ela pode ser o ponto de partida para uma proposta metodológica do ensino de ciências, pois ela encontra-se mais próxima dos conceitos apresentados pelos alunos, serve de suporte para trabalhar os conceitos inerentes à Biologia Molecular e para suprir a falta de laboratórios nas unidades escolares, apresentando experiências que não se encontram ao alcance de todos. Por outro lado, a ficção científica é um imaginário composto a partir da produção da ciência, logo nos coloca em contato direto com a produção da ciência, o que pode ser verificado pela aprendizagem significativa dos alunos que vivenciaram o filme no início das atividades.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  Ensino de Ciências; Ficção Científica; Imaginário.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004