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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
ALFABETIZAÇÃO, CULTURA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA RIBEIRINHA DOS ASSENTADOS
Domingas Luciene Feitosa Sousa 1   (autor)   luciene@feitosa.org
Carlos Adriano Feitosa Sousa 2   (colaborador)   carlos@feitosa.org
Lucileyde Feitosa Sousa 1, 3   (orientador)   lucileyde@feitosa.org
1. Graduanda do Curso de Pedagogia, Universidade Federal de Rondônia - UNIR
2. Graduando do Curso de Administração Pública, Faculdade de Educação de Porto Velho - UNIPEC
3. Pesquisadora do Projeto Beradão, Universidade Federal de Rondônia - UNIR
INTRODUÇÃO:
Este trabalho advém do Projeto Alfabetização de Jovens e Adultos nos Assentamentos da Reforma Agrária em Rondônia: Projeto de Desenvolvimento Sustentável PDS Nazaré/Boa Vitória (Porto Velho) e Nova Mamoré, realizado em 2002/2003, sendo priorizada para esta 56ª Reunião Anual a apresentação dos resultados obtidos no PDS Nazaré/Boa Vitória. O objetivo dessa investigação consistiu em fortalecer a educação nos assentamentos rurais, utilizando metodologias específicas para o campo que contribuam para o desenvolvimento sustentável na Amazônia através do PRONERA - Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária _ desenvolvido pela primeira vez numa área ribeirinha, ambiente caracterizado pela pequena produção agrícola, plantações perenes como açaí, pupunha, cupuaçu, além da pesca de subsistência, construção de embarcações e com destaque a produção de farinha. Diante da implementação de um projeto de desenvolvimento sustentável em área de assentamento com característica ribeirinha, tornou-se desafiador capacitar 15 pessoas, na condição de monitores, para alfabetizarem os próprios moradores, já que o índice elevado de analfabetismo impossibilitava a chegada de projetos visando ao desenvolvimento local e sustentável.
METODOLOGIA:
Partiu-se de um processo dialógico da linguagem, a fim de mostrar a diversidade cultural existente nesta área de assentamento, bem como às relações sociais estabelecidas, sendo uma organização diferenciada da urbana no qual o viés maior foi o fortalecimento da identidade cultural dos sujeitos partindo das narrativas orais ao trabalho de produção de texto. Assim, foram oferecidos nas capacitações elementos teórico-práticos a partir de uma visão sócio-interacionista, sustentada nas contribuições de Paulo Freire, Walter Benjamin, Vygotsky, Mikhail Bakhtin, João Loureiro e Pedro Demo que se completam e nos trazem uma nova concepção de mundo, de homem, de cultura amazônica, de linguagem e de aprendizagem. Tais cenários teóricos contribuíram para enriquecer a experiência dos monitores, a prática pedagógica foi construída e reelaborada de modo crítico onde se voltou para um projeto maior de cidadania, evidenciada através da sustentabilidade cultural do grupo expressa nas narrativas orais sobre a Cobra grande, Curupira, Fogo fátuo, Boto as quais fazem parte do modo de vida e organização dessa população, excluída, em sua essência dos projetos governamentais. A riqueza das narrativas, posteriormente escritas pelos monitores, aliada a uma proposta sócio-interacionista da linguagem, continuará propiciando uma formação includente ao monitor, pois este será militante da mudança, a partir do momento que compreende a sua realidade e, atuando sobre ela, poder transformá-la sem excluir as marcas culturais do grupo.
RESULTADOS:
As capacitações realizadas, um total de 10, contribuíram para aguçar uma visão mais crítica a respeito da educação, do ato de alfabetizar, ampliando espaços de interlocuções tão necessários na formação de educadores, mas é preciso criar espaços destinados à leitura, a contação de histórias e a produção escrita, sendo esta pensanda, escrita e reescrita a partir da realidade sociocultural do monitor de modo que este participe plenamente do processo de alfabetização sendo capaz de pensar, analisar, e formar cidadãos. Ao relatarem às suas próprias narrativas, tanto monitores como alfabetizandos, estarão dando uns aos outros a oportunidade de escreverem as suas histórias, mantendo vivo o diálogo significativo, produzindo sonhos e exercendo dessa forma a cidadania.
CONCLUSÕES:
Os Projetos de alfabetização na Amazônia, especialmente na área investigada (PDS Nazaré/Boa Vitória) não devem ser esporádicos; é preciso ter sustentabilidade institucional, acompanhamento adequado, respeito ao dialeto e mitos dos envolvidos, contribuindo para o surgimento de textos repletos de vivências, de conteúdos significativos ao grupo em geral, sendo material altamente relevante no contexto da alfabetização de jovens e adultos em especial nas áreas ribeirinhas.
Instituição de fomento: Fundação Rio Madeira - RIOMAR
Palavras-chave:  Alfabetização/cultura/sustentabilidade; Interacionismo; Narrativas orais/escrita/leitura.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004