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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
COMUNIDADE DE DIPTERA (ARTHROPODA: INSECTA) ASSOCIADA À COPA DE Attalea phalerata MART. (ARECACEAE) NO PANTANAL DE POCONÉ - MT
Augusto Cesar da Costa Castilho 1   (autor)   a_cesar@cpd.ufmt.br
Cláudio de Oliveira Neves 1   (autor)   lordinsector@hotmail.com
Leandro Dênis Battirola 2   (autor)   ldbattirola@uol.com.br
1. Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT
2. Depto de Zoologia, Universidade Federal do Paraná - UFPR
INTRODUÇÃO:
As árvores são consideradas importantes modelos de habitats no estudo de ecologia de comunidades por abrigarem organismos que atuam na manutenção da diversidade, resiliência e funcionamento de florestas (NADKARNI 1994). Entre os diversos habitats oferecidos por uma árvore, a copa talvez seja o que desperta maior interesse, principalmente nas florestas tropicais úmidas, tendo sido chamadas de "a última fronteira biológica" (ERWIN 1982). Embora Diptera constitua um dos grupos dominantes em amostragens de comunidades de artrópodes arbóreas, contribua para o funcionamento da comunidade em vários níveis tróficos, principalmente nas relações presa-predador, e participa de significantes interações nesse habitat, é sub-aproveitado em estudos taxonômicos, sendo classificado com "turista" (DIDHAM 1997). Esse termo foi utilizado por MORAN & SOUTHWOOD (1982) para definir aquelas espécies que não apresentavam uma íntima associação com a planta hospedeira. No entanto estes mesmos autores corroborados por STORK (1991) afirmam que mesmo Diptera sendo "turista" contribui integralmente com as interações existentes na copa das árvores por atuar como predador, parasitóide e fitófago. Dessa maneira, este estudo objetivou avaliar a comunidade de Diptera associada à copa de Attalea phalerata Mart. (Arecaceae) durante o período de cheia no Pantanal mato-grossense, em área manejada e não manejada, bem como inferir sobre os padrões de ocorrência desse táxon nessa região.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado na Fazenda Retiro Novo, Nossa Senhora do Livramento-MT, entre os paralelos 16º15'24' e 17º54' 32' de latitude sul e 56º36' 24' e 57º36' 24' de longitude oeste. Para as amostragens durante o período de cheia, foram utilizados três exemplares de A. phalerata empregando-se o método de "canopy fogging", que consiste em nebulizar copas de árvores utilizando-se piretróides sintéticos, seguindo-se os critérios propostos por ADIS et al (1998). Uma das palmeiras selecionadas encontrava-se em uma área não manejada e as outras duas em área utilizada como pastagem. O inseticida utilizado, Lambdacialotrina a 0,5%, foi diluído em óleo diesel, sendo que para cada dois litros de óleo adicionou-se 20 ml de inseticida, correspondendo à concentração de 0,1%, associado ao sinergista (DDVP) 0,01%. Os procedimentos de nebulização ocorreram às 6:00 horas da manhã, horário escolhido pela baixa intensidade da circulação do ar, permitindo que a nuvem de inseticida subisse vagarosamente através do dossel. Em cada árvore amostrada realizou-se uma fumigação e três subseqüentes coletas. A primeira coleta realizada duas horas após a aplicação do inseticida, tempo recomendável para sua ocorrência e a segunda, duas horas após a copa ter sido sacudida com ajuda de cordas amarradas a suas folhas e a terceira, após o corte e lavagem de todas as folhas das palmeiras. Em laboratório o material coletado foi identificado ao nível taxonômico de família.
RESULTADOS:
Em três palmeiras de A. pharerata foram obtidos 2149 indivíduos adultos de Diptera distribuídos em 17 famílias, sendo Cecidomyiidae (693 ind.;32,2%) a mais representativa, seguida por Chironomidae (543 ind.;25,3%) e Sciaridae (286 ind.;13,3%). Sarcophagidae (3 ind.;0,1%) e Tephritidae (1 ind.; >0,1%) as menos representativas. Comparando-se a média de indivíduos obtidos nas palmeiras da área manejada, com a abundância registrada na área não manejada, observa-se uma maior abundância na área sem manejo, com 1027 indivíduos distribuídos em 15 famílias, com predomínio de Cecidomyiidae (407 ind.), e na área manejada, 561 indivíduos distribuídos em 17 famílias, sendo Chironomidae (190,5 ind.) a mais representativa. Apesar do índice de similaridade de Sorensen modificado por BRAY & CURTIS (1957) c.f. MAGURRAN (1988) apresentar diferença entre as áreas avaliadas (Cn=0,637), a análise de variância não demostrou-se significativa (p > 0,05). As larvas da maioria das espécies de Cecidomyiidae vivem em plantas, onde formam cecídias, outras espécies ocorrem sob a casca de árvores, plantas em decomposição ou em fungos (BORROR & DELONG 1988). Segundo BATTIROLA (2003) e SANTOS et al. (2003) as bainhas foliares de A. phalerata permitem o acúmulo de matéria orgânica, oriundo da própria copa, como restos de folhas, flores e de outros organismos, o que pode explicar a predominância de Cecidomyiidae, pois podem ocupar esses ambientes como local propício à reprodução.
CONCLUSÕES:
A análise de variância demonstrou não haver diferença significativa na composição da comunidade de Diptera nas três palmeiras amostradas de A. phalerata, bem como na comparação entre a área manejada e não manejada. No entanto a área manejada apresentou a maior riqueza de famílias. As famílias predominantes neste estudo foram Cecidomyiidae, Chironomidae e Sciaridae, diferenciando-se dos resultados obtidos por DIDHAM (1997) em Floresta Temperada na Nova Zelândia, com predomínio de Mycetophilidae (72%) Sciaridae (14%) Ceratopogonidae (3%). O acúmulo de matéria orgânica nas bainhas foliares de A. phalerata propicia o surgimento de um microhabitat importante para os detritívoros.
Palavras-chave:  Diptera; Copa; Pantanal.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004