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G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
MÉTODO FILOSÓFICO E LITERATURA EM J.P. SARTRE
Anderson de Araújo 1   (autor)   anderaujo@yahoo.com.br
Noeli Dutra Rossatto 1   (orientador)   rossatto@fatec.ufsm.br
1. Depto. de Filosofia, Univesidade Federal de Santa Maria - UFSM
INTRODUÇÃO:
O francês Jean-Paul Sartre oscilou sua ação intelectual entre a atividade filosófica, literária e mesmo política, tanto que em sua obra esses âmbitos estão intimamente interligados. Dada esta peculiaridade, a presente pesquisa propõe reconstruir o método fenomenológico em Sartre através da análise do texto-novela A náusea, evidenciando os elementos teóricos de A Transcendência do Ego que nele estão presentes e apresentando alguns pontos relevantes para a sua compreensão, sistematizados em sua posterior obra magna: O Ser e o Nada. Selecionou-se esses textos por que possuem uma certa unidade temática. Eles fazem parte da fase de forte inspiração fenomenológico-existencialista de Sartre, ou seja, são constituintes do primeiro período sartriano no qual a sua teoria existencialista tomou forma e influiu grandemente as discussões do século XX.
METODOLOGIA:
O estudo baseou-se na análise comparativa entre os textos-base da pesquisa e textos de autores clássicos, tais como, Kant, Husserl e Heidegger, buscando compreender os mesmos com o auxilio do instrumental habilitado pela semântica, pela hermenêutica, pela epistemologia semiótica e pela história dos modelos e das mentalidades. Desta forma, os resultados foram projetados segundo uma teoria de modelos, que limita a interferência de significados alheios ao modelo estudado e que, por conseqüência, faz com que o significado do modelo determine o mundo possível a que se refere o autor estudado.
RESULTADOS:
Seguindo o caminho do personagem principal de A náusea, Antoine Roquentin, verificou-se que ao longo da narrativa ele como que “encarna” o método fenomenológico, evidenciando alguns de seus passos, a saber, a epoché e a redução eidética, que são motivados por questões de ordem existencial. A náusea, sentimento de constatação do absurdo da condição humana, é o móbile da atitude fenomenológica. Ressalta-se que não há passagens indicando a redução transcendental, o que é consoante às criticas feitas por Sartre em A transcendência do Ego ao conceito de eu transcendental como constituinte da consciência. A consciência passa a fundar-se no nada, ou melhor, ela é um vazio de ser, unifica-se no objeto e, mais, o próprio Eu é um objeto posto pela consciência. Isso faz com que a ação humana não tenha um sentido intrínseco, ela é livre; e, por extensão, surgem críticas a noção de história em detrimento da possibilidade de uma autêntica narrativa existencial. Tudo isso se alia à noção de Eu, pensado em toda a filosofia moderna como substância separada. Na medida em que o romance avança, Roquentin têm cada vez mais dificuldades de estabelecer uma relação com as coisas e, sobretudo, com as pessoas. Surge aqui a pergunta: Como é possível conhecer o outro? Eis o problema do solipsismo, que é um dos temas centrais formulados por Sartre em O ser e o nada.
CONCLUSÕES:
A análise mais acurada da presença dos aspectos do método fenomenológico no interior de A náusea mostra que os mesmos aos poucos podem ser desvelados a partir das situações relatadas no diário pelo personagem central, o atormentado Antoine Roquentin. Desse modo, Sartre estaria transpondo mais uma vez para o campo das possibilidades reais da literatura suas considerações a respeito de seus precursores no método fenomenológico. E, além disso, também se percebe que a formulação sartriana do método está estritamente relacionada com as suas demais teses existenciais.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave:  Fenomenologia; Existencialismo; Literatura.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004