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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 5. Zoologia Aplicada
BIOATIVIDADE DA NEOLIGNANA YG, SOBRE A FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DE Chrysomya albiceps (DIPTERA: CALLIPHORIDAE).
Marise Maleck de Oliveira Cabral 1, 2   (autor)   mmaleck@terra.com.br
Márcio André de Oliveira Silva 3   (autor)   
Celma Marinho da Silva Gomes 3   (autor)   
Paloma Martins Mendonça 3   (autor)   palomamartins@uol.com.br
José Maria Barbosa Filho 4   (colaborador)   jbarbosa@ltf.ufpb.br
Margareth Maria de Carvalho Queiroz 3   (autor)   mmcqueiroz@ioc.fiocruz.br
1. Lab. de Díptera, Depto. de Entomologia, IOC, FIOCRUZ
2. Depto. de Biologia, Colégio Pedro II
3. Depto. de Biologia, IOC, FIOCRUZ
4. Universidade Federal da Paraíba, UFPB.
INTRODUÇÃO:
Dentre os dípteros muscóides, o gênero Chrysomya é de grande importância médica e sanitária, sendo responsável pelas miíases na África e nas Américas, considerando que as espécies deste gênero são importantes na disseminação e na manutenção do carbúnculo causado pelo Bacillus antracis, na África do Sul. Tanto os patógenos, como as moscas encontram condições favoráveis para seu desenvolvimento em regiões de clima quente e apresentam alto grau de sinantropia, dispersão e adaptação, e merece, portanto ser alvo de estudos de controle desses vetores e seus patógenos.
Nos insetos, os lignóides, metabólitos secundários de plantas, vêm apresentando atividade repelente, inibidora da alimentação, do crescimento e sinergistas de inseticidas. Nos dípteros, a lignana beta-peltatin-A-metil éter, demonstrou eficácia tóxica na concentração de 100ppm, causando 98% de mortalidade em Musca domestica, e podofilotoxina apresentou atividade inseticida para Drosophila melanogaster em tratamento oral na concentração de 0,24micromol/mL apresentando LD50 de 22microg/adulto.
Neste trabalho utilizamos a neolignana Yg, isolada da planta brasileira Ocotea duckei (Lauraceae) na compreensão dos processos fisiológicos, fundamentais para o desenvolvimento de dípteros, e conseqüentemente a sua capacidade de exercer o controle da população de Chrysomya albiceps, interferindo na transmissão de agentes patogênicos, causadores de doenças em animais e no homem.
METODOLOGIA:
Insetos: Foram utilizadas 270 larvas L1 de Chrysomya albiceps, de uma colônia do Laboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores.
Substâncias: A substância foi dissolvida em acetona acrescida de solução-salina (1:4) e diluídas nas concentrações 1 microg, 10 microg, 100 microg/microL.
Tratamento tópico: As massas de ovos foram coletadas e transferidas para placas de Petri (9,0 cm x 2,0 cm) forradas com papel de filtro umedecidos com água destilada (1,0 mL). Após a eclosão, as larvas foram retiradas, com o auxílio de um pincel fino, e sobre o corpo das larvas foram aplicados 30 microL da substância nas concentrações 1 microg, 10 microg, 100 microg/microL, para cada grupo de 30 larvas, considerando a relação de 1 microL por larva, com três repetições, e um controle. Imediatamente após o tratamento, as larvas foram transferidas para potes de vidro contendo 3g de carne bovina moída, e acrescentou-se 27g de carne à dieta, considerando-se a relação de 1 grama de dieta/larva.
As pupas recém-formadas foram coletadas, pesadas, e acondicionadas individualmente em recipientes de vidro, contendo vermiculita, e tampados com algodão hidrófobo. Os adultos recém-emergidos foram sexados e mensurados pela tíbia média direita. Todos os experimentos foram realizados em condições de laboratório, em câmaras climatizadas reguladas à temperatura de 27 ± 1 oC, 60± 10% URA.
RESULTADOS:
As pupas resultantes do tratamento com Yg (100 microg/microL) demonstraram um peso 6,46mg a menos que o observado no grupo controle. Houve uma mortalidade das larvas de 11 a 27%, em todo o tratamento. O período de pupação do grupo controle foi de 3 a 8 dias, enquanto que as larvas que receberam o tratamento com Yg (1 e 100 microg/microL), este período estendeu-se em um dia. Houve uma inibição de 13% da pupação das larvas de C. albiceps no grupo que recebeu a droga na concentração 100 microg/microL (p<0,01). A emergência de todos os grupos manteve seu maior índice entre o 7 o e 8 o dia após o início do experimento. Os testes demonstraram que Yg na concentração de 100 microg/microL inibiu em 16% a emergência dos adultos (p<0,001). Os resultados mostraram que a viabilidade da fase de larva a adulto de C. albiceps no grupo controle foi de 54%, enquanto que o grupo que recebeu o tratamento tópico, na concentração de 100microg/microL foi de apenas 33% (p<0,001). Os adultos emergidos do tratamento com Yg, apresentaram o seu maior índice de machos na concentração de de100 microg/microL (56%) e de fêmeas na concentração de 100 microg/microL (58%), e no controle foi de 48% de machos e 52% de fêmeas. O tamanho das moscas ficou entre 2,3mm e 2,5mm, independente da concentração utilizada. As observações foram feitas diariamente e utilizados os testes de X2, média e desvio padrão para a análise estatística do desenvolvimento pós-embrionário.
CONCLUSÕES:
O tratamento tópico com Yg não demonstrou toxidade para as larvas Chrysomya albiceps. O peso das pupas foi reduzido em 6% na concentração de 100 microg/microL e o desenvolvimento normal dos adultos, pode demonstrar absorção pela cutícula de quitina, que está sendo observado em análise de cromatografia gasosa. O efeito da neolignana Yg interferiu mais significativamente na fase de desenvolvimento de pupa a adulto. Foi demonstrado que a viabilidade de Crysomya albiceps tratada com a substância Yg foi apenas de 33%, corroborando os trabalhos descritos de inibidores do desenvolvimento de dípteros com os lignóides beta-peltatin-A-metil éter, em Musca domestica e epimagnolina em Drosophila melanogaster.
Nossos estudos sobre o efeito de produtos naturais de plantas em C. albiceps permitem o desenvolvimento de um modelo experimental para a compreensão da fisiologia desse inseto e posteriormente a relação com seus microrganismos patogênicos.
Palavras-chave:  neolignana; Chrysomya albiceps; diptera.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004