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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal
O EFEITO DA BUSCA REPETIDA DA PRESA SOBRE O COMPORTAMENTO DA ARANHA Argiope argentata
Cesar Ades 1   (orientador)   cades@usp.br
Fausto Assumpção Fernandes 2   (autor)   fausto.assumpcao@terra.com.br
Mayra Dias Candido 2   (autor)   candymayra@yahoo.com.br
1. Depto. de Psicologia Experimental, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, USP
2. Depto de Biologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, UPM
INTRODUÇÃO:
Argiope argentata, uma aranha de teia geométrica, fixa no centro da teia as presas que captura, antes de consumí-las, e armazena presas subsequentes na espiral viscosa. Quando a presa é retirada do ponto de fixação, no centro ou na periferia da teia, a aranha exibe movimentos de busca (Ades, 1991, Rodríguez e Gamboa, 2000) que não dependem, para a sua eliciação, de estímulos externos e parecem controlados por processos de memória. A busca é provavelmente adaptativa, por aumentar a probabilidade de reencontro e de ingestão da presa. Em que medida mudaria o comportamento de busca, se suscitado repetidamente sem ser seguido pelo reencontro da presa ? De acordo com a hipótese de habituação ou extinção comportamental, os tempos de busca diminuiriam, através da repetição, por ausência de reforço. Poder-se-ia, de acordo com uma hipótese alternativa, pensar que aumentaria o tempo de busca, como estratégia para elevar a probabilidade de reencontro da presa. Abordou-se, na presente pesquisa, a questão das mudanças induzidas pela repetição não-reforçada da busca, como contribuição para a compreensão da flexibilidade do comportamento e da memória em aranhas.
METODOLOGIA:
Foram usadas sete aranhas Argiope argentata, coletadas na Cidade Universitária da USP em São Paulo, mantidas em caixas-viveiros de madeira de 25 x 25 x 5 cm com paredes dianteira e traseira de vidro. Foram registrados, através de filmagem, dez episódios de caça e busca em cada uma das aranhas, na base de um episódio por dia. No início de um episódio de caça e busca, uma mosca doméstica, oferecida na espiral viscosa, era retirada da teia depois de ter sido capturada, levada ao centro e fixada por um fio suspensor. Calculou-se o tempo de busca, definido como o tempo decorrido entre a emissão da primeira e a da última resposta de busca (sendo considerada como última a resposta que precedesse 5 minutos de imobilidade) e obteve-se a freqüência das categorias de busca em cada episódio (tamborilar, flexionar as patas, girar, sacudir a teia, puxar os fios, locomover-se).
RESULTADOS:
O tempo de busca, mínimo no primeiro episódio (média: 156,6 segundos), aumentou significativamente no segundo episódio (média: 436,4 segundos) e se manteve alto em todos os outros (média dos episódios 3 a 10: 411 segundos). As categorias de busca (tamborilar, flexionar as patas, etc.) aumentaram em freqüência do primeiro para o segundo episódio, havendo contudo variações individuais no tipo de busca exibido.
CONCLUSÕES:
Nossos dados replicam resultados previos a respeito da incidência e da natureza das categorias de busca em A. argentata. Mostram, além disso, que a eliciação repetida, não reforçada, da busca leva a um aumento do tempo gasto na procura da presa e dão apoio à hipótese de que o não-reforço, como em outras espécies, leva a uma ativação comportamental, possivelmente adaptativa. Resta ainda saber se, com o prosseguimento da série de episódios de busca infrutífera ocorreria um decréscimo no tempo de busca e na freqüência das categorias exibidas, indicativo de habituação ou extinção da resposta. De qualquer maneira, os resultados constituem argumentos a favor da relevância de se analisar, dentro de uma perspectiva cognitiva, o comportamento das aranhas orbitelas
Palavras-chave:  Aranha; Argiope argentata; comportamento.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004