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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 5. Psicologia da Saúde
PRESERVATIVO FEMININO: UMA ALTERNATIVA PARA AS MULHERES NA LUTA CONTRA A AIDS
Janaína Mariano César 1   (autor)   janainapsi@hotmail.com
Juliana Soares Rabbi 1   (autor)   jurabbi@ig.com.br
Maria Amélia Lobato Portugal 1   (orientador)   malportugal@uol.com.br
Tatiana Costa Leão 1   (autor)   lthaty@zipmail.com.br
1. Depto. de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
O número cada vez maior de pessoas infectadas no Brasil pelo vírus do HIV, em particular mulheres de baixa renda, com parcerias fixas, tem transformado o controle das doenças sexualmente transmissíveis DST/AIDS em desafio para a Saúde Pública. Diante dessa realidade torna-se relevante atuação de profissionais de Psicologia por meio de espaços de reflexão acerca da sexualidade feminina, como também discussão sobre limitado modelo biomédico para promoção de saúde e prevenção de DST/AIDS. Para intervirmos de modo efetivo junto à população e aos profissionais, torna-se fundamental entender o que pensam sobre as doenças infecciosas, o que já fazem ou não em termos de prevenção e que dificuldades enfrentam. Esta pesquisa teve por objetivo levantar, junto aos profissionais de saúde e as mulheres atendidas em uma Unidade de Saúde (US) da Rede Municipal de Vitória-ES, conhecimentos e atitudes, integrando ao cotidiano dos profissionais práticas de saúde para promoção de sexo seguro e prevenção das DST/AIDS, além de identificar o conhecimento e a aceitabilidade de mulheres, usuárias da US, com relação ao Preservativo Feminino (PF). A investigação traz elementos importantes para as campanhas de prevenção e também para a construção de espaços de diálogo que ultrapassem o silêncio, as determinações histórias sobre as questões de gênero e que ofereçam alternativas para promoção de práticas sexuais seguras.
METODOLOGIA:
A pesquisa teve como campo de investigação uma Unidade de Saúde, inserida no Programa de Saúde da Família (PSF). Utilizamos como metodologia básica de trabalho oficinas e encenação teatral junto às mulheres atendidas pela US escolhida e aos profissionais de saúde que nela atuam. As discussões abordaram temas como sexualidade, DST/AIDS e métodos preventivos, com ênfase no PF. As oficinas funcionaram como um espaço de discussão coletiva, esclarecimentos e trocas de experiências sobre o PF. Através delas foi possível detectar falas e multiplicidade de formas com que cada um vive sexualidade e prevenção. Cada oficina teve a duração aproximada de duas horas, nas quais os participantes dividiam-se em pequenos grupos para debate das questões propostas. Em seguida, acontecia um debate com todo o grupo, com objetivo de sistematizar as discussões. Em um segundo momento utilizamos como instrumento de trabalho entrevistas semi-estruturadas, compostas de perguntas sobre o uso de métodos de prevenção, inclusive Preservativo Feminino, o nível de aceitação, o que pensam, se já o experimentaram, quais as maiores dificuldades e/ou facilidades enfrentadas.
RESULTADOS:
As oficinas e as entrevistas apontam que é possível produzir outras formas de viver a sexualidade. Quando a mulher e os profissionais conseguem ressignificar suas práticas, podem criar estratégias de prevenção e possibilidades de negociação de sexo seguro. Constatamos a dificuldade de falar sobre corpo, vida sexual e principalmente sobre desejo. Algumas mulheres destacam que foi significativo falar sobre si mesmas, o que demonstra historicamente o quanto suas vozes passaram por processos de silenciamento. Os profissionais demonstraram resistência, além de afirmarem estar despreparados para atuação no tema. Sobre o PF, ambos possuíam pouca ou nenhuma informação a respeito. A maior parte nunca havia visto ou tocado, achavam muito grande, feio e desconfortável. Não conheciam a matéria prima nem sabiam como colocá-la. A maioria das mulheres não recebeu orientação sobre o PF na consulta médica, o que aponta a carência de oportunidades para orientação, esclarecimento de dúvidas e acompanhamento sistematizado do uso de métodos contraceptivos e preventivos nas US. Os profissionais relataram a falta de material educativo de apoio adequado, sobrecarga de serviço e falta de investimento na formação dos mesmos.
CONCLUSÕES:
Percebemos que as oficinas e as entrevistas deram voz à desejos silenciados e potencializaram a construção de novas identidades para o feminino e o masculino. Forneceram, ainda, dados importantes para a compreensão do campo de discursos acerca da sexualidade. As falas coletadas nas oficinas realizadas, apontam a importância de poder falar e ser ouvido, o desconhecimento da mulher sobre o seu próprio corpo, a importância em fortalecer ações preventivas. Os resultados demonstram a insuficiência dos espaços dentro das US, como no Planejamento Familiar, para orientação e acompanhamento das mulheres quanto à métodos de prevenção, além de não darem voz aos seus desejos e medos. Fica claro a importância de um trabalho específico com os profissionais de saúde sobre pré-conceitos em relação ao PF, dificuldades de trabalhar assuntos como a sexualidade e de investir na mulher enquanto protagonista de sua história, portanto, agente de sua própria saúde. Através das falas das mulheres entendemos que quanto menor poder de negociação tem a mulher, mais difícil é para ela evitar os riscos de se infectar. Diante desse quadro é preciso que o modelo biomédico e tecnicista amplie e reformule suas práticas, contribuindo para a desconstrução desse lugar de submissão do saber-poder ocupado pela mulher, proporcionando a construção de espaços de diálogo sobre conhecimentos em saúde para que informações sejam fomentadas e compartilhadas.
Instituição de fomento: CNPQ - Processo PIVIC
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Prevenção DST/AIDS; Preservativo feminino; Mulheres, profissionais de saúde.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004