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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa
O ENSINO DE LÍNGUA(GENS) E AS CONCEPÇÕES QUE O EMBASAM
Dagmar Oliveira da Silva Ruiz Lima 1   (autor)   dagmar@unir-roo.br
Lúcia Helena Vendrúsculo Possari 2   (orientador)   lhvp1@terra.com.br
1. Cordenação de Letras, Faculdades Integradas de Rondonópolis - UNIR/FAIR
2. Centro de Pós-graduação, Universidade de Cuiabá - UNIC e Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
INTRODUÇÃO:
O estudo sobre o ensino de língua(gens) e as concepções que o embasam, especificamente no meio acadêmico, foi feito em uma Instituição de Ensino Superior particular, na cidade de Rondonópolis - MT, nos períodos de setembro de 2000 a abril de 2001, com intuito de verificar como se pratica o ensino de linguagens cujo enfoque se presumia instrumentalizar bacharéis de Ciências Contábeis e Ciência da Computação para a língua materna. A pesquisa, em nível de mestrado, objetivou também verificar quais as concepções que embasavam os planos e os programas no que se refere à língua(gem), ao texto, à leitura, ao relacionamento professor-aluno e a materialização ou não nos discursos praticados em sala de aula.
METODOLOGIA:
Para buscar responder a essas indagações, considerei o universo em foco permeado por uma pluralidade de sentidos e o ideário educativo dos dois professores de língua e dos alunos participantes desta investigação fundamentais para compreensão da relação e da comunicação pedagógica, em sala de aula. Nesse sentido, considerei a educação enquanto prática social, optando pelas visões críticas de FREIRE, McLAREN e GIROUX. Tais teóricos me deram sustentação no estudo sobre relacionamento professor-aluno e, também, no ensino de linguagem e comunicação. Nessa direção, considerei linguagem como prática sociointeracionista, dentro da visão bakhtiniana, e ação, numa visão austiniana/searleana. Objetivando desvendar empiricamente as concepções de língua(gens) dos sujeitos, privilegiei a pesquisa qualitativa do tipo etnográfica, uma vez que ela contribuiu significativamente para os objetivos desse trabalho, assim como me permitiu usar como instrumentos os contatos informais, a análise documental e a observação direta. Esses instrumentos possibilitaram-me olhar a sala de aula e a prática pedagógica de forma a atribuir sentidos aos eventos comunicativos, além disso, oportunizaram-me efetivar o processo de análise sob três enfoques: discurso pedagógico (falado e escrito) do professor sobre o ensino de LP; discurso pedagógico prático de LP em sala de aula e os outros discursos, ou seja, as outras linguagens que circularam durante o processo de ensino-aprendizagem.
RESULTADOS:
Os resultados obtidos tiveram aporte nos estudos de três estudiosos da linguagem, os quais me deram sustentação para verificar, nos dados obtidos, a presença das três concepções, a partir das construções de imagens dos sujeitos. De acordo com a classificação das concepções de linguagem de KOCH, GERALDI, POSSARI e NEDER pude detectar as três concepções presentes nos discursos pedagógicos (falados, planejados e práticos) dos sujeitos, ou seja, a concepção que acredita ser a linguagem representação ("espelho"), expressão do pensamento; a linguagem como instrumento ("ferramenta"), meio objetivo para comunicação; a linguagem como forma ("lugar") de ação ou interação verbal. Tanto no discurso pedagógico falado, como no escrito/planejado os sujeitos construíram imagens de si mesmos e dos alunos de forma diferenciadas: um, dentro de uma concepção tradicional de língua e, o outro, numa pretensão de ser interacionista. Já no discurso pedagógico prático, em sala de aula, as metodologias e, conseqüentemente, as emissões reforçavam os conceitos dos sujeitos sobre língua(gens), texto, ensino, relação pedagógica e discurso pedagógico. Quanto à análise dos outros discursos, ou seja, aquelas conversas (não) jogadas fora havia uma circulação de sentidos presentes no ritual de chamada, na interação paralela, nas mídias que circularam marginalmente e no humor.
CONCLUSÕES:
A partir das análises das categorias e das subcategorias supracitadas, pude inferir que: a formação profissional dos sujeitos influencia na prática pedagógica; a disciplina Português Instrumental em Ciências Contábeis pareceu-me ser trabalhada dentro da primeira e da segunda concepções de linguagem; enquanto que a disciplina Redação e Expressão em Ciência da Computação pareceu-me ser trabalhada a partir de discussões acerca da linguagem, dentro de uma visão interacionista, porém havia, ainda, a presença, na prática, da 1ª e da 2ª concepções de linguagem. A relação pedagógica - professor-alunos - de um dos sujeitos revelou ora aceitação, ora recusa ao ensino de LP; enquanto que a relação pessoal revelou interação entre ambos; já a relação social foi tratada como poder. A relação pedagógica e pessoal do outro sujeito pareceu-me mais dialógica, interacionista; a relação social também foi vista como autoridade pedagógica. A comunicação pedagógica de ambos sujeitos reproduz a tendência de caracterizar o espaço escolar como ambiente de estudo expositivo, porém havia em outros momentos quebra de paradigma com a inserção de debates e brincadeiras humoradas. Por último, pude inferir que a formação imaginária de alunos e professores se projetava a partir dos discursos proferidos e das situações empíricas dos sujeitos, na posição de sujeitos do discurso.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Língua(gens); ensino; concepções.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004