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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
RELAÇÕES SEXUAIS EM UM PRESÍDIO FEMININO
Margareth Pereira Bergamin 2   (autor)   mbergamin@yahoo.com
Luziane Zacché Avellar 1   (orientador)   -
1. Profa. Dra. Depto de Psicologia Social e do Desenvolvimento- UFES
2. Graduanda de Psicologia, Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
INTRODUÇÃO:
Um dos obstáculos enfrentados pelas detentas, no Brasil, é a discriminação no que tange à sexualidade e ao direito a visitas conjugais. Apesar das mulheres terem conquistado o direito a essas visitas - concedidas a parceiros heterossexuais com uniões estáveis comprovadas -, poucas instituições as permitem, alegando falta de infra-estrutura e preocupação com a possibilidade de gravidez das detentas ou com a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis. Tendo isso em vista, essa pesquisa tem por tema as relações sexuais das presidiárias no sistema penitenciário feminino, sendo aqui investigado como a detenção interfere nessas relações, analisando freqüência, tipos de práticas sexuais e a preferência pelo sexo do parceiro. A realização dessa pesquisa deve-se à necessidade de um estudo mais detalhado sobre a sexualidade das detentas.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada no Presídio Feminino de Tucum, Cariacica, Espírito Santo. Inicialmente, foi realizada entrevista com a assistente social do presídio, objetivando a obtenção de dados sobre a rotina geral das detentas e sobre as visitas conjugais. Posteriormente, foram realizadas, individualmente, entrevistas semi-estruturadas com nove sujeitos, utilizando como critério de escolha o tempo de condenação (um ano e meio a oito anos). Essas entrevistas foram gravadas e transcritas. A análise dos dados se deu de forma qualitativa. Para um melhor estudo metodológico, foi considerada a vida sexual da presidiária analisando-a em dois momentos: antes e após a detenção. Baseadas nos relatos das detentas, quatro categorias foram criadas para ambos os momentos: heterossexual, homossexual, bissexual e celibatária, sendo que, após a detenção, era acrescentada a categoria homossexual por força das circunstâncias, uma vez que essa era específica desse período. Também foram observadas mudanças ocorridas na freqüência das relações sexuais e das atividades masturbatórias.
RESULTADOS:
Dos nove sujeitos entrevistados, apenas um mudou sua preferência sexual durante a internação, de heterossexual para homossexual. Quatro sujeitos continuaram a manter relações sexuais após a internação, sendo que dois se classificaram como homossexuais e passaram a estabelecer relações com outras presidiárias e os outros dois se disseram heterossexuais e recebem visitas regularmente. As outras quatro entrevistadas, apesar de manterem sua preferência sexual, sendo todas heterossexuais, deixaram de ter qualquer tipo de atividade sexual, inclusive a masturbatória, após a internação, sendo classificadas, portanto, como celibatárias. Dentre as mulheres que mantêm uma vida sexualmente ativa dentro do presídio, a maioria disse que a freqüência das relações sexuais diminuiu, com exceção de um sujeito, que se disse homossexual e passou a manter relações sexuais com várias outras detentas. Com relação à freqüência da atividade masturbatória, pode-se concluir que para seis presas essa prática permanece inalterada, sendo que dentre estas, uma disse que se masturba raramente e as demais se abstêm dessa prática. Duas presidiárias relatam que houve diminuição desta prática. Apenas um sujeito disse que a freqüência de atividades masturbatórias aumentou devido à diminuição da freqüência de relações sexuais. Não foram encontrados sujeitos que se enquadrassem nas categorias de bissexual e de homossexual por força das circunstâncias.
CONCLUSÕES:
A interferência que a internação pode ter na reopção sexual não foi confirmada de forma significativa, porém, quando ocorre essa mudança, ela é influenciada pela carência afetiva, solidão e abandono. O celibato ocorre devido à dificuldade de encontrar parceiros ou a uma escolha pessoal, sendo comprovado que muitas detentas deixam de ter qualquer tipo de atividade sexual. A principal interferência verificada se deu quanto a freqüência das relações sexuais, principalmente a diminuição, sendo esta justificada pelas visitas íntimas só ocorrerem semanalmente ou pelos companheiros não conseguirem viabilizar suas visitas ao presídio. O aumento da freqüência, que ocorreu no sujeito que se declarou homossexual, se deu pelo constante contato com diversas mulheres. Também foi comprovada uma diminuição das práticas masturbatórias, atribuída à falta de privacidade ou a abstenção voluntária. As categorias bissexual ou homossexual por força das circunstâncias não apareceram e não foi possível verificar a interferência do tempo de internação no problema pesquisado. Foi confirmado, então, que a internação interfere nas relações sexuais das presidiárias, alterando a freqüência e as práticas masturbatórias e fazendo com que algumas abandonem qualquer tipo de atividade sexual, reformulando seus estilos de vida e redirecionando suas escolhas, visto que o mundo social delas se encontra drasticamente reduzido, ficando limitado ao universo carcerário.
Palavras-chave:  relações sexuais; penitenciária feminina; homossexualismo.

Anais da 56ª Reunião Anual da SBPC - Cuiabá, MT - Julho/2004