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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 7. Serviço Social
VIVÊNCIAS DE IDOSOS ACERCA DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO, NUMA PERSPECTIVA DE DIREITOS HUMANOS
Aracely Xavier 1   (autor)   araufes@hotmail.com
Gediane Laurett Neves 2, 3   (orientador)   
Patrícia Valladares 1   (autor)   
1. Graduanda do depto. de Serviço Social da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
2. Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
3. Pós graduada em Gerontologia Social pela Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
No Brasil a população com mais de 65 anos aumentou de 4% em 1940 para 8% em 2000. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) seremos a 6ª nação mais velha do mundo em 2020, com uma população de pessoas acima de 65 anos em torno de 20 à 30 milhões. Este aumento do número de idosos repercute no campo social, quando a maioria dos idosos, não tem condições sociais e econômicas para uma vida de qualidade. Tendo em vista esta questão, alguns grupos sociais e instituições destacam-se na busca da construção da autonomia dos idosos, como a UNATI/UFES (Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Federal do Espírito Santo). Através do módulo Velhice e Sociedade do primeiro período de 2003, procurou-se uma vez por semana, junto aos idosos que faziam parte deste módulo naquele período, abordar e refletir a temática do envelhecimento e suas implicações para este grupo. Esta Pesquisa participante se mostra relevante em vários sentidos: permitir a participação ativa dos idosos e integração entre eles, levar o próprio grupo a reflexões acerca do envelhecimento numa perspectiva de direitos humanos para, assim, provocar transformação da subjetividade desse público quando trazem concepções negativas acerca de ser idoso.
METODOLOGIA:
Participaram da pesquisa, em encontros semanais, 25 idosas do módulo Velhice e Sociedade da UNATI/UFES. Distribuiu-se as idosas em 8 grupos com o intuito de que pesquisassem sobre um dos seguintes temas, que posteriormente seria trazido por elas a todas as participantes no encontro do módulo: O significado do envelhecer, aspectos demográficos e implicações no processo de envelhecimento, políticas sociais voltadas para a terceira idade, a cultura da velhice em diferentes sociedades, os novos arranjos familiares que envolvem a população idosa, a violência contra o idoso, os direitos da terceira idade, o idoso e o mundo do trabalho e a questão da religiosidade. Utilizando-se de dinâmicas de grupo, transparências, textos, revistas, situações vividas por eles mesmos, programas de televisão, entre outros instrumentos, buscou-se, por meio de uma pesquisa participante, valorizar ao máximo as falas e experiências trazidas pelas idosas, gerando discussões e reflexões acerca de cada tema.
RESULTADOS:
Dos 8 grupos, 7 apresentaram seus temas, com a utilização de cartazes, textos, pesquisas bibliográficas, poesias, músicas etc. Em relação ao significado de envelhecer, as idosas fizeram referência a medo e solidão e à busca de amenizá-los por meio do contato com os filhos. As que vivem com o cônjuge sofrem antecipadamente com medo principalmente de seu falecimento, pois relatam que eles se encontram com um estado de saúde mais fragilizado. Em relação a isso foram feitas reflexões que as levaram a considerar a UNATI um espaço onde podem partilhar e elaborar situações difíceis por que passam. Uma das apresentações versou sobre as culturas onde o idoso é visto como mestre, sábio, suscitando as idosas a apontarem ,por seus relatos, que a cultura brasileira não só os desvaloriza, como os desrespeita enquanto cidadãos. A partir dessa questão, refletiu-se sobre propagandas que supervalorizam o jovem colocando-o como um ideal a que todos devem alcançar, negando os que não estão encaixados neste padrão de beleza e comportamento. Foram feitas críticas às iniciativas do poder público que atendem às demandas específicas deste segmento, citando-se a falta de infra-estrutura urbana adequada e fiscalização das instituições asilares. Assinalaram as agressões verbais (insultos e comentários pejorativos) como um dos principais tipos de violência sofrida por eles.A maioria considera a religião importante por esta trazer sentimento de segurança, além de dar sentido às suas vidas.
CONCLUSÕES:
Esta pesquisa desmistifica a visão do idoso como passivo, uma vez que estes se demonstraram ativos, críticos e interessados nos assuntos que lhes dizem respeito, propondo mudanças até mesmo dentro do próprio Programa Universidade Aberta à Terceira Idade por meio de propostas tais como acesso desse público à Biblioteca Central e aos Laboratórios de Informática. Percebeu-se durante as apresentações das idosas que estas efetivamente pesquisaram o assunto e, mais ainda, construíram conceitos e prepararam debates relacionados aos temas propostos. Embora a maioria tenha um conhecimento superficial acerca dos seus direitos, mostraram-se interessados em saber quais são e como reivindicá-los. As idosas trouxeram vários preconceitos que as desvalorizavam, o que é compreensível, uma vez que estão inseridas em uma sociedade que exclui o idoso e que situa nessa faixa etária atribuições bastante negativas, em oposição à supervalorização do jovem como modelo de quem tem vida, vigor, criticidade e possibilidade de mudança. Faz-se necessário o engajamento da sociedade sobre a questão do envelhecimento, para que os direitos dos idosos sejam realmente respeitados, propiciando discussões que primem tanto pela participação ativa do idoso na sociedade, como pela construção de uma representação positiva em relação a ser idoso.
Palavras-chave:  Idosos; Participação ativa; Direitos Humanos.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004