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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
ANÁLISE DO CONCEITO DE EXPERIÊNCIA E EXPERIÊNCIA DE CHOQUE EM WALTER BENJAMIN
Daniela Vieira dos Santos 1   (autor)   daniunesp@yahoo.com.br
Renato Bueno Franco 2   (orientador)   refranc@fclar.unesp.br
1. Graduanda do Depto de Antropologia Política e Filosofia, Fac. de Ciências e Letras- UNESP/Araraquara
2. Prof.Dr. do Depto de Antropologia, Política e Filosofia, Fac. de Ciências e Letras- UNESP/Araraquara
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho procura analisar detalhadamente as noções de “experiência” e “experiência de choque” (vivência) elaboradas por Walter Benjamin, a fim de melhor caracterizar a sua proposta teórico-política. Ao diagnosticar a deficiência de narrar, pois só há narração se houver experiência, Benjamin percebe o impacto da vida moderna sobre os homens, os quais perderam o dom da comunicação oral, a capacidade de rememoração, bem como o vínculo entre trabalho e conhecimento. Contudo, será notadamente no ensaio Sobre Alguns temas em Baudelaire que o autor desenvolverá a partir da análise dos poemas líricos do poeta, uma noção precisa desses conceitos. Além disso, para melhor fundamentar a sua análise, retoma os conceitos de “memória voluntária” e “memória involuntária” utilizados por Proust, apoia-se em Bergson, como também nas noções de consciente e memória desenvolvidas por Freud. Portanto, com o intento de analisar o declínio da experiência na modernidade e suas implicações na vida social e cultural, Walter Benjamin empreende uma análise crítica sobre a cidade de Paris, a partir dos sujeitos que vivem na periferia. Tal questão é relevante, pois esses conceitos são de fundamental importância no projeto teórico do autor, pois constitui a base de sua concepção da possibilidade de uma cultura não-aurática e revolucionária.
METODOLOGIA:
A pesquisa fundamenta-se na leitura crítica imanente de alguns ensaios de Walter Benjamin ligados a analise da produção cultural à época do “auge do capitalismo”, bem como de um levantamento bibliográfico dos seus comentadores, a fim de realizar um estudo crítico e comparativo. Portanto, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, ou melhor, teórica, desenvolvida por meio de diversas leituras, resenhas, fichamentos e discussões no Grupo de Pesquisa Teoria Crítica: Tecnologia, Cultura e Formação. Para melhor fundamentar a proposta benjaminiana, utilizamos autores como Willi Bolle, Jeanne Marie Gagnebin, Rainer Rochitz, entre outros. Além disso, foi enviado ao CNPq para sistematizar o andamento, resultados e conclusões da pesquisa, relatórios periódicos.
RESULTADOS:
Para Walter Benjamin o declínio da experiência, devido às mudanças no modo de produção capitalista, contribui para a emergência de homens fragmentados, que não conseguem dar nem receber conselhos. Pois na era da vivência, os fenômenos são tão fugazes, que não conseguimos assimilá-los através da palavra; o homem acaba não tendo tempo de fazer com que os estímulos exteriores se tornem coisa sua, ou seja, não os incorporam. As experiências vividas no passado, sua história e tradição se perdem, bem como a capacidade de pensar de maneira crítica e ativa. Nesse sentido, o homem responde aos estímulos exteriores de modo instintivo, sem refletir ou interpretar. Por isso, podemos perceber a existência de um grande vínculo entre experiência de choque e indústria, pois na linha de montagem industrial os trabalhadores não passam de meros autômatos: não há conhecimento cristalizado em experiência. Então, a partir do declínio da experiência no capitalismo, a memória involuntária vai sendo substituída pela memória voluntária do indivíduo, de modo que a cultura da vivência se sobrepõe à cultura da experiência. Tendo de proteger-se contra o choque, o homem moderno não tem mais memória. E ao perceber essas transformações na modernidade capitalista, Walter Benjamin reconhece em Baudelaire uma figura que soube fazer poesias para entender o mundo no qual vivia. Assim sendo, esse poeta de resistência escrevia para causar choque no leitor e, por isso, Benjamin percebe algo novo nessa poesia.
CONCLUSÕES:
Há nessa nova forma de percepção diagnosticada por Benjamin um caráter contraditório. Pois, ao seu ver, o fim da tradição não constituiria necessariamente um mal, porém uma forma de superar a opressão da classe dominante. Por isso, pode se dizer que a vivência teria para o autor a possibilidade de se tornar uma via libertária. Pois o declínio da experiência possibilita, segundo Benjamin, o aparecimento de uma “nova barbárie”, onde seria possível aos homens começarem de novo, constituindo, portanto, uma cultura de novos homens. Além do mais, pode se acrescentar a essa análise, o parecer ambíguo que Benjamin atribui ao efeito de choque. Tal efeito poderia ser um estímulo capaz de incentivar a reflexão crítica dos indivíduos, contribuindo para a supressão do atual sistema. No entanto, mesmo consciente de que o fim da experiência acarreta na perda da memória histórica dos homens, ele percebe que isso pode trazer um novo panorama político, pois ativa a consciência; nesse sentido, ele atribui a Baudelaire uma postura revolucionária ao escrever poesia lírica.Contudo, apesar do autor apostar na possibilidade de uma nova cultura ligada a essa experiência de choque, percebe-se hoje que a vivência além de modelar a percepção humana, torna os indivíduos adestrados.
Instituição de fomento: Cnpq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Walter Benjamin; Experiência de Choque; Teoria Crítica da Sociedade.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004