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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL
Ahyas Siss 1, 2   (autor)   ahyas@yahoo.com.br
1. MESTRADO EM EDUCAÇÃO – PROFESSOR TITULAR - UNIVERSO
2. PEDAGOGIA – PROFESSOR ADJUNTO - UNICARIOCA
INTRODUÇÃO:
Nesta pesquisa identifico, analiso e caracterizo a importância, ou não, do lugar que a formação de professores, tanto inicial quanto continuada ocupa na sociedade brasileira, sob o foco do multiculturalismo. Sua relevância prende-se ao fato de que, sendo o Brasil um país de dimensões continentais, com um passado escravista de mais de trezentos e cinqüenta anos e que possui hoje mais de 160 milhões de habitantes de acordo com o último censo realizado, cuja população é constituída majoritariamente por afro-brasileiros; em um país assim definido, a formação inicial e continuada de professores deveria ocupar lugar destacado no contexto das políticas educacionais. O professor pode, desde que instrumentalizado, desempenhar o importante papel de desmistificar as visões estereotipadas e as ideologias racistas veiculados pelos diversos materiais didáticos. A clientela da escola pública é diversificada e seu maior segmento é composto por alunos de origem afro-brasileira. Cabe, pois, aos cursos e faculdades de formação de professores instrumentalizar o professor para a prática docente no seio de uma sociedade plural pois, a ele caberá, nas salas de aula explicitar - sem hierarquizar - as diferenças raciais, culturais, econômicas e de gênero de seus alunos, transformando as salas de aula e, por conseguinte, a Instituição escola, em um espaço democrático, espelho da riqueza humana.
METODOLOGIA:
A pesquisa é qualitativa. Os dados aqui utilizados foram coletados partindo-se de procedimentos distintos como: revisão teórica, conceitual e histórica das lutas e ações emancipatórias coletivas afro-brasileiras expressas em seus jornais e documentos históricos; da aplicação de questionários à professores das educações básica e superior contendo perguntas abertas e fechadas que dizem respeito às interseções da variável raça com a formação social brasileira e com a formação acadêmica de 89 (oitenta e nove) docentes que atuam, tanto na educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio -, como também na esfera da educação superior – alguns, inclusive, em programas de Pós-graduação. Entrevistas com lideranças afro-brasileiras, também foram realizadas. Utilizei-me ainda, das análises bibliográfica e documental dos atos do governo representados por suas diversas agências e segmentos. O emprego da análise de discurso foi-me fundamental para que pudesse operar a decodificação do conteúdo implícito nas informações coletadas. A delimitação geográfica do universo desta pesquisa restringiu-se a quatro cidades do estado do Rio de Janeiro, com ocasionais incursões a outros Estados da federação, quando as circunstâncias da pesquisa assim o exigiram.
RESULTADOS:
Do universo total analisado, 95.5% dos docentes concordam que a sociedade brasileira é multicultural. 88.7% deles afirmam possuir nas suas turmas, alunos de origem afro-brasileira; 70.7% disseram já ter presenciado algum tipo de manifestação de preconceito ou de discriminação com base na raça ou cor de seus alunos ou alunas no cotidiano escolar. Uma maioria significativa dessa amostra (77.5%) afirma que o programa curricular de seu curso de formação não contemplava questões relativas ao binômio raça-formação de professores; por esse motivo não possuíam qualquer instrumental teórico-acadêmico que lhes possibilitasse atuar de forma satisfatória, frente a situações de preconceito ou de discriminação racial na escola ou na sociedade abrangente. É possível perceber-se aqui que os professores não são instrumentalizados para trabalharem com a realidade multicultural e plurirracial de seus alunos, o que, sem dúvidas obstaculiza, não só a otimização de sua prática pedagógica, como também a aprendizagem de seus alunos em níveis desejáveis. Por outro lado, essa ausência de instrumentalização teórica impossibilita a elaboração de uma crítica, por parte dos professores, aos estereótipos e à ideologia veiculados pelos diversos recursos pedagógicos colocados à sua disposição. Por conseguinte e não obstante os anos de prática educativa desses profissionais, mantém-se uma prática educativa divorciada da realidade nacional e extremamente danosa aos afro-brasileiros.
CONCLUSÕES:
Um dos principais desafios que vêm se colocando em sociedades como a brasileira, que é seguramente multicultural, mas que se pensa e se representa como se fosse monocultural é o de saber como educar para uma sociedade diversificada, respeitando-se as diferenças. Isso implica em uma mudança de atitudes e de valores. Apenas reconhecer-se o caráter diversificado da nossa sociedade é muito pouco, como também não basta que os professores e as instituições escolares reconheçam a diversificação da sua clientela, seja por gênero, por classe, por raça e que possuem culturas diferentes. Isso já é sobejamente conhecido. A simples presença física de seus alunos evidencia isso. Se esse reconhecimento não se fizer acompanhar por políticas de respeito aos diferentes e por uma mudança de atitudes frente a eles, dificilmente essa escola será capaz de criar mecanismos potentes para transformar as relações de dominação e de exclusão, tanto no seu interior, quanto na sociedade ampliada.
Instituição de fomento: CAPES
Palavras-chave:  FORMAÇÃO DE PROFESSORES; AFRO-BRASILEIROS; MULTICULTURALISMO.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004