IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde
ESTIGMATIZAÇÃO DA LOUCURA E EXCLUSÃO: A EDUCAÇÃO COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA
Michelle Freitas Teixeira 1   (autor)   mic.teixeira@zipmail.com.br
1. Departamento de Educação II, Universidade Federal do Maranhão - UFMA
INTRODUÇÃO:
(INTRODUÇÃO) A segregação é uma característica marcante na história da humanidade, geralmente relacionada com o estabelecimento de padrões de normalidade, que possibilitam a estereotipagem dos sujeitos. Tais padrões, acabam por legitimar ações desumanas voltadas para os indivíduos que não se enquadram na normalidade adotada. Diante desta realidade, a doença mental é, historicamente, cercada de ações segregadoras e desumanas que, fundamentadas na sua, socialmente estabelecida, não-normalidade, legitimam políticas e ações sociais e institucionais excludentes, compreendendo a doença mental como uma anormalidade que deve ser combatida e excluída do meio social. Diante destes fatos, faz-se necessário uma mudança no entendimento da doença mental, bem como no atendimento psiquiátrico, na maioria das vezes desenvolvido sem o mínimo respeito aos direitos humanos. Tendo como base o trabalho desenvolvido no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Hospital Psiquiátrico Nina Rodrigues, referência na reforma do sistema psiquiátrico em desenvolvimento no estado do Maranhão, e mais especificamente as atividades desenvolvidas na oficina de educação do CAPS, esta investigação teve como objetivo analisar a construção da superação da segregação e da exclusão histórica dos pacientes psiquiátricos, desenvolvida pelo hospital em questão. Bem como, a utilização da educação como forma de terapia, analisando a sua influencia no tratamento dos 30 pacientes participantes da oficina de educação.
METODOLOGIA:
(METODOLOGIA) Desenvolveu-se um estudo de caso, de caráter etnográfico, cujos dados foram colhidos através de observação participante nas atividades diárias, desenvolvidas na sala de aula da oficina de educação do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do Hospital Psiquiátrico Nina Rodrigues, bem como nas atividades e eventos desenvolvidos fora do espaço da oficina e do hospital. Realizou-se entrevistas e conversas informais com pacientes, terapeutas, enfermeiros e com a educadora responsável pela oficina. Realizou-se também, pesquisa bibliográfica sobre doença mental e normalidade, fundamentada nas obras de Foucault (1983) e Laing (1981).
RESULTADOS:
(RESULTADOS) A partir da análise dos dados, constatou-se que apesar de ter um histórico de crueldade no tratamento dos pacientes, o Hospital Nina Rodrigues, tem alcançado resultados positivos na reforma do sistema de atendimento. Os seguintes dados indicam a veracidade desta afirmação: onde até quatro anos funcionava as celas dos pacientes, atualmente existe o Centro de Atenção Psicossocial, onde são desenvolvidas oficinas terapêuticas, dentre elas a oficina de educação; a terapia é recente, antes apenas a medicação servia de tratamento. A utilização da educação na terapia tem resultados positivos: a oficina de educação possibilita o desenvolvimento de atividades fora do hospital, favorecendo o contato social e a superação da segregação; as atividades desenvolvidas na sala de aula da oficina trabalham com as necessidades educativas individuais dos alunos, levam em consideração o ritmo e o nível de cada um, e resultam em uma maior possibilidade de desenvolvimento cognitivo; alguns pacientes, antes analfabetos, já conseguem ler e escrever, o que tem sido significativo para auto-estima destes; os alunos, apesar das dificuldades enfrentadas devido aos efeitos das medicações, vêem na oficina a possibilidade de aprender e utilizar esse conhecimento no seu dia-a-dia. Todavia, a adoção de um padrão de normalidade, arraigado de preconceitos, fundamenta até hoje abusos por parte de funcionários do hospital, amparados pela sua suposta autoridade enquanto “pessoa normal”.
CONCLUSÕES:
(CONCLUSÕES) Diante da necessidade de superação da exclusão dos pacientes psiquiátricos do convívio social, bem como da superação da utilização de métodos desumanos de tratamento, a experiência analisada nos mostra a clara possibilidade de mudança, a partir da utilização da educação como forma de terapia, visto que além de possibilitar o desenvolvimento cognitivo dos pacientes, possibilita também a inclusão social e a superação de uma auto-imagem negativa. Ao trabalhar o desenvolvimento cognitivo dos pacientes, trabalha-se também suas possibilidades de desenvolvimento pessoal e de desconstrução da imagem de pessoa incapaz. No entanto, ainda se faz necessário a desconstrução, também de padrões de normalidade segregadores dentro de todos os espaços sociais, visto que a inclusão social só é realmente possível com o envolvimento de todos os agentes envolvidos na dinâmica social.
Palavras-chave:  doença mental; educação; exclusão.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004