IMPRIMIRVOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
“ABAIXO À DITADURA”: O MOVIMENTO ESTUDANTIL NA MÍDIA ESCRITA DO ESPÍRITO SANTO NO ANO DE 1968
Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento 1   (autor)   fgian@uol.com.br
Zeidi Araújo Trindade 2, 3   (orientador)   
Maria Cristina S. Menandro 1, 3   (co-orientador)   
Milena Bertollo 4   (colaborador)   milenabertollo@yahoo.com.br
Rafaela Kerckhoff Rölke 4   (colaborador)   rafaelarolke@yahoo.com.br
1. Pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia/NUPESES/PROCAD/UFES
2. Profª. Drª.do Programa de Pós-graduação em Psicologia/DPSO/NUPESES/PROCAD/UFES
3. Profª do Depto. de Psicologia Social e do Desenvolvimento/NUPESES/UFES
4. Aluna de Graduação em Psicologia/NUPESES/UFES
INTRODUÇÃO:
O ano de 1968, conhecido como “o ano dos estudantes”, tornou-se um marco na história recente do País em função da realização de alguns dos mais importantes movimentos populares, de cunho político, contra o regime militar. Os estudantes foram considerados participantes ativos por iniciarem uma resistência ao projeto de reforma educacional da ditadura e uma luta contra a repressão policial-militar. Buscamos nesse trabalho identificar e descrever como a mídia escrita local se referia aos estudantes, captando elementos da Representação Social do estudante no ano de 1968.
METODOLOGIA:
Utilizamos como fonte publicações sobre estudantes e suas manifestações disponíveis no material produzido pelo jornal A Gazeta – o maior em circulação na época no Estado do Espírito Santo – durante os meses de março a junho de 1968. Foram selecionados artigos que mencionavam as palavras: estudantes, estudantes universitários, estudantes capixabas, manifestações estudantis e jovens estudantes, em todas as edições diárias. Um sistema de codificação foi elaborado de forma a identificar: 1) o artigo em relação ao jornal ( não foram consideradas as sessões de cartas dos leitores e material publicitário) e 2) o conteúdo. Os dados foram categorizados em notícias locais ou nacionais identificando a seção na qual foram publicados, publicação de fotos, publicação de primeira página e editorial. Posteriormente foi realizada uma análise de conteúdo dos dados, buscando desenvolver uma análise temática dos dados. As reportagens foram divididas de acordo com a ordem de ocorrência mensal e associadas aos principais acontecimentos estudantis do período.
RESULTADOS:
Foi encontrado um total de 93 reportagens, sendo 37 referentes a acontecimentos locais e 56 nacionais. Destas, 48 foram publicadas no mês de abril (19 referentes a mobilizações locais e 29 a mobilizações nacionais), reafirmando a importância do episódio do Calabouço, ocorrido no fim de março, que resultou na morte do estudante secundarista Edson Luis, tornando-se o estopim para o movimento estudantil nacional e local. As seções de maior freqüência foram: primeira página do jornal, referentes a 12 notícias locais e a 21 nacionais, e o editorial com 21 artigos se manifestando ora em apoio, ora em repúdio aos estudantes. Em todas as matérias puderam ser observados adjetivos e metáforas utilizadas para caracterizar e qualificar as ações estudantis, nos levando a identificar elementos principais da Representação Social dos estudantes como: o futuro da nação (“deles será a nação”, “responsabilidade de dirigir o país”), ameaça à ordem (“exaltação descabida”, “arruaceiros” “minoria subversiva”), e jovens inocentes que se deixam influenciar por “baderneiros”.
CONCLUSÕES:
Os resultados apontam que os estudantes formavam uma categoria social e eram representados conforme suas ações e características, dependendo do grupo ao qual pertenciam. Dessa forma, puderam ser identificados três grupos dentro dessa categoria: “estudantes” (secundaristas e universitários nacionais e locais), “estudantes capixabas” (secundaristas e universitários) e “líderes” (estudantes, locais ou nacionais, que organizavam as manifestações). Em acontecimentos nacionais o grupo “estudantes” foi representado como: o futuro, a ameaça, a inocência ou todos juntos. Já os “estudantes capixabas” foram representados como o futuro, apontados como diferentes dos demais estudantes do país por suas ações ordeiras, idéias sensatas e por compartilharem elementos da identidade do povo capixaba. Os líderes, tanto no cenário local quanto nacional apresentavam geralmente características ameaçadoras à população e à categoria estudantil. Considerando tais aspectos, podemos apontar que a Representação Social de estudante compartilhava elementos da Representação Social de juventude à medida que os mesmos adjetivos e metáforas eram utilizados para caracterizar tanto jovens quanto estudantes.
Instituição de fomento: CAPES/PROCAD/NUPESES-Núcleo de Pesquisa em Saúde e Exclusão Social
Palavras-chave:  Representação Social; Identidade Social; Movimento Estudantil.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004