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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 6. Química Inorgânica
SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DO COMPOSTO [Bu2SnLeuCl]
Roberto Santos Barbiéri 1, 2   (orientador)   barbieri@faminas.edu.br
Allan Kardec Carlos Dias 2, 4   (autor)   crico@unincor.br
Vilma Reis Terra 3   (autor)   
Elysio Prado de Lima 2   (autor)   elysio@bol.com.br
Samuel Ferreira da Silva 1, 2   (autor)   sambayano@bol.com.br
Jaques Franco de Carvalho Junior 2   (colaborador)   jaquesfranco@yahoo.com.br
Roberta Hilsdorf Piccoli 4   (autor)   rvalle@ufla.br
1. Faculdade de Minas, FAMINAS, Muriaé/MG
2. Programa de Mestrado em Biotecnologia, UNINCOR, Três Corações/MG
3. CEFET, Uberaba/MG
4. Depto. de Ciências dos Alimentos, UFLA, Lavras/MG
INTRODUÇÃO:
Aminoácidos são ligantes potencialmente polidentados, que podem ligar-se a metais, possibilitando a síntese de compostos com variadas estruturas, para os quais a geometria e o número de coordenação são regidos pelo tamanho do grupo substituinte e pelo grau de ramificação do ligante.
Compostos organoestânicos com atividades anti-tumorais foram divulgados em 1980. No período seguinte, até 1990, mais de dois mil compostos organometálicos contendo estanho foram utilizados em testes sobre sistemas biológicos, mais do que para qualquer outro metal (Terra, V. R., Tese de Doutorado, UFMG, 1997).
Da literatura, verifica-se que é conhecido um número relativamente elevado de compostos diorganoestânicos com aminoácidos N-protegidos. No entanto, praticamente inexistem estudos desta natureza derivados de α-aminoácidos essenciais mais simples, contendo apenas um grupo amino e um grupo carboxila, exceto por um composto diglicinato de dimetila (Hall, W. T.; Zuckerman, J. J., Inorg. Chem., 16, 1239, 1977) e pelos novos compostos dimetilestânicos contendo valina ou glicina por nós preparados (Barbiéri, R. S. et al. J. Therm. Anal. Cal., submetido, 2004).
No presente trabalho, descreve-se a síntese de um composto dibutilestânico derivado de L-leucina. e sua caracterização por análise elementar, determinação de ponto de fusão, espectroscopias uv-visível e Mössbauer, análise termogravimétrica e calorimetria de espalhamento diferencial.
METODOLOGIA:
A análise elementar de carbono, hidrogênio e nitrogênio foi feita no analisador 2400CHN Perkin-Elmer. Cloro foi determinado por ativação neutrônica, com irradiação da amostra no tubo central do reator Triga-3, no CDTN, em Belo Horizonte-MG, e estanho foi determinado por absorção atômica no espectrômetro Hitachi Z-8200.
O espectro infravermelho do complexo, na região 5000-275 cm-1, foi obtido no espectrofotômetro Perkin Elmer Paragon 1000, usando a técnica de pastilhas de CsI.
O espectro Mössbauer de 119Sn foi obtido em um espectrômetro comercial, com fonte de radiação gama de 10 mCi, na forma de BaSnO3, sob aceleração constante, mantida à temperatura ambiente. A amostra foi analisada a 85 K e o espectro ajustado computacionalmente assumindo linhas lorentzianas simples.
O espectro RMN de 119mSn foi obtido no espectrofotômetro Bruker DRX 400 MHz Avance, usando D2O.
As curvas TG e DSC, no intervalo 25-700 oC, sob atmosfera dinâmica de hélio, foram obtidas nos equipamentos TGA-50 e DSC-50, ambos da Shimadzu, com amostras de 8-10 mg, velocidade de aquecimento de 20 e de 10 oC min-1, respectivamente.
O complexo foi obtido em metanol, por reação de L-leucina e com dicloreto de dibutilestanho na proporção 1:1, sob refluxo e agitação magnética por 24 horas, seguida por redução de 50% no volume da mistura e refrigeração a -18 oC por 48 horas. O sólido obtido foi lavado com metal e seco sob pressão reduzida.
RESULTADOS:
Com os resultados de análise elementar obtidos pode-se estabelecer a composição estequiométrica C14H30ClNO2Sn, para a qual pode-se propor a formulação [Bu2SnLeuCl] para o complexo preparado, onde Leu corresponde ao ligante L-leucina com a carboxila desprotonada.
No espectro infravermelho do comporto organoestânico observou-se que a banda atribuída ao estiramento assimétrico da carboxila deslocou-se de 10 cm-1 em direção à parte mais alta do espectro, que o estiramento da ligação N-H, passa de 3.100 para 3.150 cm-1, ambas em relação ao espectro da L-leucina livre; e a presença de duas bandas a 555-565 cm-1, atribuídas ao estiramento trans não linear do esqueleto C-Sn-C (Shandu, G. K., Hundal, R.; Tiekink, E. R. T. J. Organomet. Chem., 430, 15, 1992).
Do espectro Mössbauer do complexo foram obtidos os valores: desdobramento quadrupolar Δ = 3,26, desvio isomérico δ = 1,40, ambos em mm s-1, e a relação ρ = Δ/δ = 2,33.
No espectro de RMN de Sn do complexo em água deuterada, tem-se um sinal mais intenso do deslocamento químico δ = -143,6 ppm, e outro, menos intenso, a -96,2 ppm.
Da curva TG do complexo, pode-se verificar que a termodecomposição do complexo ocorre em uma etapa, que termina a 372oC, com perda de massa correspondente a 68,5%.
Na curva DSC do composto, tem-se um pico centrado em 103, 59 oC, em concordância com o ponto de fusão determinado de 107-110 oC.
CONCLUSÕES:
O deslocamento observado na banda atribuída ao estiramento assimétrico da carboxila foi relacionado ao fato que α-aminoácidos livres encontram-se na forma zwitteriônica, o que juntamente com o deslocamento observado na banda da ligação N-H, são indicativos da formação do complexo com o aminoácido ligante coordenado através dos grupos carboxila e amino (V. R. Terra, p. cit.).
Os parâmetros Mössbauer obtidos sugerem uma estrutura na qual o estanho está localizado em sítio com número de coordenação maior que quatro (Omae, I. Organotin chemistry. Amsterdam, Elsevier, 1989). O sinal de maior intensidade no espectro de RMN do complexo é compatível com uma estrutura bipirâmide trigonal para o mesmo (Teles, W. M.; Allain, L. R.; Filgueiras, C. A. L.; Abras, A. Hyp. Int. 83, 175, 1994), enquanto o sinal de menor intensidade foi atribuído a prováveis impurezas produzidas no meio.
Conjuntamente com as informações obtidas do espectro de infravermelho e da composição elementar, propõe-se uma estrutura bipirâmide trigonal distorcida para o complexo preparado, no qual os grupos butila e o nitrogênio do grupo amino da L-valina estão coordenados ao estanho nas posições equatorial, enquanto o radical cloreto e o oxigênio da carboxila do aminoácido ligam-se nas posições axiais.
A perda de massa observada na termodecomposição do complexo é compatível com a sua redução a estanho metálico, enquanto que, da curva DSC foi possível estabelecer que ΔHfusão = 3,27 kJ mol-1.
Instituição de fomento: CNPq, FAPEMIG, UNINCOR e FAMINAS
Palavras-chave:  Compostos diorganoestânicos; L-leucina; Análise térmica de complexos.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004