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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
O NOVO PÓLO AUTOMOBILÍSTICO DE GRAVATAÍ E SUAS REPERCUSSÕES LOCAIS
Sandro Ruduit Garcia 1   (autor)   sandroruduit@ig.com.br
Sônia M G Larangeira 1   (orientador)   
1. Programa de Pós-Graduação em Sociologia, IFCH - UFRGS
INTRODUÇÃO:
A virada para o século XXI marca a transfiguração da indústria automobilística no Brasil. O relativo esgotamento dos mercados consumidores nos países ricos, bem como o amplo conjunto de incentivos federais, estaduais e municipais, promovido no âmbito do Novo Regime Automotivo de dezembro de 1995, estimularam um novo ciclo de investimento direto estrangeiro (IDE) no país, materializado na reestruturação de plantas montadoras já existentes, na fusão de empresas de autopeças nacionais e estrangeiras e na instalação de novos pólos automobilísticos, fora da região do ABC Paulista. O município de Gravataí (RS) recebeu uma unidade montadora da General Motors do Brasil (GMB), cuja operação iniciou-se no mês de julho de 2000, que utiliza, além de fornecedores de sistemas (“sistemistas”), localizadas no pátio da montadora (Condomínio Industrial), firmas instaladas na região (empresas locais) e fora dela, para o fornecimento de peças, insumos e serviços. O objetivo central deste trabalho consiste em examinar as características do novo pólo automobilístico de Gravataí, liderado por uma unidade montadora da GMB, e suas repercussões na localidade, mormente para as empresas e para os trabalhadores do setor metal-mecânico (evolução do PIB, número e tamanho dos estabelecimentos, nível de emprego, rendimento, instrução, idade, sexo, tipo de vínculo e carga horária de trabalho).
METODOLOGIA:
O estudo apóia-se em dados primários e secundários. Realizaram-se entrevistas com informantes da GMB, de empresas sistemistas e do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, tendo em vista apreender as condições de instalação da montadora no Estado, as características tecnológicas e organizacionais do Condomínio Industrial e as condições de emprego e de trabalho da mão-de-obra. Complementando as entrevistas, visitou-se o chão-de-fábrica da montadora. Como fontes secundárias, coletaram-se informações na base de dados RAIS/ MTE (Relatório Anual de Informações Sociais), relativamente ao número e tamanho dos estabelecimentos, nível de emprego, rendimento, instrução, idade, sexo, tipo de vínculo e carga horária de trabalho, no setor metal-mecânico (indústria metalúrgica, mecânica e de fabricação de peças e acessórios para veículos automotores). Tais informações foram coletadas sobre o estado do Rio Grande do Sul e sobre municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, tendo em vista apreender mudanças no setor metal-mecânico local, em razão do início da operação da GMB no ano de 2000. Outras fontes secundárias foram consultadas para a obtenção de informações sobre a evolução do PIB, sobre os acordos e contratos coletivos de trabalho, sobre as condições de mercado, sobre as características tecnológicas e organizacionais e sobre as condições de emprego, no setor em estudo.
RESULTADOS:
Observou-se que o novo pólo automobilístico apresenta níveis de fornecimento. No primeiro, estão 17 fornecedoras exclusivas de sistemas para a GMB (sistemistas). No segundo nível, situam-se as empresas fornecedoras de peças isoladas, insumos, serviços e mão-de-obra, para a GMB e para as sistemistas, no qual se inserem as empresas locais (eram 69 empresas em 2000, passando a 462 em 2003). O acordo coletivo de trabalho, firmado entre GMB e Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí, prevê condições de emprego e de trabalho, inclusive remuneração, diferentes entre montadora e sistemistas. As empresas fornecedoras locais mantêm contrato coletivo de trabalho pactuado separadamente. Os efeitos do novo pólo automobilístico sobre a indústria metal-mecânica local limitam-se às empresas situadas nos municípios de Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Novo Hamburgo e São Leopoldo, os quais já contavam com parques industriais sedimentados. Nestes casos, houve ampliação do PIB municipal, bem como estadual. O número de estabelecimentos cresceu, especialmente as micro e pequenas empresas. O emprego expandiu-se no setor, mas com tendência de redução do rendimento dos trabalhadores. A escolarização elevou-se. A estrutura etária da mão-de-obra vem mudando: cresce o número de jovens e dos trabalhadores mais velhos, em detrimento da faixa intermediária. Não foram observadas alterações significativas na carga horária, no tipo de vínculo dos trabalhadores e na distribuição por gênero.
CONCLUSÕES:
Portanto, o novo pólo automobilístico de Gravataí cerca-se de uma plêiade de fornecedores bastante diversificada. O modesto número de fornecedores locais que operavam junto à GMB e às sistemistas ampliou-se ao longo dos seus três anos de operação, indicando que à medida que os fornecedores locais vão se capacitando, passam a ocupar o espaço de fornecedores externos. A questão é saber como será possível a reestruturação dos fornecedores locais, posto que a GMB e a sistemistas não desenvolvem programas de capacitação, limitando as possibilidades de inserção das empresas locais, especialmente as de menor porte. O novo pólo significou a ampliação do emprego em setores e regiões localizadas, mas não melhorou a sua qualidade, devido às pressões da GMB por baixos custos sobre as empresas locais. Vale notar que nem mesmo no âmbito do condomínio industrial os empregos têm as mesmas características. Tal é, no entanto, a complexidade de tais questões que elas não podem ser abordadas em termos dicotômicos: as repercussões locais decorrentes dos novos pólos automobilísticos são positivas ou negativas? Em lugar disso, é preciso pensá-las, sociologicamente, em termos de implicações ambivalentes, de avanços e de retrocessos, de processos conflitivos e não lineares.
Instituição de fomento: CNPq
Palavras-chave:  indústria automobilística; cadeias produtivas; transformação local.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004